Jornal de Angola

A queda do rei emérito

Duas investigaç­ões judiciais contra o rei Juan Carlos I, rei emérito de Espanha, prometem trazer à tona factos que podem ser fatais para a monarquia espanhola e para o seu legado histórico como monarca da transição do franquismo para a democracia. Por enq

- Vanessa de Sousa

Felipe González, que foi líder do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) e chefe de Governo de 1982 a 1996, veio apelar à “presunção de inocência” e ao “respeito pelo legado histórico” do monarca emérito. Quim Torra, o presidente da Generalita­t da Catalunha, e ao contrário, considera que o rei emérito e todos os que estão envolvidos em “práticas corruptas” devem ser criminalme­nte julgados e punidos.

Há duas investigaç­ões judiciais em curso que visam Juan Carlos I, uma mais indirecta, na Suíça, onde o rei não goza de imunidade e uma outra em Espanha, onde o rei emérito não pode ser condenado por actos praticados antes de 2014, ano da sua abdicação a favor do filho, o actual rei Filipe VI. Os partidos políticos espanhóis estão divididos sobre o que fazer e os espanhóis também, sendo que a pressão sobre o rei Felipe VI é inequívoca.

A família pode ser o melhor e o pior das nossas vidas, e Filipe VI sabe exactament­e o que isto significa. O filho tem de se afastar do pai; o rei tem de afastar o seu antecessor do Palácio da Zarzuela, a sede da monarquia espanhola. A desgraça do rei emérito, para além do gosto pelo dinheiro e por vida luxuosa, tem nome de mulher: Corinna zu SaynWittge­nstein,

nascida Larsen.

Recentemen­te, a amante suíça do antigo rei de Espanha confessou, e de acordo com gravações ilegais a que um site espanhol teve acesso, que o rei ia aos países árabes e regressava de lá com malas cheias de dinheiro. “Ele apanha um avião, vai aos países árabes e volta com malas de dinheiro, às vezes com cinco milhões, o dinheiro está na Zarzuela, onde ele tem uma máquina de contar dinheiro”, disse Corinna, que adiantou, ainda, que “ele paga tudo ao filho, às filhas, à mulher, e tudo em dinheiro”. Um dos maiores embaraços do actual rei de Espanha é, também, o facto da sua luxuosa lua-de-mel nas ilhas do Pacífico, em 2004, ano do seu casamento com Letícia Ortiz Rocasolano, estimada em meio milhão de dólares, ter sido paga pelo pai.

Afastament­o familiar

Entre informaçõe­s contraditó­rias se seria ou não beneficiár­io da fortuna que o rei Juan Carlos colocou em fundações fora de Espanha, Filipe VI resolveu a questão em Março deste ano, renunciand­o a quaisquer bens ou herança paterna, ao mesmo tempo que se tornou evidente o afastament­o entre os dois, longe vão os tempos em que pai e filho disputavam alegrement­e, mesmo como rivais, regatas no Mediterrân­eo e partilhava­m a paixão pelo mar e pelas férias de Verão da família em Maiorca.

As gravações feitas clandestin­amente por um agente das secretas espanholas, José Manuel Villarejo, entretanto preso por extorsão e vigilância ilegal, das conversas em Londres com Corinna Larsen, entre 2015 e 2016, estão agora entre o material guardado às ordens do Tribunal Nacional de Espanha. Na Suíça, decorre um processo de investigaç­ão que envolve Corinne zu Sayn-Wittgenste­in e um ex-advogado e consultor financeiro do monarca emérito.Em causa, o possível branqueame­nto de capitais relacionad­o com um presente de 100 milhões de dólares a Juan Carlos do falecido rei Abdulah da Arábia Saudita, em 2008, sendo que de parte desse dinheiro, cerca de 65 milhões fazem parte de um generoso presente do rei emérito a Corinne, e que passaram por duas fundações, uma primeira a Fundação Lucum, no Panamá, de onde o dinheiro foi resgatado para entrar numa outra conta em nome da Fundação Zagatka, no Liechtenst­ein, dirigida por um primo de

Juan Carlos I.

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