Rede de roubo de viaturas liderada por estrangeiros
No mês passado, o Serviço de Investigação Criminal (SIC) de Luanda deteve 40 cidadãos, entre nacionais e estrangeiros do Oeste Africano (nigerianos e guineenses), acusados de roubo de viaturas e placas electrónicas
Mandam roubar as viaturas e compram a preços que variam entre um e três milhões de kwanzas. São, fundamentalmente, nigerianos e guineenses, muitos deles sem cadastro criminal. O Serviço de
Investigação Criminal (SIC) deteve, só no mês passado, 40 elementos, entre nacionais e estrangeiros, acusados de roubo de viaturas e placas electrónicas.
Numa quinta-feira, Carlos Andrade chega à casa, às 15h00, e estaciona a viatura mesmo à porta, calculando que só voltaria a usá-la no dia seguinte, precisamente às 5h30, período que sai para fazer exercícios físicos. Em nenhum momento lhe ocorreu que era alvo de espia.
Como todos os dias, e a semelhança do que acontece com muitos dos seus vizinhos, estacionou despreocupadamente o carro bem rentinho ao passeio, sem qualquer desconfiança. O jovem de 31 anos só voltou a sair à rua no dia seguinte, quando eram 5h30, tendo, com grande espanto, notado que o carro não estava no local. Sem acreditar no que via, rapidamente tentava encontrar respostas.
Primeiramente, embora tivesse cheio de certeza que o carro fora estacionado naquele lugar, pensava ainda na possibilidade de encontrar a viatura parada mais para frente ou mais para trás. Mas uma rápida ronda eliminou completamente essa possibilidade. Por não haver vestígios de pedaços de cacos de vidros partidos e espalhados no chão, para assim justificar o arrombamento, pensou então que talvez fossem os senhores da fiscalização que tivessem rebocado o veículo automóvel de marca e modelo Hyundai i10.
O bairro São Paulo tem a sua má fama, porém a quase nenhum morador ocorre a ideia de ser assaltado o carro. No mínimo, pensa-se no retrovisor, placa electrónica, antenas e pneus. Mas nunca a viatura toda. “Mas porquê? Não era possível levar um carro a altas horas da noite”, pensou a vítima.
Feitas as contas, o carro teria misteriosamente desaparecido
entre as 00h00 e as 4h00. Já tomado por um forte sentimento de impotência, Carlos Andrade decidiu encarar a possibilidade mais aterradora: o carro foi roubado. Na breve conversa com os vizinhos, a questão que se impunha era relacionada às chaves do veículo, mas, ambas, a principal e a de reserva estavam em casa, seguras. Em nenhum momento as tinha perdido.
Naquela manhã de Cacimbo, a cabeça do jovem aquecia. Estupefacto, não tinha forças sequer para regressar ao interior da sua residência e avisar aos demais membros da família, que aquele importante
bem tinha sido roubado.
Simplesmente teve a coragem de apanhar um táxi, vulgo “candongueiro”, que seguia em direcção à 9ª Esquadra da Polícia, que atende os problemas de natureza criminal que ocorrem na circunscrição. Posto lá, prestou as devidas declarações. O alerta foi lançado e o caso ficou ao cuidado do Serviço de Investigação Criminal (SIC), que enviou dois efectivos ao local do furto.
À vítima sobrou-lhe apenas a obrigação de regressar à casa e aceitar a ideia de que alguém roubou mesmo o seu carro. Sem muita esperança de que o meio fosse aparecer, depois do banho, vestiu-se e
tomou o candongueiro para o serviço. O bom senso convidava-lhe a seguir a sua vida. “Sem outro remédio, a minha família não parava de orar. Neste momento os carros estão muito caros, acima dos seis milhões de kwanzas. Não sabia o que fazer e fui tomado por grande sentimento de revolta”, disse a vítima.
Bem-aventurado. O carro de Carlos Andrade apareceu. Foi recuperado pelo SIC no mesmo mês em que foi roubado. Por sorte, não foi “desmanchado” (vendido peça a peça) nem levado para fora de Luanda.
Ao Rui Manuel, 30 anos, aconteceu a mesma coisa. Foi no dia 27 de Janeiro deste
ano que viu a sua viatura Hyundai, modelo i10, a desaparecer misteriosamente, depois de ter estacionado junto à porta de casa, por volta das 23 horas, no bairro Nelito Soares. No dia seguinte, levantou cedo para ir trabalhar e verificou que o meio não estava no local deixado.
O jovem entrou em pânico ao ponto de procurar o carro dentro de casa. Sem esperança que o carro fosse aparecer, ainda assim apresentou queixa-crime na esquadra mais próxima do local de residência. Passados seis meses, recebeu um telefonema do SIC, dando conta do aparecimento da sua viatura, que anteriormente era de cor marrom.
“A minha viatura apareceu já com outra cor. Pintaram em cinzenta e trocaram as chaves. Mas não mudaram as chapas de matrícula”, disse Rui Manuel, visivelmente satisfeito. O jovem agradeceu o SIC pelo trabalho realizado e aconselhou outros automobilistas a colocarem GPS e alarme nas suas viaturas.
O susto de Lereno Rosário, 29 anos, foi pior. Perdeu a viatura, uma carrinha Maindra, no dia 24 de Maio, nas imediações da sua casa, no Golf 2, por volta das 20 horas, quando foi interpelado por cinco meliantes armados.
Os bandidos andaram com Lereno durante cerca de 30 minutos e depois o abandonaram junto ao mercado do Golfe, completamente nu. Nessa noite, teve a sorte de abordar uma senhora que o ajudou oferecendo um fato olímpico do esposo.
Ainda sob susto, no dia seguinte foi à Polícia denunciar o facto. A viatura de Lereno chegou a ser recuperada um dia depois deste ter feito a queixa-crime, embora o SIC tenha feito a entrega ao proprietário apenas dois meses depois. “Lamentei muito o facto de me deixarem na rua, completamente nu. Ameaçaram-me de morte”, recorda.
Os três casos reportados são parte de um número cada vez mais crescente de roubos, ocorridos diariamente na capital do país. Felizmente, estes pacatos cidadãos tiveram um final feliz, tendo o SIC actuado com zelo e dedicação no trabalho. Porém, não são poucos os casos de cidadãos angolanos que perdem a vida na ocorrência destes furtos de viaturas, com graves consequências financeiras e emocionais na vida de muitas famílias.