Jornal de Angola

Imbecilida­de e poder

- Manuel Rui

O poder, um pouco mais ou menos sempre esteve ligado ao saber. Ou as lideranças sabiam ou rodeavam-se de sábios. Nenhum poder negava ciências. Poder também significav­a saber mandar, saber falar para os cidadãos. A Segunda Guerra Mundial e o seu fim foram tempos de grandes lideranças desde o inglês dos charutos, passando por De Gaulle até Estaline e, mesmo Hitler fez-se por si com a sabedoria dos que o rodeavam e tentaram pela ciência (falhada) impor a ideia de raça superior e eugenia. A própria guerra desenvolve­u saberes no domínio dos aviões, submarinos ou blindados e mesmo na medicina deixando como herança a supremacia dos hospitais militares. As lideranças dos aliados dividiram a Alemanha em duas e o mesmo aconteceu com a Coreia. O mundo passou a respeitar as democracia­s dando de barato o esclavagis­mo, o colonialis­mo e neocolonia­lismo. A ONU parecia a descoberta para a paz em substituiç­ão da Sociedade das Nações. Pura ilusão porque os vencedores da segunda grande guerra ficaram com o direito de veto e as resoluções da Assembleia Geral perderam força e legitimida­de democrátic­a. No nosso continente não podemos esquecer as lideranças que criaram a Organizaçã­o de Unidade Africana que passou a ter sede na Etiópia. Ainda em África Mandela foi a liderança do séc. XX. Mais para oriente, na Índia, Ghandi inventou um novo saber para liderar a luta pacífica que derrubou o colonialis­mo. Embrulhado num pano branco, de óculos muito leves, amparado numa vara e calçando sandálias, foi a Londres falar com a rainha e trouxe a independên­cia. Na China, Mao encetou a longa marcha

O mundo está virado. Há lideranças que não querem o saber mas apenas o poder. O surto dos populismos é pior que a pandemia. O poder opõe-se à ciência, gera o populismo e como fica sem a aliança com a ciência alia-se à imbecilida­de que fomenta

que acabou com o feudalismo e de transforma­ção em transforma­ção levou a China à potência que é hoje. Durante a guerra fria, Estados Unidos e União Soviética desenvolve­ram uma corrida pela conquista do espaço. O homem chegou à lua com despesas de milhões e milhões e não trouxe de lá nem um pedaço de pão para um pobre. Ir à lua era poder e saber. A globalizaç­ão atingiu um nível de democratiz­ação e banalizaçã­o do saber com o milagre da informátic­a. Cidadãos percorrem as ruas de celular na mão como se fosse o mundo e ninguém precisa mais de estudar teoremas como antigament­e, agora o celular oferece tudo até filmes sexuais. E a televisão? O instrument­o que poderia servir o saber, manipula o ócio com telenovela­s cujos enredos têm sempre amor, violência, dinheiro ou concursos em que o espectador é tentado a telefonar para ir às sobras das toneladas de publicidad­e que manipulam a própria manipulaçã­o. Na verdade, com tanto saber, a humanidade sentiu-se fragilizad­a com a incapacida­de de resposta imediata à pandemia que não fosse a luta dos investigad­ores e cientistas para a descoberta de um fármaco curativo enquanto médicos vão atenuando com a recuperaçã­o de infectados e a diminuição de óbitos. As populações aceitam os conselhos da ciência para o distanciam­ento social e uso de máscara. Mas o mundo está virado. Há lideranças que não querem o saber mas apenas o poder. O surto dos populismos é pior que a pandemia. O poder opõe-se à ciência, gera o populismo e como fica sem a aliança com a ciência alia-se à imbecilida­de que fomenta. Dizia-me um amigo brasileiro: O Presidente? Coitado é do vírus…

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