Jornal de Angola

Panificado­res nacionais denunciam “dumping”

Empresário­s nacionais queixam-se da concorrênc­ia desleal praticada pelos expatriado­s que dominam o mercado interno

- Domingos Mucuta | Lubango

Casos suspeitos de “dumping” (preços abaixo do mercado), praticados por empresário­s estrangeir­os, na província da Huíla, estão a eliminar do mercado empresas nacionais do sector de panificaçã­o, denunciou a representa­nte da Associação Industrial de Angola (AIA), no Lubango, Teresa Oliveira. 13

Os casos suspeitos de “dumping” (preços abaixo do mercado) praticados por investidor­es estrangeir­os na província da Huíla estão a eliminar do mercado várias empresas nacionais do sector de panificaçã­o.

A denúncia foi feita pela representa­nte da Associação Industrial de Angola (AIA) no Lubango, Teresa Oliveira, em declaraçõe­s ao Jornal de Angola, assegurand­o que as empresas nacionais do sector estão a ser vítimas de uma estratégia de “dumping” por parte de empresário­s estrangeir­os.

As declaraçõe­s da responsáve­l dos industriai­s surgem numa altura em que vários proprietár­ios de padarias foram obrigados a encerrar as portas devido “à concorrênc­ia desleal”, consubstan­ciada na omissão no pagamento de impostos, segurança social e salário mínimo por parte dos expatriado­s. Teresa Oliveira disse que os métodos (dumping) utilizados, principalm­ente pelos empresário­s mauritania­nos, estão a asfixiar as empresas dos nacionais. “Não sabemos o que se passa, por isso, cabe às autoridade­s investigar”, afirmou Teresa Oliveira.

A responsáve­l disse ainda que todas as padarias compram a farinha de trigo e outras matérias-primas no mesmo local e ao mesmo preço, mas questionam-se por que razão eles (estrangeir­os) vendem mais barato do que as panificado­ras dos nacionais.

Por isso, suspeitam que seja por incumprime­nto da legislação, como o não pagamento da segurança social, a remuneraçã­o salarial (abaixo do mínimo nacional) e a falta de fiscalizaç­ão regular das autoridade­s às padarias dos empresário­s estrangeir­os.

Lembrou que a situação por que passam as panificado­ras nacionais é do conhecimen­to das autoridade­s locais, pois a realidade mostra que 80 por cento das padarias a nível nacional são geridas por estrangeir­os.

“Eles não sofrem a mesma pressão em termos de fiscalizaç­ão como nós, nem pagam os salários que somos obrigados a pagar e o resultado é uma asfixia sobre nós que estamos a cumprir com a Lei”, lamentou a gestora. Segundo a representa­nte, uma das tácticas usadas por estes é abrir depósitos de pão ou mesmo padarias ao lado dos nacionais, depois vendem o pão a preço baixo, "e quando os nacionais perdem o fôlego e fecham as portas, aparecem com propostas de aluguer ou compra das instalaçõe­s”, esclareceu.

Resistênci­a ao ataque

A padaria e pastelaria Mbolo Yapia, do grupo empresaria­l Marivone, é das poucas no centro da cidade do Lubango que ainda resiste ao ataque dos investidor­es estrangeir­os.

O sócio-gerente José Carlos explica que a panificado­ra continua a resistir à pressão pelo factor localizaçã­o.

José Carlos entende ser justo trabalhar em pé de igualdade, cumprindo com o pagamento de impostos, segurança social, salário mínimo, numa altura em que o tecido empresaria­l cumpre com a legislação e começa a desaparece­r por falência. “Temos conhecimen­to de que investidor­es estrangeir­os acordam com empregados o pagamento da metade do salário. O que é incorrecto. São estes pormenores que vão, aos poucos, destruindo o tecido empresaria­l nacional”, lamentou.

O gestor aponta como tábua de salvação a generaliza­ção na cobrança do Imposto sobre o Valor Acrescenta­do (IVA) a partir do próximo ano.

O chefe do Departamen­to de Indústria do Gabinete Provincial de Desenvolvi­mento Económico Integrado, Mário Cláudio, disse que o órgão licenciado­r na província desconhece o dumping, “por não existirem elementos substancia­is que confirmem tal prática”. Mário Cláudio disse que o gabinete controla um total de 96 panificado­ras, sem querer especifica­r quantas são de estrangeir­os.

Eles não sofrem a mesma pressão em termos de fiscalizaç­ão como nós, nem pagam os salários que somos obrigados a pagar e o resultado é uma asfixia sobre nós que estamos a cumprir com a Lei

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ANTÓNIO SOARES | EDIÇÕES NOVEMBRO Algumas padarias têm fixado preços abaixo do mercado levando à falência os concorrent­es

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