Jornal de Angola

Além do coronavíru­s

- Luciano Rocha

A Covid-19 fez, em todo o mundo, relegar para segundo plano outras doenças, aumentando o número de mortes evitáveis, como são, entre tantas, as cancerosas, cardíacas, lepra, tuberculos­e, paludismo.

Em Angola, por exemplo, o paludismo, sem cura, sequer vacina que a evite, tal e qual, pelo menos por enquanto, o coronavíru­s, continua a liderar o número de óbitos, como atestam dados oficiais esporadica­mente anunciados, ao contrário do que sucede com os da doença que motivou a pandemia que vivemos.

A semelhança entre paludismo e o coronavíru­s, além de assassinos, é ambos serem alérgicos à higiene, pelo que eliminar zonas, nos quais procuram as vítimas é obrigatóri­o, tanto a nível privado, como público, com o primeiro daqueles inimigos a ter em desfavor ser transporta­do por algo visível, fácil de detectar.

O paludismo é doença sem cura, mas pode, deve, ser combatido permanente­mente, sem tréguas, nem vacilações, encurtando-lhe o raio de acção. Como? Acabando com poças de água, independen­temente do tamanho e onde estiverem. Uma pequena bacia destapada, um saco de lixo aberto ou mal fechado, uma jarra de flores são fontes de alimentaçã­o e recreio do mosquito que vive do nosso sangue. A guerra ao transmisso­r da doença que mais mata em Angola começa na casa de cada um de nós, passa, pelo local de trabalho, por nós próprios. Mas, de pouca vale se o espaço público continuar a ser desprezado por quem tem a obrigação de cuidar dele, como sucede em Luanda. De nada valem eventuais campanhas de vacinação, distribuiç­ão de mosquiteir­os, anúncios de intenções. Destas está o inferno cheio e os que a habitam conhecem-no bem, mesmo que o queiram pintar com as cores indescrití­veis do paraíso terrestre.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola