Ataques em Cabo Delgado têm a impressão digital do Estado Islâmico
O major-general Dagvin Anderson, comandante das forças de Operações Especiais dos Estados Unidos em África, disse não ter dúvidas da responsabilidade do grupo Estado Islâmico nos ataques armados que se registam na província moçambicana de Cabo Delgado
O chefe do Comando de Operações Especiais em África disse, ontem, que os ataques no Norte de Moçambique têm “impressão digital do Estado Islâmico”, manifestando preocupação com o acelerar da ameaça terrorista na região.
“Estamos preocupados. Acreditamos que há um problema local que está a ser aproveitado pelo Estado Islâmico. Nos últimos 12 a 18 meses desenvolveram as suas capacidades, tornaramse mais agressivos e usaram técnicas e procedimentos comuns em outras partes, nomeadamente no Médio Oriente, associados ao Estado Islâmico”, disse o majorgeneral Dagvin Anderson, citado pela Lusa.
O comandante do Comando de Operações Especiais dos Estados Unidos em África, com sede em Kelley Barracks, em Estugarda, na Alemanha, falava durante uma conferência de imprensa para abordar os esforços dos Estados Unidos no combate ao terrorismo em África durante a pandemia da Covid-19.
Dagvin Anderson apontou o facto de o próprio Estado Islâmico ter reivindicado essa ligação, mas considerou, sobretudo, determinantes os sinais da organização terrorista nas comunicações. “Vimos publicações e comunicações nos media muito bem feitas e que têm a impressão digital e todas as marcas do Estado Islâmico”, disse. “Por isso, acreditamos que há uma ligação mais profunda, que o Estado Islâmico está envolvido com a facção no Norte de Moçambique e que têm influência”, acrescentou.
O responsável admitiu, no entanto, que a extensão dessa influência não é ainda totalmente conhecida. “Estamos a trabalhar com a nossa Embaixada e com o Governo de Moçambique para ter uma ideia melhor, perceber como essa ameaça se está a desenvolver e o que é que isso significa para a região”, afirmou. Para o major-general Dagvin
Anderson não há dúvidas de que “há actores externos que estão a influenciar o conflito e a torná-lo mais virulento e perigoso”.
“Já não se trata apenas de um conflito local que possa ser resolvido apenas pelas autoridades locais. Foi inflamado pelo Estado Islâmico, que fornece treino, formação e recursos”, considerou.
Dagvin Anderson sublinhou a preocupação pela forma como a relação entre o movimento rebelde local e o Estado Islâmico se está a desenvolver, considerando que a resposta terá de ser liderada por Moçambique, mas envolvendo outros países e a comunidade internacional.
“Moçambique tem de tomar a liderança, mas é preciso envolver vários países na região. Tanzânia, Malawi e outros países terão de ajudar porque o terrorismo vai atravessar fronteiras e procurar refúgio onde puder para continuar a desestabilizar a região”, disse.
Por outro lado, defendeu que a abordagem à ameaça não deve passar apenas por uma resposta militar, devendo incluir outras questões como o reforço da segurança, resolução dos problemas na origem da contestação e promoção do desenvolvimento económico e de oportunidades para as populações.
“Estas são áreas em que o Governo norte-americano tem estado envolvido dando apoio a Moçambique”, disse, indicando como exemplo a ajuda norte-americana ao país na sequência da destruição causada pelos ciclones de 2019.
“Se não dermos essa ajuda, se a comunidade internacional não se juntar para encontrar uma solução após estas crises, os extremistas violentos irão explorar isso e procurar afastar as populações dos governos, criando narrativas e realidades alternativas. Todas estas abordagens têm de ser combinadas para promover o contra-terrorismo”, disse.