Médico defende futebol com garantia de segurança
Médico Pedro Miguel afirma que retorno aos treinos e à competição será feito apenas com a testagem de todas as pessoas envolvidas
A garantia de segurança no regresso aos treinos e às competições é o principal desafio da Federação Angolana de Futebol (FAF), de acordo com o médico Pedro Miguel, responsável clínico do organismo reitor da modalidade, que traçou o cenário de resposta ao risco de propagação da pandemia da Covid-19.
O especialista em ortopedia coloca no topo da pirâmide a adopção de um sistema, dentro da realidade do país, capaz de permitir a prática desportiva sem causar baixas entre os vários intervenientes, desde os atletas aos técnicos de tratamento de relva, num plano de testagem em massa, com o controlo e a definição das pessoas autorizadas a fazer parte das sessões de preparação e dos jogos, semanalmente.
“Isso é o fundamental. É o pensamento a nível da Federação, porque o pressuposto importante é que haja futebol, mas com segurança. O futebol não pode funcionar como um agente multiplicador da Covid. Para haver futebol com segurança, tem de haver testes. Isso é fundamental. Agora, temos de arranjar alternativas de onde é que vamos conseguir os testes, como vamos fazer, mas têm de ser feitos. Sem testes não haverá oportunidades de haver o retorno ao futebol. Estamos a fazer cálculos. A previsão é de fazer por média semanal 700 testes, se optarmos por uma testagem semanal”, disse em entrevista à TV Zimbo.
O universo a controlar vai além dos atletas. Os apanhabolas, funcionários do refeitório e técnicos de equipamento devem ser acompanhados. “Todo o mundo. Até os jornalistas. Depois definir quem são as pessoas que podem intervir em cada jogo. Há países que adoptaram esse sistema. Inclusive, até para os jornalistas, criou-se um sistema em que passarão a entrevistar por vídeoconferência. A tendência é diminuir o maior número de pessoas envolvidas no jogo. Todas têm de ser testadas”, insistiu, Pedro Miguel.
Adaptação ao momento
Atento à evolução da pandemia no país, o responsável pelas questões sanitárias da FAF fez referência às medidas de desconfinamento da actividade desportiva institucional, cuja efectivação está dependente da garantia de condições de biossegurança.
“Há bem pouco tempo, a 27 de Junho, foram levantadas as restrições que havia na prática do desporto, nomeadamente, o treino e a actividade desportiva. Nessa altura, estávamos a preparar-nos para o retorno ao futebol. Agora, verifica-se um incremento nos números de contágio. Mas, pessoalmente, sou de opinião que, independentemente do crescimento do número de casos, todos os outros sectores da vida têm de conseguir encaixar-se e desenvolver a sua actividade, dentro dessa limitação. O futebol, há muita gente que defende isso, também é uma fonte de rendimento de várias famílias”.
Testes em massa
A definição de um protocolo, a partir da experiência colhida de outras realidades pelo mundo, mas sempre com a preocupação de seguir e obedecer as condições existentes em Angola, sobretudo as económicas e financeiras, foi reiterada pelo médico, que apelou à contenção de recursos por serem escassos.
“Esta é a questão e, se calhar, fundamental para o retorno ao futebol. Temos de arranjar uma alternativa para contornar isso. Temos de contornar a nível do Governo. Acho que há equipas que têm condições para fazer testes de “per si” (de modo isolado) e outras que provavelmente não terão capacidade de resolver essa questão. Mas temos de arranjar uma alternativa. Há a experiência de outros países, em que por exemplo os clubes criaram consórcios. Compraram uma máquina ou aderiram a um laboratório. Tem de se arranjar alternativa para que este, que é um dos maiores obstáculos, seja ultrapassado. Se outros países têm condições económicas e dão-se ao luxo de dispensar os jogadores, para voltar a fazer testes, nós que não temos, vamos ter de mantêlos ali, sem sair. Temos de arranjar alternativas aqui para nós”, disse.
Confiança no processo
Apesar do actual cenário de muitas perguntas, num vazio de respostas, expressou total confiança na definição de um caminho a seguir para o retorno das competições futebolísticas, com o máximo de segurança, ainda que seja necessário efectuar ajustes a meio do percurso.
“Acho que vamos conseguir alguma maneira de resolver isso. Mas não podemos ficar sentados na bancada, à espera do navio passar. Temos de fazer alguma coisa, porque há países que começaram o campeonato e vão parando e ajustando. É isso que temos de fazer. Não podemos parar, porque o futebol envolve muita gente”, sentenciou.