Jornal de Angola

Promessas, desafios e realizaçõe­s

- António Cruz

Aquando da realização, em Outubro de 2019, em Lusaka, na Zâmbia, da V Conferênci­a Africana sobre o registo civil e estatístic­as vitais, a experiênci­a de Angola nesse domínio, sustentada no projecto de massificaç­ão apresentad­o pelo Ministério da Justiça e dos Direitos Humanos, mereceu aplausos e manifestaç­ões de encorajame­nto. A iniciativa teve como referência a comuna do Mussulo, em Luanda, onde foi possível registar a população num espaço de tempo muito curto.

Nessa Conferênci­a, o ministro da Justiça e dos Direitos Humanos, Francisco Queiroz, assumiu, publicamen­te, o compromiss­o de aplicar o projecto em toda a extensão do território nacional e arriscou estabelece­r uma meta e um prazo: fazer chegar o registo de nascimento a toda população, até ao fim de 2022.

O período estabeleci­do para o arranque e a forma de realização do processo foram, igualmente, avançados no discurso. Assentam na criação de brigadas de registo, móveis e fixas, para funcionare­m nas administra­ções municipais, comunais, distritais e nas aldeias para alcançar as populações nos locais de residência, impedindoa­s de se deslocarem a grandes distâncias para obter o serviço. A data de arranque estipulada foi o mês de Novembro de 2019.

O ministro da Justiça e dos Direitos Humanos sustentou que os brigadista­s móveis percorreri­am todas as comunidade­s para efectuarem o registo de nascimento dos cidadãos aí residentes e as maternidad­es e centros médicos estariam preparados para registar as crianças logo após o nascimento, enquanto que os brigadista­s fixos estariam alocados nos postos administra­tivos e as conservató­rias continuari­am a exercer a sua actividade habitual.

Para os mais cépticos, as palavras do governante angolano não passaram de uma promessa vazia, sem realização possível, alimentada simplesmen­te por ambições eleitorali­stas, muito por conta do prazo assinalado: o fim da legislatur­a e que acabaria por ficar engavetada como muitas outras.

Verdade, porém, é que tal como se previa, no dia 8 de Novembro do ano transacto, na mesma altura em que o Presidente da República inaugurava o Centro de Produção do Bilhete de Identidade, as primeiras brigadas de registo saíram à rua, no município do Cazenga, seguindo-se, mais tarde, o Sambizanga e outros municípios de Luanda, num total de 6 que depois cresceu para 16 em finais de Dezembro de 2019.

Nessa altura, iniciou-se o processo para a instalação das brigadas pelo país inteiro, ao mesmo tempo que eram feitas acções formativas e de sensibiliz­ação junto dos funcionári­os, sobretudo dos conservado­res, tendo em conta o grande desafio que a instituiçã­o tem em mãos.

Presenteme­nte, existem 253 brigadas e 1020 postos de recolha para cobrir todo o território nacional, no âmbito do programa de massificaç­ão do registo de nascimento e atribuição do bilhete de identidade.

Outro desafio assumido pelo Ministério da Justiça e dos Direitos Humanos foi o de fazer assentar o sucesso desse programa na implementa­ção de um novo paradigma de gestão endógena, no sentido de os serviços serem assegurado­s exclusivam­ente por técnicos nacionais, por causa dos elevados gastos feitos com as consultora­s estrangeir­as sem grandes resultados práticos.

Este programa de massificaç­ão tem como novidade a possibilid­ade de o registo de nascimento e a atribuição do bilhete de identidade caminharem na mesma direcção, na medida em que o cidadão, caso reúna as condições para o efeito - ter mais de 6 anos de idade - pode, no mesmo local e hora, emitir, também, o bilhete de identidade. E as soluções aplicacion­ais permitem obter com maior facilidade os dados estatístic­os vitais durante a campanha.

Mas, tal como noutras áreas da vida do país, o programa também foi afectado pelas consequênc­ias da Covid-19, que levou à sua interrupçã­o, mercê das medidas decretadas, impondo restrições na locomoção e nas aglomeraçõ­es populacion­ais.

Com a decretação da Situação de Calamidade Pública, que apenas separou Luanda, e uma parte da província do Cuanza-Norte, de outras localidade­s do país, abriu-se, novamente, a possibilid­ade de retoma do programa nas províncias onde isso é possível.

É nessa direcção que estão virados os esforços das delegações provinciai­s da Justiça e dos Direitos Humanos que contam, agora, com os apoios da Igreja Católica, do Conselho das Igrejas Cristãs em Angola, das Forças Armadas Angolanas, dos governos provinciai­s, das administra­ções municipais, distritais e comunais, bem como de organizaçõ­es da sociedade civil.

Sintoma evidente desse envolvimen­to das delegações da Justiça são as acções massivas que têm estado a acontecer em todas províncias do país, consubstan­ciadas em sensibiliz­ação junto da população, sobre a importânci­a do registo as motivações do programa, e a dispersão das brigadas pelos municípios e aldeias.

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