Os bairros suburbanos
Vivo num bairro suburbano desde a proclamação da Independência de Angola, e acho que as áreas periféricas da cidade de Luanda podiam estar melhor em termos de qualidade de vida. Já que não é possível partir de uma só vez todos os bairros suburbanos de Luanda, era bom que houvesse ao menos acções no sentido de se melhorar o saneamento básico para se evitarem doenças. Sou da opinião de que viver num bairro suburbano, no sentido deste estar fora das áreas tradicionalmente urbanas, seja uma calamidade. O importante é que haja nesses bairros ordenamento, eficientes sistemas de saneamento básico e serviços diversos. É claro que vai ter de se gastar algum dinheiro para se fazerem certas infra-estruturas nas áreas suburbanas. Há milhares de angolanos que não gostam nem querem viver em prédios com mais de vinte ou mais andares. É preciso que se convidem especialistas como antropólogos e sociólogos para darem as suas opiniões quando se pretende realizar obras em áreas habitadas por agregados familiares com mais de dez pessoas, com hábitos que não se adaptam a espaços como apartamentos, em que vêem por exemplo os seus movimentos limitados. Temos muita terra em Angola e até hoje me pergunto por que razão se fizeram no Zango casas pequeníssimas, quando se podiam fazer coisas melhores do que os colonialistas fizeram, ao nível de casas sociais para pessoas pobres com baixos rendimentos. Temos terrenos para fazermos casas grandes e belas na horizontal (não sei se este é o termo correcto) a fim de albergar famílias numerosas. Que os nossos arquitectos, com a ajuda de antropólogos e sociólogos, ajudem os governantes a transformar os nossos bairros suburbanos em locais bons para se viver. Não me importava de continuar a viver no meu Marçal até ao fim dos meus dias, desde que o Estado me ajudasse a construir uma casa digna no bairro, com infra-estruturas funcionais e em que a água e energia fossem fornecidas regularmente.