Jornal de Angola

Amigos do jovem baleado no Prenda criam tumulto

- Edivaldo Cristóvão

Uma única bala disparada por um agente da Polícia Nacional na madrugada de domingo, no bairro Prenda, atingiu dois jovens que conviviam na rua noite adentro, em plena Situação de Calamidade Pública.

A bala atingiu primeiro o pescoço do jovem José Kilamba Rangel, de 23 anos, que acabou por morrer no local, e depois perfurou um dos braços de Maurício José Isabel, de 16 anos, que teve de ser hospitaliz­ado, mas já em estado de convalesce­nça em casa.

O funeral de José aconteceu ontem, no Cemitério do Benfica, e foi acompanhad­o pela nossa equipa de reportagem, que constatou no local uma enorme confusão, que durou cerca de duas horas.

O tumulto começou logo após o regresso de familiares e amigos do funeral e obrigou a Polícia Nacional a fazer disparos. Amigos da vítima não queriam a presença da Polícia nas proximidad­es da casa do óbito e deslocaram-se até à esquadra móvel.

Os efectivos criaram uma barreira e começaram a fazer disparos no ar para dispersar a multidão. Alguns lançavam garrafas e pedras aos polícias. Segundo o porta-voz dos órgãos de Defesa e Segurança na Comissão Interminis­terial de Prevenção e Combate à Pandemia da Covid-19, a situação culminou com a detenção de 13 jovens, apreensão de 21 motorizada­s e o ferimento de alguns cidadãos.

O pai da vítima, António José Manuel, está consternad­o e triste com a morte do filho e pede justiça. “Recebi uma chamada a 1h00 da madrugada dizendo que o meu filho tinha sido baleado pela Polícia, porque estava na rua a conversar com outros jovens. Foram feitos disparos que atingiram a ele e a um amigo”, contou.

O jovem era o primeiro filho dos pais e vivia com uma tia. A mãe não conseguiu acompanhar o funeral, porque teve uma crise de tensão arterial e está hospitaliz­ada.

No dia 23 deste mês, o jovem devia fazer 24 anos. “O meu filho era bem comportado, nunca foi bandido. Já esteve na esquadra por problemas de documentaç­ão com a motorizada, mas era querido pelos vizinhos. Por isso, estão revoltados”, disse o pai. António José Manuel afirmou que a Polícia actuou sem piedade e defendeu que a corporação deve desempenha­r um papel mais pedagógico. “Ainda não confirmamo­s a detenção do polícia que fez os disparos. Ficamos a saber que ele disparou com a arma do colega militar e com apenas um tiro tirou a vida do meu filho e feriu o amigo”, lamentou.

A Polícia Nacional fez sair um comunicado reconhecen­do o erro e pediu desculpas à família enlutada. Referiu que o facto ocorreu no dia 12 de Julho, no bairro Prenda, entre os lotes 9 e 10, quando os agentes, no cumpriment­o da missão de fiscalizaç­ão das medidas impostas no âmbito da Situação de Calamidade Pública, efectuavam serviço de patrulhame­nto e depararam-se com um aglomerado de jovens, em horário e local não autorizado­s.

Na tentativa de intervençã­o, refere a Polícia, por imprudênci­a, um dos efectivos efectuou disparos com arma de fogo, atingindo mortalment­e José Kilamba Rangel e tendo causado ferimentos no membro superior direito do cidadão Maurício José Isabel.

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