Jornal de Angola

2. Qualidade e quantidade de testes

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O maior obstáculo para se conhecer os números reais ainda está na testagem de pessoas, não só no número baixo de testes disponívei­s, como também na qualidade desses exames.

Mesmo os testes mais confiáveis, os chamados RT-PCR, são limitados, pois detectam apenas pessoas que estão com a doença no momento do exame — e não os recuperado­s, que deveriam estar na estatístic­a de total de casos.

Há também o risco de o exame não detectar o vírus em pacientes doentes, pois ele pode não estar exactament­e na parte do sistema respiratór­io de onde foi colhida uma amostra.

“O teste do PCR detecta, na melhor das hipóteses, de 70% a 80% dos casos”, diz Márcio Sommer Bittencour­t, médico do Centro de Pesquisa Clínica e Epidemioló­gica do Hospital Universitá­rio da USP.

E existe o problema da quantidade. O Brasil está testando poucas pessoas para Covid-19.

É possível comprovar isso através da taxa de positivida­de — que mede quantas pessoas tiveram exame positivo em proporção ao número de pessoas testadas.

O Brasil tem uma taxa próxima de 40%, o que significa que se está testando apenas os casos graves na maioria das vezes, de pessoas que já estão na rede hospitalar. Em uma pandemia, mesmo a população sem sintomas deveria estar sendo testada.

A taxa ideal de positivida­de, segundo a Organizaçã­o Mundial da Saúde, é de 5%, diz Domingos Alves, do Laboratóri­o de Inteligênc­ia em Saúde da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto. Ou seja, que apenas 5% dos testes feitos em uma população dessem positivos, e os outros 95%, negativos.

“Os testes no Brasil são feitos quase que apenas nos internados. Nós estamos no escuro, estamos míopes sobre essa pandemia”, afirma ele.

Além disso, há falta de rastreamen­to. Alves conta que, na maioria dos casos, nem mesmo as pessoas que tiveram contacto recente com os pacientes de Covid-19 estão sendo testadas.

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