União Recreativo Kilamba aposta na formação de jovens
A preparação da próxima geração de fazedores do Carnaval é uma das principais metas do grupo União Recreativo Kilamba para os próximos anos, com a formação como o factor decisivo de todo este processo, informou, ontem, em Luanda, o comandante Poli Rocha.
O objectivo, continuou, é assegurar a continuidade da “festa do povo”, mas com pessoas melhor capacitadas para tal. De Setembro de 2020 a Setembro de 2021, o grupo, assegurou, vai procurar tirar maior proveito do programa “Diversidade”, ao qual vai beneficiar e lhes permite subvencionar projectos com custos até aos 20.000 euros.
“O enfoque do grupo vai para os projectos ligados a criatividade, ao património e a propriedade intelectual, como forma de produzir bens e serviços com valor económico e significado social”, disse, acrescentando que está preocupado com a falta de incentivos e de programas culturais de fomento ao emprego por via das artes.
Doravante, disse Poli Rocha, a lista da “carteira de encargos” do Recreativo Kilamba via incluir um programa de inclusão social, para ajudar a tirar vários jovens do desemprego. “Queremos criar mais projectos inovadores, em especial os ligados a valorização de algumas profissões em desuso, como a costura e a produção musical, com destaque à produção de instrumentos tradicionais”, destacou o comandante.
Poli Rocha informou que a geração de empregos nas comunidades carenciadas e a valorização das “profissões em extinção” no mercado das artes e ofícios, “por culpa da inexistência de políticas proteccionistas às pequenas iniciativas”, são parte da “cadeia de prioridades” do grupo para os próximos anos. Somente com espírito criativo, continuou, se pode tirar vantagens dos avanços tecnológicos, a favor da valorização dos pequenos ofícios, que podem servir como fonte de rendimento e garantir a auto sustentabilidade dos programas socioculturais e artísticos.
A aceitação do Recreativo Kilamba entre os eleitos desta edição do projecto, representa para Poli Rocha, uma oportunidade para ajudar na valorização das profissões ligadas ao Carnaval. “A ideia é incentivar a empregabilidade entre os membros do grupo, em especial os jovens”, disse.
O financiamento, acrescentou, inclui, também, a elaboração de um arquivo histórico do grupo, de forma a ter uma referência para as próximas gerações.
Oportunidade
O financiamento de algumas artes e ofícios, ligadas ao Carnaval, vai permitir, na opinião de Poli Rocha, o grupo ter mais possibilidades de se preparar condignamente e não depender, tanto, da verba atribuída pelo Executivo.
Com a implementação do projecto, referiu, não só estas profissões ficam salvaguardadas, como também há possibilidade de incentivar a transmissão de conhecimento às novas gerações. “Mas a forma de financiamento do projecto ao grupo vai ser faseado, porque o dinheiro é disponibilizado em função da materialização, parcelar, dos projectos e mediante aos relatórios sobre a gestão dos mesmos”, explicou.
Preocupações
A existência, actualmente, de poucas fontes de pesquisas orais e escritas é uma das preocupações do União Recreativo Kilamba, para quem muitas destas “bibliotecas vivas” são fundamentais para a construção de uma identidade própria.
“Muito pouco se sabe sobre a história do Carnaval, mesmo com alguns registos existentes. Os jovens praticamente desconhecem a essência da festa. Outro aspecto negativo é a falta de acervos bibliográficos sobre o Entrudo. Apenas algumas fontes orais, como Dionísio
Rocha ou Roldão Ferreira têm dado certo contributo. É preciso mais”, destacou.
Outro facto preocupante, revelou, é a actual expansão dos bairros, processo que tem levado, para outros municípios muita das particularidades típicas do Carnaval. “Alguns dançarinos, devido as mudanças, levam a essência da festa a outros municípios, criando fusões, algumas das quais boas, mas outras nem tanto”.
O projecto
O programa “Diversidade” é financiado e assegurado pela União Europeia, no âmbito de um projecto de apoio aos criadores dos Países de Língua Oficial Portuguesa. Co-financiado e gerido pelo Camões e pela Fundação Calouste Gulbenkian, a iniciativa tem também a participação da Alliance Française de Luanda, do Centro Cultural Português e do Goethe Institut.
A iniciativa permite apoiar subsectores culturais ligados à música, dança, teatro, artes visuais, performativas, arquitectura, literatura, cinema, televisão, imprensa, design, educação, turismo, ambiente e acção social.