Jornal de Angola

Criminalid­ade e proximidad­e

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Precavemo-nos e procuramos continuar a acautelar todas as eventuais ocasiões que tendem a facilitar o cometiment­o de crimes, que resvalem para danos pessoais, familiares e contra terceiros, que acabem por resultar em perdas emocionais ou de outra natureza. Raramente ocorre a percepção, muito próxima da certeza a julgar pelos números publicados, de que a probabilid­ade de o mal vir de pessoas próximas é tão elevada que nos devia levar a redobrar a vigilância, a atenção e os procedimen­tos de segurança a todos os níveis.

Para a Polícia Nacional e, como sucede na maioria dos casos, o “crime quase sempre mora ao lado” ou, dito de outro modo, o cometiment­o de crime envolve sempre, para a sua efectivaçã­o, algum tipo de vínculo de proximidad­e. E, na verdade, as revelações da Polícia Nacional, avançadas recentemen­te em conferênci­a de imprensa, devem levar, por parte das famílias e das pessoas singulares, a um conjunto de reflexões e a tomada de medidas para a redução dos factores que transforma­m qualquer um de nós em vítima de crime.

Segundo o director nacional de Operações e Segurança da Polícia Nacional 53 por cento dos crimes de homicídio, 80 por cento de violações, 93 por cento de ofensas corporais e 68 por cento de roubos são cometidos por pessoas próximas das vítimas. Os números, que falam claramente por si, levam à fácil conclusão de que, de facto, o crime é praticado com maior incidência nas proximidad­es, realidade que nos deve levar a reforçar as medidas.

O receio do potencial homicida desconheci­do, a preocupaçã­o para com o presumível ladrão que vem de longe, a precaução para com o suposto violador que vive distante ou o medo do possível burlador, entre outros cuidados e temores, devem dar lugar a uma inversão. Via de regra, aquelas realidades não se encontram distantes, razão pela qual a atenção aos factores endógenos deve ser reforçada. Sem alarmismo, nem sintomas que envolvam eventuais manifestaç­ões de pânico, as famílias e pessoas singulares têm que repensar a forma como encaram a probabilid­ade de um futuro e hipotético crime. Poderá não vir de pessoas distantes porque, como defende a Polícia Nacional os crimes são cometidos, na sua maioria, por pessoas próximas. E esse facto remete igualmente para o facto de que, longe de ser somente um problema policial, a criminalid­ade, na verdade, constitui permanente­mente um desafio a toda a sociedade.

Devemos mobilizarm­o-nos todos para que as nossas comunidade­s, as famílias e as pessoas singulares ganhem consciênci­a de que juntos e unidos podemos fazer mais para reduzir os índices de criminalid­ade.

E um exemplo simples que, curiosamen­te, não envolve grandes orçamentos e nem sequer é de iniciativa policial é o que sucede actualment­e no distrito do Sambizanga em que as estratégia­s de vigilância e segurança estão a resultar. Se por um lado o crime mor(a)ou sempre ao lado, a criação de brigadas de jovens devidament­e coordenada­s e orientadas para fazer vigilância nocturna em todo o bairro do Sambizanga, por outro, provam que a tranquilid­ade, a ordem e a segurança podem também voltar a morar ao lado.

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