A pandemia do lixo
A pandemia do lixo, que também mata, é muito mais antiga que a do coronavírus, embora, pelo menos em Luanda, não seja tão combatida, apesar de ser, indubitavelmente, mais fácil de a evitar.
Verdade é que a mais recente delas encontrou, nesta nossa cidade, aliada de peso na segunda, sabendo-se, como se sabe, que o coronavírus - dêemlhe a numeração que derem - tem como inimigo implacável o asseio de qual foge não sei a sete pés ou asas, pois não há quem o tenha visto “cara a cara”, nem em ajuntamentos, farras, sentadas em escadas e corredores de prédios, bares ou grupos das impunes kinguilas. Porque invisível, deve escapulir-se pelo ar, tal qual “anjo mau”.
Luanda, a cidade e a província que lhe herdou o nome, por razões ultra conhecidas, é imunda. E se excepções há são apenas isso, a confirmarem a regra. E assim, coitada, há-de continuar, enquanto não tiver um plano urbanístico pensado e executado por profissionais competentes de várias áreas, que os temos, como arquitectos de diferentes especialidades, engenheiros, ambientalistas, todos abertos a ouvir e dialogar e a puxarem desinteressadamente para o mesmo lado. Pelo menos, estes. Sem eles qualquer projecto está condenado ao fracasso. Dispensamse curiosos, empertigados, câmaras de eco, repetidores de despautérios, “bocas de aluguer”, sabichões, enfermeiros feitos fiscais de obras.
A tarefa, aliciante para quem se envolver nela de corpo e alma, é, certamente, morosa para dispensar remendos futuros, mas vale a pena. Até lá, Luanda, a cidade e a província que lhe dá o nome, apenas será arremedo do que deve e pode ser. No imediato, se lhe tratarem da limpeza já não é mau. Pode, aliás, ser o primeiro passo para a mitigação de doenças antigas, novas e futuras.