Presidente nomeia um novo Primeiro-Ministro
No seguimento de mais uma das já habituais crises políticas, a Tunísia tem, desde ontem, um novo Primeiro-Ministro numa tentativa do Chefe de Estado para sanar disputas internas
O ex-ministro tunisino do Interior, Hichem Mechichi, foi nomeado, ontem, como novo Primeiro-Ministro pelo Presidente Kais Saied, segundo a AFP.
Esta nomeação segue-se à renúncia, a 15 de Julho, do ex-chefe do Governo, Elyes Fakhfakh, após alegações de conflito de interesses e disputas políticas.
Nenhum dos candidatos propostos pelos principais blocos políticos da Tunísia foi indicado para formar o novo Governo.
Em vez disso, o Presidente tunisino optou pelo homem que era ministro do Interior desde Fevereiro.
O novo Primeiro-Ministro, de 46 anos, é advogado de formação e foi durante pouco tempo conselheiro do Presidente.
Desde 2014, exerceu o cargo de director de gabinete de vários ministérios, incluindo o dos Assuntos Sociais e da Saúde. O novo Chefe do Executivo tem um mês para formar o Governo, que deve ser aprovado pelo Parlamento.
Na sexta-feira, o ministro tunisino dos Negócios Estrangeiros, Noureddine Erray, tinha sido demitido pelo Presidente Kais Saeid, tendo sido interinamente substituído por Salma Ennaifer, que era a número dois daquele ministério.
Segundo a AFP, a principal razão para a exoneração de Erray está ligada à “falta de coesão” na gestão de certas questões diplomáticas, incluindo a crise líbia.
Noureddine Erray é o segundo ministro dos Negócios Estrangeiros a ser demitido desde a chegada de Kais
Saeid ao poder, e o sétimo ministro demitido pelo Primeiro-Ministro Fakhfakh, segundo estas fontes.
O antecessor de Erray, Khemais Jhinaoui, foi demitido a 29 de Outubro de 2019, e alguns dias após a sua partida, uma autoridade governamental foi encarregue de levar a cabo um controlo administrativo e financeiro minucioso do ministério, refere-se.
Sob a direcção de Jhinaoui, a visita de uma delegação de jovens tunisinos a Israel para participar num simpósio, financiado pela União Europeia, também suscitou uma onda de protestos no país.
Presidente contra ingerência externa
Ontem, o Presidente tunisino, Kais Saied, sem se referir directamente a esta nova crise política, criticou as ingerências estrangeiras na Tunísia, que considera terem como objectivo fazer reverter a jovem democracia e advertiu contra a divisão da vizinha Líbia.
“Há numerosas indicações sobre ingerências externas na Tunísia por parte de forças que tentam fazer reverter” a democracia na Tunísia, afirmou Saied, que se encontra de visita à França, acusando os partidos tunisinos de serem “coniventes” com quem está a querer mudar o rumo no país.
Apesar de garantir ter em posse “muitas informações” sobre as ingerências, Saied recusou avançar pormenores sobre quem serão as “forças”, argumentando que o “dever” o “impede de falar” para evitar que a situação na Tunísia se torne mais complexa”.
Desde o início deste mês que os partidos políticos tunisinos se têm criticado mutuamente no Parlamento quanto à posição da Tunísia no conflito líbio, acusados de estarem a ser manipulados, mas sem que se indiquem quais os interesses e quem está por trás.
O Presidente tunisino rejeitou, por outro lado, todas as ingerências estrangeiras na Líbia, dividida entre o Governo de União Nacional (GNA), com base em Tripoli, e as forças do marechal Khalifa Haftar, “homem-forte” do Leste do país.
“As intervenções estrangeiras apenas agravam os conflitos”, insistiu, sublinhando que a responsabilidade é partilhada”.
O Presidente tunisino alertou, também, para os perigos das tentativas para “dividir” a Líbia. “A divisão da Líbia poderá constituir uma porta aberta à divisão de outros países vizinhos e é um perigo para a Tunísia e para a Argélia”, advertiu Saied, que também criticou o apoio do Presidente do Parlamento tunisino, Rached Ghannouchi, igualmente líder do partido de inspiração islamita Ennahdha, próximo de Ancara.
“A legalidade internacional e uma resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas dará uma base legal ao Governo de Fayez al-Sarraj, mas essa legalidade internacional não pode durar”, pelo que “deve ser substituída pela legitimidade popular”, considerou. “Só há uma diplomacia tunisina e é dirigida pelo Chefe de Estado”, acrescentou.