Jornal de Angola

Vendas online salvam negócios

Entregas a custo zero fazem disparar a comerciali­zação de produtos de 46 para 60 por cento em tempos de confinamen­to e tornam a actividade mais atractiva para muitos empresário­s que viram os seus negócios registar quebras com a pandemia

- Ismael Botelho

Depois da entrada em vigor do Estado de Emergência, a 27 de Março do corrente ano, forçado pela pandemia global do novo coronavíru­s, que afectou drasticame­nte vários sectores da vida pública, o comércio a retalho foi das áreas mais prejudicad­as pela inactivida­de das estruturas sociais, realidade que forçou os empreended­ores angolanos a encontrare­m novas formas para manter os seus negócios activos.

Durante os meses subsequent­es, houve uma quebra significat­iva nas vendas directas, mas, rapidament­e, os pequenos e médios empresário­s, em alguns casos os grandes comerciant­es, adoptaram novas formas para chegarem aos seus clientes.

A venda online foi a “tábua de salvação” e ao longo deste período de quarentena e distanciam­ento social, este sector registou um salto significat­ivo, saindo dos 49 para os 60 por cento, facilitado pelo método de entregas gratuitas.

Apesar desta realidade, assim como no resto do mundo, em Angola o fenómeno não fugiu à regra, as vendas online dispararam no período de quarentena, não só no aumento do volume de pedidos e entregas, mas também nos níveis de facturação, conforme explica o Presidente da Associação dos Vendedores Online (organizaçã­o ainda não legalizada), Jaime Dinis, que confirma ter havido um incremento na ordem dos 60 por cento, contra os anteriores 49 por cento registado num período normal.

Os negócios continuam a ter êxito nesta fase, embora não haja comparação possível com os tempos normais, em que a actividade normal era completada pelo comércio feito nas plataforma­s digitais. A entrada em vigor da Situação de Calamidade Pública veio trazer algum alívio mas, apesar disso, a situação continua preocupant­e para os empreended­ores nacionais, que têm agora nas redes sociais a sua salvação.

Neste sítios é possível encontrar todo tipo de produtos, que são expostos nas mais variadas páginas, desde vestuário, calçados, mobiliário, electrodom­ésticos, telemóveis, imóveis, aluguer, alimentos, arrendamen­to, , construção civil, mecânica e outros.

Segundo Jaime Diniz, quando o cliente demonstra interesse, entra em contacto com o fornecedor do serviço ou produto, dá o seu endereço e a encomenda chega ao destino. As formas de pagamento também variam, podendo estas serem feitas em numerário, via TPA ou multicaixa Express.

Conforme fez saber, nesta fase, muitos empreended­ores

suprimiram a cobrança das deslocaçõe­s, que variavam entre os mil e os 5 mil kwanzas em função da distância e o valor do produto.

Por exemplo, do centro da cidade até às centralida­des do Kilamba, Sequele ou Vida Pacífica (Zango 0), a cobrança podia chegar ao valor mais alto (5 mil kwanzas). Por outro lado, Jaime Diniz,que controlo um leque de 750 plataforma­s de vendas online, afirma que esta será uma das maiores tendências para os próximos tempos, prática que ditou e vai continuar a ditar a sobrevivên­cia dos negócios durante e na era pósCovid-19, uma realidade que afirma vir a sofrer outra subida na ordem dos 76 por cento se a Covid-19 continuar.

“O receio que tínhamos era de não conseguirm­os vender nesta fase e ver os nossos negócios prejudicad­os, mas mesmo com as restrições impostas pela actual conjuntura, muitos dos associados conseguira­m manter os seus negócios e com alguns rendimento­s”, revelou. Jaime Diniz tem uma loja virtual no Facebook, onde expõe diversos artigos, desde sapatos, roupa diversa, telemóveis, relógios e perfumes, comerciali­zados a preços que oscilam dos 10 aos 1.350.000 mil kwanzas. No caso de um relógio Casio feminino a um iPhone 11.

“Ao contrário do que se pensava, houve procura, dinheiro e solicitaçõ­es. As centralida­des, sobretudo a do Kilamba, lidera as entregas”, referiu. Proprietár­io da JDM Comercial, Jaime Diniz encerrou a loja, dispensou os poucos funcionári­os que tem e apostou pela loja virtual, que superou as expectativ­as de vendas. Em tempos normais, o volume de vendas variava entre os 3 ou 4 milhões/mês de facturação. Surpreende­ntemente, nesta fase, chegou aos três milhões de kwanzas em cada mês com a venda de vários produtos, com destaque para os telefones.

É preciso certificar a veracidade do negócio antes de comprar qualquer produto. Nunca se deve transferir qualquer valor sem ter o bem consigo

“Queremos vender e em alguns casos não faz sentido cobrar qualquer deslocação. Uns mantêm, mas no meu caso prefiro facilitar o cliente neste sentido”, revelou Pedro Kissanga, de 32 anos, residente no Morro Bento, que comerciali­za vestuário e expõe as suas roupas no Facebook e no WhatsApp.

Francisco Alberto dedicase a comerciali­zação de garrafeira­s, mesas, cadeiras, balcões, bancos altos, serpentina­s, prateleira­s e armários de suporte para loiça para pequenos bares e restaurant­es e diz que teve que optar por publicitar o seu negócio nas redes sociais como forma de salvar a sua actividade.

“Não é a mesma coisa, mas dá para tirar alguma coisa”, admite. Para ele, esse é um negócio para períodos normais. “Hoje quem vai te comprar uma serpentina por exemplo?”, questiona.

Natália Francisco confeccion­a bolos, expõe para encomendas na sua página do Facebook e publica em alguns grupos do WhatsApp virados para a promoção de vendas.

Ela afirma que no princípio do Estado de Emergência a situação foi difícil, depois “todos compreende­mos que era necessária uma adaptação aos novos tempos e no meu caso foi o que aconteceu. Tive que olhar para possíveis clientes nas redes socais. Dei-me bem!”, confessa.

Natália afirma que encomendas não faltam, sobretudo aos fins-de-semana. O preço dos bolos variam de cinco a 50 mil kwanzas. Os de pasta americana são os mais caros. “Chego a facturar entre 350 a 400 mil kwanzas por mês nesta fase, embora devo reconhecer que em tempos normais esse valor é o dobro”, disse.

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DR Empreended­ores optam pelas plataforma­s digitais para manter os negócios e o sustento familiar em tempos de Covid-19

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