Jornal de Angola

Machos e cavalheiro­s!

- Tazuary Nkeita

Observava um vídeo em que dois petizes lutavam ferozmente por causa de cem kwanzas até o devedor aceitar devolver o dinheiro, quando o telefone tocou. No momento, um deles apertando o outro pelos colarinhos, dizia: «Manda já o mô dinhero...!»

A briga não é nova. Infelizmen­te, são cenas que se repetem em várias artérias de Luanda. Por isso, desliguei-me da pancadaria e optei por atender o telefone...

«Manda...!», respondi como se também fosse o dono do dinheiro.

«Li a história dos machos, mas...», a voz do outro lado falou no tom de quem prepara uma crítica elegante e merecida: «A história foi ligeira, bem contada, mas eu esperava ler algo sobre cavalheiro­s, e não uma orgia de machos...». Foi uma dura repreensão.

Gostei do reparo e percebi a mensagem nela implícita, sobre a diferença que deveria ter sido feita entre machos e cavalheiro­s, no nosso meio!«Concordo, plenamente!», retorqui.

Há leitores que querem aprender, e cultivam-se com artigos de Jornal. Na sua maioria, são autodidact­as: lê em quanto podem, assimilam quanto é merecido e acumulam conhecimen­tos, recolhendo boas maneiras. Para eles, o jornal, a revista, completam a educação na família, na escola e na universida­de. São os nossos cavalheiro­s do sec. XXI. O país e o povo aplaudem a sua existência!

Fazem-me recordar Nga Fuxi, o meu avô. O velho Fuxi trazia doces, jornais e revistas quando visitasse os netos. Era um leitor assíduo de “A Província de Angola”, aos domingos, e das revistas Notícias e Vida Mundial que lia animadamen­te. Foi aí que aprendi a identifica­r rostos, e pensamento­s, de personalid­ades mundiais como Julius Nyerere, Kenneth Kaunda, Sekou Touré, Ghandi, Kissinger, George Pompidou, Andrey Gromyko, Willy Brandt, Paulo VI, Pablo Neruda, Ernest Hemingway, Martinho da Silva, Cassius Clay e tantos outros cavalheiro­s cujas ideias influencia­ram os leitores daquela época.

Lembro-me de um belo dia em que o velho Fuxi falava dos seus ídolos, no quintal, quando uma desconheci­da passou pelo pequeno muro da nossa casa, com lenha à cabeça, e se meteu na conversa:

- Eh..., o senhor disse uma frase que me conquistou! –, disse ela, virando-se para Nga Fuxi. Preocupado em comer as bolachas com que o velho nos divertia..., nada mais ouvi daquela conversa picante. E foi uma atitudenor­mal numa época em que nenhum miúdometia “o bedelho” em conversas de adultos! Mas a frase ficou gravada:

«O senhor disse uma frase que me conquistou!», o velho era o símbolo de um cavalheiro, extremamen­te atencioso e afável. Longe, todos sentiam a ausência dele; perto, eram os choros à despedida.

É verdade que hoje os machos têm um outro perfil. Evidenciam-se no meio a que pertencem por terem dinheiro nos bolsos, cerveja nas mãos, roupas de marca, carros de luxo e perfumes caríssimos. E elas, coitadas. Ninguém diz que os machos do passado não quisessem sobressair. Faziam das suas, claro, mas todos queriam ser cavalheiro­s como se viu no

“Namoro” de Viriato da Cruz. Nga Fuxi e outros também traziam trunfos debaixo do braço, quando não, exibiam o célebre romance “O Homem”, de George Wallace. Faziam-no para agradar as senhoras e transmitir valores que considerav­am eternos como o respeito, o conhecimen­to, o cultivo de si mesmo, a importânci­a da família e outras regras de boa conduta. E os critérios para entrar numa briga eram extremamen­te altos, nunca aqueles cem kwanzas do vídeo!

Na verdade, a história dos machos zebrastamb­ém foi uma indirecta. Procura realçar o valor do trabalho de cada um no seu posto; os salários baixos e os preços altos; os filhos em exageros em saber como sustentá-los; a gestão irracional do dinheiro e o triste fim de muitos e muitas que terminam na poligamia e na poliandria, como se fossem os três peixinhos... Uma fêmea prenha para três machos é de facto um exagero de todo o tamanho, mas é acima de tudo uma reflexão para se extraírem lições de vida, sendo que a mais importante é saber procurar a qualidade e não a quantidade; que o muito não é sinónimo de bom; que possuir três não é melhor do que ter apenas um! Por isso, quando os jornais relatam escândalos do género, dá vontade de dizer: “Vale a pena ser boelo...!”

Tudo foi contado numa história sem pesadelos porque tudo coincide com a euforia do dia do pagamento dos salários. Se todo o cavalheiro é macho, não se pode dizer que o inverso é verdadeiro. Nem todo o macho é cavalheiro! A repreensão foi correcta.

- A fêmea perdeu um macho e ganhou três. Foi bom?!

- Só para a criação de peixes, nunca entre seres humanos! Infelizmen­te, hoje, entre seres humanos, diz-se que há mulheres que gostam de:

Um homem-chique para exibir charme e boa aparência entre os colunáveis; um homemxeque para assumir as despesas da casa; e de um homem-choque para garantir o prazer letal! Todo o cavalheiro é contra isso porque ele já representa os três em um! Os três peixinhos-machos da história sobre a linda viúva zebra também não surgiram por acaso. Foram lá colocados propositad­amente para permitir essa reflexão!

Já se tentou explicar em histórias anteriores que o mundo do homem não é um mundo cão..., como também não é o mundo do macaco, do cavalo, nem do coelho, por mais que admiremos a esperteza, a força e a líbido destes animais! Este mundo é humano e quer-se cada vez mais humanizado! Um homem cavalheiro e uma mulher honesta é o lema apregoado desde os primórdios da civilizaçã­o humana... por Júlio César, o imperador dos romanos!

Veja-se também a história de Jeffrey Epstein, um milionário norte americano envolvido no tráfico sexual, encontrado morto na prisão depois de cair na desgraça e ser abandonado pelos chiques e xeques do seu Jet Set. Um prazer letal que lhe deu...zebra!

Nestas histórias quem mais ganha e quem sai mais limpo continua a ser o cavalheiro! É como o exemplo daquele jantar que esteve tão delicioso ao ponto de nos fazer esquecer a subida de preços no supermerca­do. Não há melhor!

Mas, quando os jantares são a mais...

O mundo do homem não é um mundo cão..., como também não é o mundo do macaco, do cavalo, nem do coelho, por mais que admiremos a esperteza, a força e a líbido destes animais! Este mundo é humano e quer-se cada vez mais humanizado! Um homem cavalheiro e uma mulher honesta é o lema apregoado desde os primórdios da civilizaçã­o humana

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