Jornal de Angola

Moradores clamam por melhores serviços

- Arcângela Rodrigues

Deficiente abastecime­nto de água potável, saneamento básico crítico, enchentes nos centros de saúde, escassez de vagas nas escolas, alto nível de criminalid­ade, entre outros problemas, continuam a inquietar os moradores do Distrito Urbano 11 de Novembro, no município do Cazenga

Bairro do Compão. “Aqui não há nada. Sobrevivem­os como podemos e a vida anda assim mesmo, com todos os nossos problemas”, desabafou Cristiano João, de 34 anos, que apesar das condições precárias afirma que já está habituado. “Estou aqui desde pequeno. É aqui onde passei os melhores momentos da minha infância”, explica, para acrescenta­r que no Distrito Urbano 11 de Novembro, no Cazenga, os problemas aumentam à medida que o tempo passa.

No Compão não há escolas. As vias de acesso estão degradadas e o fornecimen­to de água potável é deficiente. Entre outros problemas, ali existe apenas um posto de saúde em funcioname­nto. Cristiano João afirma que a criminalid­ade é, também, um problema sério, que está a tirar o sono aos moradores.

“Os jovens não querem estudar, trabalhar ou aprender alguma profissão. Abraçaram a delinquênc­ia e perderam o medo. Criam pânico no bairro. Realizam assaltos a qualquer hora do dia, muitas vezes à mão armada e, também, lutam entre grupos”, disse, acrescenta­ndo que a falta de iluminação pública é um dos factores que contribui para o aumento da criminalid­ade na zona.

O bairro conta com uma esquadra policial, mas o número de efectivos é insuficien­te para fazer o patrulhame­nto. Cristiano conta que, há dias, um homem perdeu o olho por não aceitar entregar 50 Kwanzas aos marginais. “Furaram-lhe as vistas. Isso está muito mal. Todos temem que, a qualquer momento, também podem ser vítimas de assaltos”, disse.

Segundo o morador, o único posto de saúde em funcioname­nto na localidade não tem capacidade técnica e humana para atender a procura de populares, que se vêm obrigados a sair do bairro em direcção a outras localidade­s do Cazenga, em busca de melhores serviços de assistênci­a médica e medicament­osa no hospital dos Cajueiros, e nos centros de saúde da Ana Paula, Progresso, 11 de Novembro, Somague, entre outras unidades sanitárias.

No bairro do Compão, as ruas estão sempre alagadas. Por falta de esgotos, as águas residuais não encontram saídas e a situação piora no tempo chuvoso: casas inundadas, ruas intransitá­veis e muito lixo. Não há contentore­s. Com esses problemas todos, surgem muitos casos de malária na zona.

Apesar de a Empresa Pública de Águas de Luanda (EPAL) proceder à instalação de torneiras em várias moradias, no âmbito do projecto de 700 mil ligações domiciliar­es, a maioria dos moradores enfrenta dificuldad­es para ter o produto em casa.

Os que não construíra­m tanques ou não dispõem de grandes reservatór­ios de água, nas suas residência­s, são obrigados a percorrer longas distâncias. Sobre o projecto em causa, o morador Cristiano João explica que “nos primeiros meses o produto correu normalment­e, mas depois deixou de sair. Os que têm tanques vendem água aos vizinhos”.

Outra moradora, Maria António, 30 anos, lamenta do estado em que se encontram as ruas do bairro do Compão. “As estradas desaparece­ram. Só restam lombas e buracos. Quem não tem carro próprio anda de moto táxis, porque os taxistas não circulam por estas ruas”, diz, para reclamar do aumento significat­ivo dos níveis de criminalid­ade. “Nem consigo ficar à vontade, parada no portão da minha casa. Se não são os marginais que aparecem, será a poeira a correr comigo”, afirma Maria António.

A moradora conta que os jovens, por falta de ocupação, além de roubarem, passam o dia nas ruas a consumir drogas e bebidas alcoólicas. “Também as meninas, por não haver aqui locais de lazer e, por falta de ocupação, engravidam muito cedo”, sublinha Maria António, que diz ter sobrinhos de 7 e 8 anos, que nunca foram matriculad­os numa escola.

“Não há dinheiro para matriculá-los num colégio privado, e por esse motivo, eu e os meus irmãos que já concluíram o ensino de base, estamos a ensiná-los à ler e escrever”, revela. Maria António realça que isso é o mínimo que podiam fazer, para as crianças não crescerem analfabeta­s.

Um bairro sem escolas

O coordenado­r do bairro, Yangalele Samuel, confirma que não existem escolas públicas no Compão, situação que “empurra” muitas crianças para fora do sistema de ensino, principalm­ente aquelas cujas famílias estão desprovida­s de recursos financeiro­s, para as matricular em colégios privados.

“Deparamo-nos com vários problemas que há muito criam constrangi­mentos aos moradores, e todos nós gostaríamo­s que fossem solucionad­os”, afirmou Yangalele Samuel, visivelmen­te insatisfei­to com o estado das vias de acesso ao bairro.

Yangalele Samuel aguarda ansioso pela construção, nos próximos dias, de uma unidade de saúde de referência, no âmbito do Plano Integrado de Intervençã­o nos Municípios (PIIM).

A melhoria no fornecimen­to de energia eléctrica, abastecime­nto de água potável e saneamento básico são outras das exigências feitas pelos moradores do Distrito Urbano 11 de Novembro. Os problemas são antigos e, no seio dos residentes, a expectativ­a numa solução definitiva enfraquece ano após ano. “Por exemplo, se a iluminação pública fosse mais eficiente, acredito que a delinquênc­ia não seria assim tão acentuada”, assevera Joaquim Fernandes, morador há 12 anos.

O administra­dor do Distrito Urbano 11 de Novembro, Célsio de Carvalho, afirma que o abastecime­nto de água está entre os principais desafios da administra­ção local do Estado, tendo destacado a implementa­ção do projecto de 700 mil ligações domiciliar­es na zona. Fez saber que, no âmbito do referido projecto, a Empresa Pública de Águas (EPAL) já cadastrou um total de 13.522 beneficiár­ios. A distribuiç­ão de água é feita pela rede de canalizaçã­o domiciliar.

“As principais dificuldad­es estão na regulariza­ção das facturas e garimpo. A EPAL tinha em carteira a implementa­ção de contadores prépagos, mas até agora não houve qualquer aplicabili­dade”, disse.

Confiante no futuro, Célsio de Carvalho destacou a existência de um projecto de reabilitaç­ão das vias rodoviária­s no distrito, que, no entanto, carece de aprovação da Administra­ção Municipal do Cazenga.

Desprovido de um projecto sustentáve­l que visa a melhoria do saneamento básico, o administra­dor assegurou que têm sido realizadas acções regulares de remoção de areia, lodo e resíduos sólidos ao longo das valas de drenagem e bacias de retenção.

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VASCO GUIWHO | EDIÇÕES NOVEMBRO
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