“Sínteses” de Macieira distinguem tradições
A transmissão de conhecimentos às gerações vindouras, como forma de os ajudar a compreender a necessidade da preservação e valorização dos hábitos culturais de um povo, é uma das metas para os próximos anos do artista plástico Álvaro Macieira, que inaugurou, ontem, no Camões, em Luanda, a exposição “Sínteses - Um artista, múltiplas linguagens”.
Na mostra individual, cujo acto de abertura foi feito pelo novo embaixador de Portugal em Angola, Pedro Pessoa e Costa, o pintor disse que as artes, em especial a pintura, é uma forma de manter um diálogo permanente e de transmissão de conhecimentos sobre determinados contextos socioculturais aos jovens.
Nesta mostra, Álvaro Macieira apresenta quadros de dimensões pequenas, tendo como paradigma central a sintetização das linguagens usadas ao longo da carreira, uma mudança no estilo de um artista habituado a criar obras de grande dimensão (2 a 5 metros).
O “saudosismo” do artista pode ser visto no Camões Centro Cultural Português, em Luanda, em quadros como “Um dia à tarde na Ilha de Luanda”, “À tarde na ilha de Luanda”, “Luanda acordou alegre (I)”, “Luanda um dia alegre para comemorar” e “Luanda futurista (I)”, pintados em acrílico sobre tela, cujo essência transportam o público para uma “viagem ao passado”, com chamadas de atenção à importância de se preservar a história como património de todos.
Neste novo trabalho, Álvaro Macieira não se limitou somente a retratar aspectos peculiares da cidade capital, Luanda. O artista destaca nas obras a necessidade generalista de valorização, preservação e divulgação da diversidade cultural das diversas etnias angolanas, representadas em quadros como “Mulondo- Nuni”, “Angola, terra dourada (I)”, “Humbi-Humbi Yetu (I e II)”, “Luzingo”, “MwataSoba (I)”, “Muketu-Soba (II)” e “Tukalakala”.
Além de acrílico sobre tela, o artista explorou ainda outras técnicas, desenvolvidas por si ao longo das últimas duas décadas. A exposição foi assistida em directo na página do Instituto Camões no Facebook. Os interessados em visitar a mostra, pessoalmente, só o podem fazer com marcação prévia, devido às restrições implementadas pelo Camões, para reduzir a propagação da Covid-19.
Diversidade
Para o novo embaixador de Portugal em Angola, Pedro Pessoa e Costa, com a inauguração da exposição estão criadas, novamente, as condições para o relançamento das actividades culturais no Camões e o compromisso de continuar a fortalecer o intercâmbio cultural entre os dois povos. Porém, orientou a nova direcção do Camões, a dar continuidade aos projectos existentes, sempre numa perspectiva de inclusão, parcerias mútuas, inovação e criatividade.
O director do Camões, Telmo Gonçalves, disse, no final da actividade, que Álvaro Macieira aceitou o desafio de expor obras ilustrativas de um percurso de 20 anos de trabalho em “moldes e tempos diferentes”, dando a conhecer a diversidade estética que marca o seu percurso artístico.
Telmo Gonçalves adiantou ainda que Álvaro Macieira conseguiu transportar para as telas a diversidade cultural do país, desde “o abstraccionismo mais surrealista, ao figurativo mais simbólico, ou da linguagem gestualista da ‘action paiting’, à mais pura representação pictórica do simbolismo africano”.
Artista plástico, jornalista e consultor cultural, Álvaro
Macieira nasceu a 13 de Maio de 1958, em Sanza Pombo, na província do Uíge. Ao longo da carreira já foi editor de Cultura, na Agência Angola Press (Angop), onde começou em 1983, no Jornal
de Angola e no Correio do Semana. Colaborou para a Rádio Nacional de Angola (RNA), Televisão Pública de Angola (TPA) e Tribuna Cultural da BBC de Londres, a partir de Luanda.
Até hoje já fez mais de 30 exposições individuais e participou em mais de 40 colectivas. Ainda em 2002 realizou a exposição “Mambo Metu”, no Centro Cultural Português, em Luanda. Depois criou as mostras “África Mitológica”, “Terra Una”, “Signos da Terra”, “Catanas da Paz”, “Terra Azul”, “Luanda Kianda – Cores da Terra” e “Angola Muxima Wami”.