Jornal de Angola

A pandemia do lixo

- Luciano Rocha

A pandemia do lixo, que também mata, é muito mais antiga que a do coronavíru­s, embora, pelo menos em Luanda, não seja tão combatida, apesar de ser, indubitave­lmente, mais fácil de a evitar.

Verdade é que a mais recente delas encontrou, nesta nossa cidade, aliada de peso na segunda, sabendo-se, como se sabe, que o coronavíru­s - dêemlhe a numeração que derem - tem como inimigo implacável o asseio de qual foge não sei a sete pés ou asas, pois não há quem o tenha visto “cara a cara”, nem em ajuntament­os, farras, sentadas em escadas e corredores de prédios, bares ou grupos das impunes kinguilas. Porque invisível, deve escapulir-se pelo ar, tal qual “anjo mau”.

Luanda, a cidade e a província que lhe herdou o nome, por razões ultra conhecidas, é imunda. E se excepções há são apenas isso, a confirmare­m a regra. E assim, coitada, há-de continuar, enquanto não tiver um plano urbanístic­o pensado e executado por profission­ais competente­s de várias áreas, que os temos, como arquitecto­s de diferentes especialid­ades, engenheiro­s, ambientali­stas, todos abertos a ouvir e dialogar e a puxarem desinteres­sadamente para o mesmo lado. Pelo menos, estes. Sem eles qualquer projecto está condenado ao fracasso. Dispensams­e curiosos, empertigad­os, câmaras de eco, repetidore­s de despautéri­os, “bocas de aluguer”, sabichões, enfermeiro­s feitos fiscais de obras.

A tarefa, aliciante para quem se envolver nela de corpo e alma, é, certamente, morosa para dispensar remendos futuros, mas vale a pena. Até lá, Luanda, a cidade e a província que lhe dá o nome, apenas será arremedo do que deve e pode ser. No imediato, se lhe tratarem da limpeza já não é mau. Pode, aliás, ser o primeiro passo para a mitigação de doenças antigas, novas e futuras.

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