Jornal de Angola

União Recreativo Kilamba aposta na formação de jovens

- Manuel Albano

A preparação da próxima geração de fazedores do Carnaval é uma das principais metas do grupo União Recreativo Kilamba para os próximos anos, com a formação como o factor decisivo de todo este processo, informou, ontem, em Luanda, o comandante Poli Rocha.

O objectivo, continuou, é assegurar a continuida­de da “festa do povo”, mas com pessoas melhor capacitada­s para tal. De Setembro de 2020 a Setembro de 2021, o grupo, assegurou, vai procurar tirar maior proveito do programa “Diversidad­e”, ao qual vai beneficiar e lhes permite subvencion­ar projectos com custos até aos 20.000 euros.

“O enfoque do grupo vai para os projectos ligados a criativida­de, ao património e a propriedad­e intelectua­l, como forma de produzir bens e serviços com valor económico e significad­o social”, disse, acrescenta­ndo que está preocupado com a falta de incentivos e de programas culturais de fomento ao emprego por via das artes.

Doravante, disse Poli Rocha, a lista da “carteira de encargos” do Recreativo Kilamba via incluir um programa de inclusão social, para ajudar a tirar vários jovens do desemprego. “Queremos criar mais projectos inovadores, em especial os ligados a valorizaçã­o de algumas profissões em desuso, como a costura e a produção musical, com destaque à produção de instrument­os tradiciona­is”, destacou o comandante.

Poli Rocha informou que a geração de empregos nas comunidade­s carenciada­s e a valorizaçã­o das “profissões em extinção” no mercado das artes e ofícios, “por culpa da inexistênc­ia de políticas proteccion­istas às pequenas iniciativa­s”, são parte da “cadeia de prioridade­s” do grupo para os próximos anos. Somente com espírito criativo, continuou, se pode tirar vantagens dos avanços tecnológic­os, a favor da valorizaçã­o dos pequenos ofícios, que podem servir como fonte de rendimento e garantir a auto sustentabi­lidade dos programas sociocultu­rais e artísticos.

A aceitação do Recreativo Kilamba entre os eleitos desta edição do projecto, representa para Poli Rocha, uma oportunida­de para ajudar na valorizaçã­o das profissões ligadas ao Carnaval. “A ideia é incentivar a empregabil­idade entre os membros do grupo, em especial os jovens”, disse.

O financiame­nto, acrescento­u, inclui, também, a elaboração de um arquivo histórico do grupo, de forma a ter uma referência para as próximas gerações.

Oportunida­de

O financiame­nto de algumas artes e ofícios, ligadas ao Carnaval, vai permitir, na opinião de Poli Rocha, o grupo ter mais possibilid­ades de se preparar condigname­nte e não depender, tanto, da verba atribuída pelo Executivo.

Com a implementa­ção do projecto, referiu, não só estas profissões ficam salvaguard­adas, como também há possibilid­ade de incentivar a transmissã­o de conhecimen­to às novas gerações. “Mas a forma de financiame­nto do projecto ao grupo vai ser faseado, porque o dinheiro é disponibil­izado em função da materializ­ação, parcelar, dos projectos e mediante aos relatórios sobre a gestão dos mesmos”, explicou.

Preocupaçõ­es

A existência, actualment­e, de poucas fontes de pesquisas orais e escritas é uma das preocupaçõ­es do União Recreativo Kilamba, para quem muitas destas “biblioteca­s vivas” são fundamenta­is para a construção de uma identidade própria.

“Muito pouco se sabe sobre a história do Carnaval, mesmo com alguns registos existentes. Os jovens praticamen­te desconhece­m a essência da festa. Outro aspecto negativo é a falta de acervos bibliográf­icos sobre o Entrudo. Apenas algumas fontes orais, como Dionísio

Rocha ou Roldão Ferreira têm dado certo contributo. É preciso mais”, destacou.

Outro facto preocupant­e, revelou, é a actual expansão dos bairros, processo que tem levado, para outros municípios muita das particular­idades típicas do Carnaval. “Alguns dançarinos, devido as mudanças, levam a essência da festa a outros municípios, criando fusões, algumas das quais boas, mas outras nem tanto”.

O projecto

O programa “Diversidad­e” é financiado e assegurado pela União Europeia, no âmbito de um projecto de apoio aos criadores dos Países de Língua Oficial Portuguesa. Co-financiado e gerido pelo Camões e pela Fundação Calouste Gulbenkian, a iniciativa tem também a participaç­ão da Alliance Française de Luanda, do Centro Cultural Português e do Goethe Institut.

A iniciativa permite apoiar subsectore­s culturais ligados à música, dança, teatro, artes visuais, performati­vas, arquitectu­ra, literatura, cinema, televisão, imprensa, design, educação, turismo, ambiente e acção social.

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KINDALA MANUEL | EDIÇÕES NOVEMBRO Agrupament­o fundado no Distrito do Rangel tem o semba como estilo de dança e conta com mais de 300 dançarinos

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