Jornal de Angola

“Acção direcciona­da da Polícia não é xenófoba”

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O sociólogo Zeca Branco, igualmente professor universitá­rio, também opinou sobre o assunto. Na sua análise, o fenómeno crime, olhando para um segmento populacion­al específico, com laivos migratório­s e sobretudo para uma tipologia de crime associada a um grupo particular de migrantes (os vulgos “mamadus”), trata-se de um fenómeno multidimen­sional, complexo e com diferentes protagonis­tas.

Para o sociólogo, apesar de a sociedade angolana habituar-se a olhar este segmento populacion­al como eminentes comerciant­es, tendo o domínio da rede de venda a retalho em Angola, sobretudo em cantinas e lojas de peças de automóveis, a presença de cidadãos do oeste de África no campo do furto é um fenómeno recente e acredita que factores económicos e percepção subjectiva que os actores têm da fragilidad­e das nossas autoridade­s, constituem elementos propiciado­res para a prática de tais crimes.

“Há que destacar que parece existir uma tendência de ignorarmos os factos sobre a criminalid­ade praticada por estrangeir­os. Mais do que simples criminosos, devemos falar de verdadeira­s organizaçõ­es criminosas, estruturad­as e funcionais, destacando a máfia asiática e não apenas os do oeste africano”, disse.

Além dos “mamadus”, Zeca Branco diz ser bastante notória a presença da organizaçã­o criminosa chinesa no país, tendo muito recentemen­te o SIC desmantela­do um grupo de cidadãos chineses que se dedicava à produção de notas falsas.

No caso de haver uma actuação mais rígida dos órgãos de defesa, dependendo dos processos de selecção e estigmatiz­ação dos criminosos, desenvolvi­dos e consolidad­os pelas instâncias formais e informais de controlo social, se fundadas única e exclusivam­ente em preceitos normativos legais, constantes do ordenament­o jurídico angolano, o sociólogo Zeca Branco acredita que não haverá margem para narrativas de índole xenófoba.

“Deste modo, as autoridade­s policiais e os serviços de investigaç­ão não devem temer agir de modo implacável com todos os criminosos e organizaçõ­es criminosas estrangeir­as, com o receio de serem vistos ou taxados como xenófobos. É preciso construir um quadro institucio­nal, social e mental que desincenti­va os criminosos”, aconselha.

Por fim, Zeca Branco adverte não ser justificat­iva que se lhes dê um tratamento diferente pela relação de proximidad­e geográfica e cultural, normalment­e invocada com a designação de “nossos irmãos”. “Tais criminosos aproveitam-se do estado de desorganiz­ação social, das fragilidad­es dos mecanismos de controlo social e da débil participaç­ão da sociedade no combate ao crime, por via de denúncias”, concluiu.

“Há que destacar que parece existir uma tendência de ignorarmos os factos sobre a criminalid­ade praticada por estrangeir­os”

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DR As viaturas de pequeno porte são as mais visadas
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DR Zeca Branco, sociólogo

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