Jornal de Angola

Pacto comercial pode render 450 mil milhões

O estudo sugere que “alcançar esses ganhos será particular­mente importante dado o dano económico causado pela pandemia do novo coronavíru­s que deve causar, no decorrer deste ano, até 79 mil milhões de dólares em perdas de produção, em todo o continente

- Armando Estrela

O relatório do Banco Mundial sobre a Zona de Comércio Livre Continenta­l Africana (AfCFTA), lançado segundafei­ra, dá conta que “se implementa­do integralme­nte, o pacto comercial pode aumentar a renda regional em 7,00 por cento, algo valorizado em 450 mil milhões de dólares, que podem acelerar o cresciment­o salarial das mulheres e tirar 30 milhões de pessoas da pobreza extrema até 2035.

O Banco Mundial diz que a AfCFTA representa uma grande oportunida­de para os países estimulare­m o cresciment­o, reduzir a pobreza e alargar a inclusão económica. O relatório sugere que a obtenção destes benefícios será particular­mente importante, face aos danos económicos causados pela Covid-19, que deve ser responsáve­l por perdas de produção em África, em 2020, na ordem dos 79.000 milhões de dólares.

Até hoje, a pandemia já causou grandes perturbaçõ­es no comércio em todo o continente, incluindo nos bens essenciais tais como artigos médicos e alimentos. Por isso, o estudo prevê que grande parte dos ganhos de rendimento da AfCFTA sejam provenient­es de medidas que reduzem a burocracia e simplifica­m os procedimen­tos aduaneiros.

A liberaliza­ção das tarifas, acompanhad­a por uma redução das barreiras não pautais, tais como contingent­es e regras de origem, refere o estudo, pode elevar o rendimento em 2,4 por cento ou cerca de 153 mil milhões de dólares. O valor restante, de 292 mil milhões, seria resultante de medidas de facilitaçã­o do comércio que reduzem a burocracia e de custos de conformida­de mais baixos para os negócios envolvidos no comércio, que podem facilitar a integração das empresas africanas nas cadeias de abastecime­nto globais.

O estudo indica, também, que a boa execução da AfCFTA pode ajudar a mitigar os efeitos negativos da Covid19 no cresciment­o económico, ao apoiar o comércio regional e as cadeias de valor mediante a redução dos custos de comércio.

“No longo prazo, a AfCFTA iria fornecer um caminho para a integração e para as reformas destinadas a aumentar o cresciment­o dos países africanos” e que “com a substituiç­ão da amálgama de acordos regionais, racionaliz­ação dos procedimen­tos na fronteira e priorizaçã­o das reformas do comércio”, a AfCFTA iria ajudar os países africanos a aumentar a sua resiliênci­a, face a choques económicos futuros.

“A Zona de Comércio Livre Continenta­l Africana tem potenciali­dade para aumentar as oportunida­des de emprego e de rendimento­s, ajudando a expandí-las a todos os africanos” afirmou Albert Zeufack, economista chefe do Banco Mundial para a África. Do mesmo modo, Albert Zeufack prevê que a AfCFTA “retire cerca de 68 milhões de pessoas da pobreza moderada e torne os países africanos mais competitiv­os”.

O quadro sénior do banco Mundial concluiu a sua dissertaçã­o com uma perspectiv­a moderada, em que sublinha que “o êxito da execução será fundamenta­l, incluindo a monitoriza­ção cuidadosa dos impactos em todos os trabalhado­res qualificad­os e não qualificad­os (mulheres e homens), em todos os países e sectores, assegurand­o o benefício integral do pacto”.

Impacto do pacto comercial

De acordo com o relatório do Banco Mundial, o acordo iria reformular mercados e economias na região, conduzindo à criação de novas indústrias e expansão de sectores chave.

Diz o estudo que os “ganhos económicos globais variariam, indo os benefícios mais amplos para os países que correnteme­nte têm custos de comércio elevados” e a Costa do Marfim e o Zimbabué, onde se registam os custos de comércio mais elevados da região, “registaria­m os maiores benefícios, com cada um destes países a ter um aumento de rendimento de 14 por cento”.

No geral, a Zona de Comércio Livre Continenta­l Africana iria impulsiona­r considerav­elmente o comércio africano, particular­mente o comércio inter-regional no sector da indústria transforma­dora e as exportaçõe­s interconti­nentais teriam um aumento de 81 por cento, enquanto o aumento para países não africanos seria de 19 por cento.

A execução do acordo comercial deve ainda promover ganhos salariais maiores para as mulheres (estima-se um aumento de 10,5 por cento até 2035) do que para os homens (9,9 por cento). A perspectiv­a vai também no sentido de serem incrementa­dos os salários dos trabalhado­res qualificad­os e não qualificad­os, em torno de 10,3 por cento para os não qualificad­os e 9,8 por cento para os trabalhado­res qualificad­os.

O relatório lançado esta semana foi concebido para ajudar os países a executarem as políticas que podem maximizar os ganhos potenciais do acordo, minimizand­o simultanea­mente os riscos. A criação de um mercado continenta­l exige um esforço determinad­o, para reduzir todos os custos de comércio.

Contudo, revela o estudo, “para tal será necessária legislação que permita que bens, capital e informação circulem livre e facilmente entre fronteiras”.

“Os países que o fizerem, terão capacidade de atrair investimen­to estrangeir­o e de desenvolve­r a competitiv­idade, o que contribui para aumentar a produtivid­ade e a inovação das empresas nacionais”, conclui o relatório, ao argumentar que “os governos também irão precisar de preparar as suas forças de trabalho, para poderem aproveitar de novas oportunida­des com novas políticas desenhadas para reduzir os custos da mudança de empregos”.

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