Tributo aos guardiões dos valores da família
A data de 26 de Julho foi escolhida pelo papa Paulo VI, no século XX, para homenagear os pais. Mas hoje, não obstante os avôs viverem entre a rejeição e a vergonha, inúmeras famílias mantêm o respeito a este guardião dos valores da família
Quando fala dos seus avôs, o jovem Leonardo Sanorde transmite, na sua voz gutural, um timbre dócil e repleto de afecto, admiração e gratidão. Aos 21 anos, considera-se um dos netos mais ligados aos avôs.
“Eles representam uma grande marca na minha vida, porque, com eles, aprendo muito…”, conta, deixando escapar um sorriso.
Hoje, 26 de Julho, é Dia do Avô. A data foi escolhida pelo Papa Paulo VI, no século XX, para homenagear os pais de Maria, mãe de Jesus, chamados Ana e Joaquim. Esses dois personagens históricos e bíblicos foram canonizados no século XVI, pelo Papa Gregório VIII, por serem pais da mãe de Cristo. Santa Ana e São Joaquim, os avôs de Jesus, ao longo dos séculos, receberam comemorações festivas em diversas datas diferentes.
Diz Sanorde que o seu avô tem uma riqueza muito comum entre os mais velhos: provérbios. “Ele passa-me muitos ensinamentos, que uso no meu dia-a-dia.”
Mas não só o passado o jovem absorve dos avôs. Ele também enaltece a forma dialogante que o ajuda a caminhar na vida e centralizar os objectivos para o futuro.
“Já a minha avó é uma mulher que prefere doar-se para os filhos, netos e família, sem esperar algo em troca”, define no mesmo tom com que começou a conversa.
O jovem assegura que a relação que tem com os avôs é muito interactiva e forte. Quando eles necessitam de alguma coisa, pedem, primeiro, a ele, e não aos filhos.
“O meu avô diz que eu sou o general dele”, afirma, para explicar que, quando, por exemplo, querem recarregar o telefone, a energia ou realizar uma actividade ele é contactado para executar a tarefa ou fazer parte dela.
A relação é de muito aprendizado, pois a família de Leonardo Sanorde olha para os avôs como pessoas que merecem todo o respeito, admiração.
“Os nossos avôs não devem representar um fardo ou ser tidos como pessoas maldosas nas famílias”, acrescenta.
Embora perto da casa dos 50 anos, Adriano Samuel é avô e, como diz, no contexto familiar, tem o papel fundamental de garantir a sobrevivência e a continuidade biológica da família.
Ele diz que trabalha para a estabilidade da família, o que decorre da transmissão de valores familiares, da criação de condições económicas e sociais, afectivas e espirituais.
No caso particular de Angola, Adriano Samuel, também sociólogo, explica que se depara com uma grande influência ocidental, por conta do colonialismo e do cristianismo, que intervêm na forma de estar e ser.
“Por meio do cristianismo, toda a nossa conduta é moldada, desde a orientação sexual, os valores de solidariedade e amor, até ao processo de educação.”
No contexto actual, diz, a globalização afecta a sociedade e a estrutura das famílias, daí que um conjunto de fenómenos precisam de respaldo do Estado angolano para evitar a desestruturação do tecido familiar.
“Encontramos hoje várias famílias desestruturadas na nossa sociedade”, admite Adriano Samuel. Ele defende que a valorização do papel dos avôs vai contribuir para a estabilidade da família.
Para o sociólogo, as famílias estáveis reconhecem com mais facilidade o valor e o papel do avô, ao contrário das desestruturadas.