Jornal de Angola

A economia não espera

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Sou pequeno negociante e vivo numa localidade na periferia de Luanda, na fronteira entre Cacuaco e Viana. Sinto na pele o dia-a-dia das famílias mais pobres e escrevo com muita preocupaçã­o por causa do impacto das medidas excepciona­is e temporária­s decretadas ao Mais Alto Nível para conter a Covid-19. Falo sobre a economia que, como parece, constitui uma espécie de o outro lado da moeda quando se trata da paralisia geral provocada pela Covid-19.

Vivemos hoje uma pandemia que parece decidida a não largar a humanidade e que, ao que tudo indica, apenas uma vacina poderá deixar descansada as famílias e pessoas singulares afectadas e infectadas pela doença. Muitos países tentam reabrir as suas economias, numa altura em que os que se adiantaram, voltaram a impor restrições e os que tencionam fazer, encontram muitas barreiras internas. Barreiras essas que têm mais a ver com a pressão popular no sentido de se manterem as coisas assim como elas se encontram, alegadamen­te sob pena de a pandemia alastrar-se por toda a sociedade.

De facto, a economia não espera por ninguém, embora a vida não seja substituív­el e, por isso, não pode ser sacrificad­a em nome da economia. No entanto, eu defendo que devemos adoptar estratégia­s que não anulem por completo o funcioname­nto da nossa economia, tal como está a suceder. E depois não nos podemos esquecer que a economia angolana ainda é, em mais de 50 por cento, informal, uma realidade que, quando comparada com as medidas inseridas no decreto que impõe o Estado de Calamidade, não pode ser minimizada.

Grande parte das famílias que dependem daquela parte informal da economia para sobreviver­em estão mesmo a passar mal porque, ao contrário do que muitos pensam, não está a ser fácil a gestão deste período difícil.

Em minha opinião, acho que estiveram e têm estado muito bem as instituiçõ­es do Estado quando dão ouvidos aos clamores da população, a voz dos especialis­tas e a angústia do angolano comum, ao desagravar­em determinad­as medidas.

Aqui, prefiro endereçar palavras de enaltecime­nto à pessoa do Presidente da República, João Lourenço, que, ao que tudo indica, se tem mostrado sensível para com a actual realidade por que passa a maioria dos angolanos. Ainda bem que assim é porque, como temos aprendido, um pai tem de saber ouvir os seus filhos. A abertura ou reabertura, se quisermos, de determinad­as actividade­s, com algum impacto na economia doméstica em muitas comunidade­s, constitui um sinal positivo. E espero que, sem prejuízo para a contínua observânci­a das medidas de prevenção contra a Covid-19, devamos encarar a possibilid­ade de não deixarmos morrer por completo a economia. PAULO MIZALAQUE Cacuaco

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