Além do coronavírus
A Covid-19 fez, em todo o mundo, relegar para segundo plano outras doenças, aumentando o número de mortes evitáveis, como são, entre tantas, as cancerosas, cardíacas, lepra, tuberculose, paludismo.
Em Angola, por exemplo, o paludismo, sem cura, sequer vacina que a evite, tal e qual, pelo menos por enquanto, o coronavírus, continua a liderar o número de óbitos, como atestam dados oficiais esporadicamente anunciados, ao contrário do que sucede com os da doença que motivou a pandemia que vivemos.
A semelhança entre paludismo e o coronavírus, além de assassinos, é ambos serem alérgicos à higiene, pelo que eliminar zonas, nos quais procuram as vítimas é obrigatório, tanto a nível privado, como público, com o primeiro daqueles inimigos a ter em desfavor ser transportado por algo visível, fácil de detectar.
O paludismo é doença sem cura, mas pode, deve, ser combatido permanentemente, sem tréguas, nem vacilações, encurtando-lhe o raio de acção. Como? Acabando com poças de água, independentemente do tamanho e onde estiverem. Uma pequena bacia destapada, um saco de lixo aberto ou mal fechado, uma jarra de flores são fontes de alimentação e recreio do mosquito que vive do nosso sangue. A guerra ao transmissor da doença que mais mata em Angola começa na casa de cada um de nós, passa, pelo local de trabalho, por nós próprios. Mas, de pouca vale se o espaço público continuar a ser desprezado por quem tem a obrigação de cuidar dele, como sucede em Luanda. De nada valem eventuais campanhas de vacinação, distribuição de mosquiteiros, anúncios de intenções. Destas está o inferno cheio e os que a habitam conhecem-no bem, mesmo que o queiram pintar com as cores indescritíveis do paraíso terrestre.