Corrida espacial rumo ao “Planeta Vermelho”
No meio de uma pandemia, quando o noticiário é quase todo refém de informações sobre a Covid-19, falar na corrida ao espaço, em particular a Marte, levanta todo o tipo de especulações, desde as mais optimistas, as cépticas, a passar, como é óbvio, pelos t
As missões até agora enviadas, pelos Estados Unidos da América (EUA), China e Emirados Árabes Unidos (EAU) têm como objectivo a pesquisa das condições climáticas do Planeta Vermelho, com o propósito de analisar a possibilidade de humanos habitarem o território marciano.
Uma viagem tripulada a Marte custa de 100 a 500 mil milhões de dólares. Desde 1972, toda a exploração espacial foi realizada por robôs, mais baratos e, segundo alguns, também muito mais duráveis, pelo que nenhum país quer ser o primeiro a ter um astronauta morto noutro planeta.
Devido à grande distância, aos avultados custos e às condições atmosféricas do planeta, a chegada de sondas robóticas a Marte é bastante difícil. Isso significa que levar para lá um humano com segurança pode ser quase impossível.
Janela de Julho
A nova corrida espacial acontece neste mês de Julho, quando o alinhamento da Terra e de Marte torna as viagens ao PlanetaVermelho com menos riscos de fracasso, uma janela que acontece a cada 26 meses.
Novatos nestas andanças, os EAU lançaram a 14 de Julho a sua missão interplanetária, a primeira liderada por uma nação árabe-islâmica. A Hope Mars deve pousar em terreno marciano em 2021 e terá a duração de dois anos. Realizada com a parceria das universidades do Colorado Bolder, Estadual de Arizona e da Califórnia, em Berkeley, tem como objectivo estudar a atmosfera, o tempo e o clima em Marte para procurar entender como aquele planeta deixou de ser cálido e húmido para se tornar frio e deserto como é hoje.
A China lançou a 23 de Junho a missão Tianwen-1 – “Busca pela verdade celestial” – a primeira viagem 100% chinesa rumo a Marte. A sonda orbitará o planeta antes de pousar um veículo espacial na superfície, com a esperança de reunir informações importantes sobre o solo marciano, estrutura geológica, ambiente, atmosfera e buscar sinais de água.
A missão é composta de um orbitador, um pousador e uma sonda de 240 kg, do tamanho de um carro de golfe. O orbitador tem uma câmera de alta resolução, um magnetómetro e um espectrômetro mineral, que vai investigar a composição das rochas. O veículo também é composto por uma estação meteorológica, um detector de campo magnético e um radar de penetração no solo, que pode detectar o gelo abaixo da superfície a uma profundidade de cerca de 100 metros.
Em artigo, a equipa científica responsável pela missão afirmou que “nenhuma missão planetária foi desenvolvida dessa maneira”.
O sucesso da missão é visto como a entrada da China no universo das explorações interplanetárias. As autoridades espaciais do país querem lançar em 2030 uma missão para trazer amostras marcianas.
EUA pretendem usar helicóptero
Essa é a missão do Perseverance, projecto capitaneado pelos EUA e por países da Europa. A sonda tem um pouco mais de uma tonelada e deve ser lançada hoje, 30 de Julho, a bordo do foguete Atlas 5, da Estação da Força Aérea de Cabo Canaveral, na Flórida.
A previsão é que a Perseverance pouse em Marte também em 2021. Ali vai procurar sinais que indiquem a existência de vida no passado. Uma cratera de 45 km de largura onde existiu um lago e um delta há bilhões de anos será o campo de trabalho. Pela primeira vez, um helicóptero, chamado de Ingenuity, fará o primeiro voo de exploração de área fora da Terra, o que abre caminho para a incorporação de helicópteros em missões futuras da NASA. A Perseverance é a sétima sonda que a NASA envia a Marte e o quarto veículo espacial. A agência especial norte-americana recebe até hoje dados sobre a superfície marciana, enviados pela Curiosity, que pousou em Marte em 2012.
“Ameaça” chinesa
O envolvimento da China na nova corrida espacial tem gerado algum desconfortonos EUA, temendo-se o que durante muitos anos aconteceu com a antiga União Soviética. O administrador da NASA, Jim Bridenstine, afirmou recentemente que a agência espacial assumiu o desafio colocado pelo Presidente Donald Trump de regressar à Lua até 2024, 55 anos depois da missão Apollo 11 em 1969.
Esse objectivo é “ambicioso e entusiasmante”, disse Bridenstine. Já James Burje, que trasmitiu a chegada da Apollo 11 à Lua, considera-o impossível deatingirnesseespaçodetempo. “Ficaria muito surpreso se voltássemos à Lua, digo a Europa ou os EUA, até que fique muito mais barato”, afirmou Burke. “A NASA quer que o dinheiro continue a vir, mas tenho a impressão que há pouco entusiasmo para voltar”.
Burke tem os olhos postos no gigante asiático. “Vamos ver algo da China. Acredito que farão alguma coisa com a Lua epousarãoem Marte. Vãochegar láprimeiroqueos EUA”,afirmou Burke. “A China terá humanos emMartenospróximos10anos. A NASA não”, adiantou.