As outras pandemias
O internacional coronavírus prossegue quase impune a caminhada assassina sem certezas como o estripar e já se anuncia outro, para Outubro, mais perigoso ainda, algo que se pensava impossível face à dizimação causada pelo actual.
O coronavírus, surgido oficialmente na China, mas que rapidamente galgou fronteiras para cobrir os restantes países de medo, dor e luto, só por ele, como se sabe, foi suficiente para “virar o mundo do pernas para o ar”, pondo a nu, a vários níveis, as fragilidades humanas, numa versão ampliada da crise económica que o antecedeu.
O panorama mundial demonstra não haver países que estivessem minimamente preparados para defrontar o inimigo tão feroz como a Covid-19, menos, ainda, o próximo anunciado como mais destruidor. Mas, mesmo que não se confirme que o presente coronavírus passa a ter, em breve, novo aliado, jamais o mundo volta a ser o mesmo. Há hábitos, bons e maus, ganhos à força da pandemia e a tudo o que ela obrigou que desapareçam, pelo menos, tão cedo, do quotidiano da maioria das pessoas. Até países tidos como arautos da modernidade não escaparam aos efeitos dela. Curiosamente, ou talvez não, alguns deles são os que registam maiores marcas da doença. Não tanto por falta de meios, antes pela arrogância de quem os dirige, com reflexos de toda a natureza, a nível interno e externo, especificadamente em Estados menos desenvolvidos, logo mais dependentes de importações.
Angola, por motivos sobejamente conhecidos, dependente de vários produtos, alguns deles podia, inclusive, vender, mas continua a comprar, como é o caso, entre tantos, do azeitepalma, indispensável à mesa da maioria de nós. Valhanos saber que quem está à frente dos destinos do nosso país não apenas está ciente desta situação, como não perde tempo na tomada de atitudes destinadas a minimizar - não disfarçar, hábito de passado recente que alguns teimam em manter - as nossas fragilidades.
Com o coronavírus foi assim. Ainda ele andava longe a aterrorizar populações indefesas, quando Angola optou por decisões, na altura ignoradas lá fora, impeditivas que a situação entre nós seja mais gravosa, mesmo que, por questões óbvias, estejam aquém das ideias, mas tendo sempre como prioridade a salvaguarda a saúde, sem a qual não há desenvolvimento económico, alavanca indispensável para o bem-estar social. A aposta na agricultura, principalmente a familiar, com apoios indispensáveis para se desenvolver e manter, está em andamento e, desde que não surjam “corpos estranhos” que a estrangulem, pode vir a revelar-se essencial no equilíbrio da “balança das importações e exportações”, forma de haver mais gente a consumir o que agora não pode devido aos preços de venda ao público do que é adquirido no estrangeiro. Mas, convém lembrar, “Roma e Pavia não se fizeram num dia”.
A desejada diversificação da economia pode começar pelo campo, mas vamos devagar, que “a pressa é má conselheira”, não se queira, agora, fazer de uma só vez o que nunca se fez e desatarmos a “diversificar” em vários sectores ao mesmo tempo. Tenhamos os pés bem assentes no chão para não sermos surpreendidos por qualquer armadilha. E preparemonos para tempos dificílimos que se aproximam, mesmo sem outro coronavírus, até sem nenhum. O que se tem investido na luta contra a pandemia tem custos elevados que hão-de ser pagos por todos. Os compatriotas que vamos - e bem buscar lá fora, aqueles que, por múltiplas razões não produzem, estão em casa a receber o mesmo que recebiam se estivessem a trabalhar, desempregados, pessoal de saúde que contratámos, medicamentos que importamos, as despesas das empresas fechadas ou a funcionar “a meio gás”, o que ainda temos e podíamos não ter, tudo sem juros tem juros.
O “tempo das vacas gordas” já era. Há outras pandemias.
Tenhamos os pés bem assentes no chão para não sermos surpreendidos por qualquer armadilha. E preparemo-nos para tempos dificílimos que se aproximam, mesmo sem outro coronavírus, até sem nenhum. O que se tem investido na luta contra a pandemia tem custos elevados que hão-de ser pagos por todos