Estranha impunidade
De finanças, plagio o poeta português Fernando Pessoa, nada sei, mas até um ignorante reconhece a fragilidade da nossa economia e que há quem, descarada e impunemente, lucre com isso.
Qualquer analfabeto, no sentido autêntico da palavra, percebe a debilidade da nossa situação económica e que, apesar dos programas governamentais e particulares anunciados, alguns dos quais já em execução, não é tão cedo que começamos “a ver a luz ao fundo do túnel” tal o comprimento que ele tem e as trevas que o entopem. Parte das causas deste imbróglio em que o país está são conhecidas, vêm de tempos mais ou menos distantes, alguns nem tanto como isso, mas escudarmo-nos eternamente nelas como fatalidade, cruzarmos os braços, afirmar não haver nada a fazer, é atitude tão grave e condenável como a daqueles que, em proveito próprio, nos tornaram tão dependentes de tudo. Pior, se tal é possível, apenas a acção dos que deviam, no mínimo, denunciá-los, mas, pelo contrário, lhes aparam o jogo, alargando a malha gigantesca de corrupção que, altura houve, quase chegou a institucionalizar-se.
Os actos de sabotagem económica de que este gigante entorpecido chamado Angola é ininterruptamente alvo atestam quão difícil vai ser desentorpecê-lo para podermos aspirar a deixar às futuras gerações uma Angola mais saudável, fraterna, de menos desigualdades do que a da actual, na qual continuam a imperar bajulação, amiguismo, incompetência premiada, impunidade, ingredientes essenciais à corrupção.
O exemplo das kinguilas é dos mais gritantes da corrupção permitida, encorajada. O cidadão comum, que tem de pagar todos os custos das crises, tenham elas as origens que tiverem, não consegue entender porquê que aquelas cambistas ilegais de dinheiro que lhes vem parar às mãos por caminhos dúbios estão acima da lei. Perguntem à modesta e trabalhadora zungueira por qual razão tantas vezes é enxotada por polícias que não fazem o mesmo aos traficantes de moeda que desenvolvem a actividade na via pública em plena luz do dia, e ela talvez responda.
A protecção - neste caso, é incentivo ao desrespeito à lei - dada às kinguilas tem de ter explicação plausível. Se afinal, são indispensáveis à diversificação e recuperação da economia, mesmo não pagando impostos, nem invistam, tal como quem lhes faz chegar o dinheiro, então que quem pode, saiba e deve venha a público explicar. Se assim não é, que se faça algo para pôr cobro a este escândalo. É outra maneira de demonstrar que ninguém está acima da lei e o combate à corrupção e impunidade abrange todos.
As kinguilas, no fundo, pode argumentar-se, constituem o elo mais frágil desta correia criminosa elos de corrupção e impunidade. Verdade que sim e por isso mesmo, também, se estranha os que mais lucram com a negociata à base de dinheiro alheio não seja levados a tribunal. Chegar a eles não precisa sequer investigação apurada tão evidentes são os atalhos que levam até eles. Basta querer que é, pelos vistos, o que continua a faltar.
O assunto, com todos os ingredientes de um filme policial de terceira categoria, também pode ser aproveitado para comédia destinada a maiores de 6 anos, mas, infelizmente, é drama real. Que há-de, um dia, fazer parte da nossa História estudada pela novas gerações em todos os graus de ensino e temas de debates profícuos e serenos que evitem repetições que se querem irrepetíveis . Antes, porém, é urgente tratar do presente que obriga a acabar com a mentalidade de “xico esperto” ainda a habitar em muitos de nós. Quando tal suceder, temos meio caminho andado para sermos verdadeiramente um país independente.
O exemplo das kinguilas é dos mais gritantes da corrupção permitida, encorajada. O cidadão comum, que tem de pagar todos os custos das crises, tenham elas as origens que tiverem, não consegue entender porquê que aquelas cambistas ilegais de dinheiro que lhes vem parar às mãos por caminhos dúbios estão acima da lei. Perguntem à modesta e trabalhadora zungueira por qual razão tantas vezes é enxotada por polícias que não fazem o mesmo aos traficantes de moeda que desenvolvem a actividade na via pública em plena luz do dia