Etiópia trava agitação com corte da Internet
A Etiópia enfrenta a terceira semana sem serviço de Internet em praticamente todo o país, após dias de agitação social, enquanto o Governo justifica a situação com a tentativa de impedir discursos que inflamem, ainda mais as tensões étnicas, noticiou, ontem, a Reuters.
O corte na Internet prejudicou a economia do segundo país mais populoso de África, com quase 110 milhões de pessoas, numa altura em que luta contra os efeitos da pandemia da Covid-19.
O país africano vive ainda com alguns temores do regresso da repressão por parte do Governo, noticiou a agência Associated Press.
Segundo o grupo de monitorização NetBlocks, parte do serviço de Internet através de linha fixa, começou, ontem, a ser retomado, mas a Internet móvel, a mais utilizada, continua cortada. A conectividade desceu para números perto de 1 por cento, acrescentou. “Esta interrupção constitui uma violação grave dos direitos básicos, num momento em que os etíopes precisam de manterem-se informados”, explicou o grupo NetBlocks, sublinhando que o impacto económico desta situação é superior a quatro milhões de dólares por dia.
A mais recente crise de agitação social na Etiópia começou após a morte do popular cantor Hachalu Hundessa, a 29 de Junho, em Addis Abeba, que foi uma voz nos protestos antigovernamentais que levaram a uma mudança na liderança do país, em 2018.
Após a tomada de posse do Primeiro-Ministro, Abiy Ahmed, surgiram várias reformas políticas de grande dimensão, mas essa abertura resultou em protestos por parte de grupos étnicos e outros movimentos.
Grupos de direitos humanos e observadores alertaram que a Etiópia retomou “certos actos repressivos usados pelo Governo anterior” e que o corte na Internet complica os esforços para controlar esses abusos.