Alimentar o sonho
Quando crescer, quero ser bombeiro, polícia, doutor, enfermeiro, alfaiate, mecânico, engenheiro, piloto, jornalista, professor, enfim... Respostas de crianças que suscitam a necessidade de, desde cedo, criar nelas as competências necessárias
Nas conversas
com as crianças, a pergunta quase sempre repetida é sobre o que querem ser quando crescerem. A maioria dos menores opta pela profissão dos pais e a seguir olha para as ocupações que lhes garantam fama e dinheiro.
Outros trabalhos, que impliquem responsabilidade e entrega, são menos escolhidos e mesmo piloto da aviação comercial aparece no top mais pelo glamour que pelo facto de alguém ter à sua guarda dezenas ou até centenas de vidas.
Bombeiro é uma profissão muito escolhida, o que se deve ao fascínio provocado pelo seu uniforme e equipamento, enquanto outros sectores castrenses, como polícias e militares, perdem na disputa porque, supostamente, acarretam consigo uma maior carga de subordinação.
Um professor no ensino primário costumava dizer que, mais do que um desejo manifestado, se deveria estar atento ao papel de cada aluno nas actividades extra-escolares que não o desporto. Na poesia e na dança, por exemplo, enquanto uns ensaiam os primeiros versos e se agarram aos instrumentos musicais, outros são declamadores e dançarinos.
Ontem, 15 de Julho, foi Dia Mundial das Competências dos Jovens. A data foi instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2014 e celebrada pela primeira vez em 2015 com o objectivo de chamar a atenção dos
Governos e da sociedade para a necessidade de se alcançarem melhores condições sociais e económicas para os jovens, de forma que estes possam enfrentar os desafios do emprego e desemprego.
As estatísticas apontam que os jovens, com idades entre os 15 e os 24 anos, constituem 16 por cento da população mundial: 1,2 mil milhões. É a eles que a data procura dar visibilidade, quando se sabe que existem cerca de 75 milhões de desempregados nessa faixa etária e que a possibilidade de ficarem desempregados é três vezes maior do que nos adultos.
O grosso dos trabalhadores no mercado informal
Os jovens representam também o grosso dos trabalhadores informais. Um em cada cinco jovens que trabalha ganha menos que um dólar por dia, situação essa considerada de pobreza extrema.
O papel fundamental dos jovens para o desenvolvimento das sociedades nem sempre é bem visto pelas elites políticas, elas que acabam por desempenhar funções nos aparelhos de Estado e de quem se espera programas que os retirem da situação precária de emprego ou de pouca qualificação.
A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) sugere aos Estados membros (38), que tratem de assegurar que todos os jovens saem da escola com uma gama de competências importantes, de ajudar os alunos que não completem os estudos a ingressar no mercado de trabalho e de desmantelar as barreiras institucionais ao emprego jovem.
Sugere ainda que se identifiquem e se ajude os chamados “nem-nem” (nem estudam, nem trabalham) e que se facilite uma melhor compatibilidade entre as competências dos jovens e os empregos. Isso, enquanto a conjuntura económica vai melhorando.
Já a Organização das Nações Unidas para a Educação, a
Ciência e a Cultura (UNESCO) lembra que a criação de competências, através da Educação, não se trata apenas de assegurar que todas as crianças vão à escola, mas de preparar os jovens para a vida, proporcionando-lhes oportunidades para encontrar um emprego decente, ganhar um salário, contribuir para as suas comunidades e sociedades e realizar o seu potencial.
Enquadramento mais humano
A questão mais colocada tem a ver com o enquadramento mais humano dos jovens, com competências transversais aos ramos teóricos, mas também práticos, o que significaria estar a promover a criação de competências essenciais para que cada jovem possa contribuir para as suas comunidades e sociedades e realizar o seu potencial.
No ano passado, a propósito do Dia Mundial da Juventude, assinalado a 12 de Agosto, o Secretário-Geral da ONU afirmou que “os estudantes não precisam apenas de aprender, mas também de aprender a aprender”.
António Guterres destacou que a Educação deve ser mais inclusiva, acessível e relevante, tendo frisado que muitas vezes as escolas não preparam os jovens com as capacidades de que eles precisam para navegar na revolução tecnológica.
No continente africano, onde 77 por cento das pessoas têm menos de 35 anos, sendo, por isso, consideradas jovens, uma das principais reclamações é colocada em torno da sua participação na vida pública. Embora a Carta Africana da Juventude, no seu artigo 11º, inste os Estados membros da União Africana a “garantir a participação dos jovens no Parlamento e noutros órgãos de decisão, de acordo com as leis em vigor”, a sua participação fica muito a desejar em muitos países e a sua opinião nem sempre é tida em conta.
Em Angola, onde a taxa de desemprego se situa em torno dos 28,8 por cento, a juventude é a mais afectada pelo problema. Ao Estado angolano compete desencadear uma série de acções que permitam melhorar o acesso dos jovens a sectores sociais, como a Protecção Social, Educação e Saúde.
Dos cerca de 30 milhões de residentes neste vasto território, com 1.246 e 700 km2, 66 por cento têm menos de 25 anos de idade. O sonho alimenta a alma, mas é preciso que esta deixe de ser amarfanhada pelo sofrimento. Só assim, poderemos sorrir.
Em Angola, onde a taxa de desemprego se situa em torno dos 28,8 por cento, a juventude é a mais afectada pelo problema. Ao Estado angolano compete desencadear uma série de acções que permitam melhorar o acesso dos jovens a sectores sociais, como a Protecção Social, Educação e Saúde