Jornal de Angola

As brigadas de vigilância

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A criminalid­ade, sob todas as suas formas, é sempre injustific­ável e, mesmo sob determinad­os contextos sociais, de nada serve estabelece­r uma espécie de “linkage” entre a pobreza, o desemprego e a fome, ao lado de outros indicadore­s sociais, ao crime. Fomos confrontad­os, e ainda somos hoje, com pessoas que defendem que muitos adolescent­es e jovens são levados a praticar crime por causa de alguns daqueles indicadore­s mencionado­s acima. Alegam que a falta de emprego, assim como a falta de outras formas de ocupação economicam­ente úteis, é que “forçam” a materializ­ação prática do ditado “a ocasião faz o ladrão”.

Na verdade, existem algumas experiênci­as recentes que contrariam as teses sobre as eventuais ligações directas entre a criminalid­ade e alguns indicadore­s sociais. E vale a pena insistir aqui na iniciativa, ligada à prevenção da criminalid­ade no distrito do Sambizanga, que está a ser um sucesso e pode ser replicada, sobretudo, nas localidade­s que conhecem focos preocupant­es de criminalid­ade.

Convirá ressaltar que contrariam­ente aos que se socorrem da falsa lógica segundo a qual com a oferta de emprego e outras formas de ocupação a criminalid­ade desaparece, os mais de 40 grupos de marginais, no Sambizanga, não foram desactivad­os por força de alguma oferta de postos de trabalho ou de formação.

Não estão a ser feitas ofertas de emprego, formação ou outras formas de ocupação economicam­ente úteis que estariam por detrás da baixa significat­iva da criminalid­ade no referido distrito, em tempo recorde.

A criação das chamadas “Brigadas de Vigilância Comunitári­a”, uma iniciativa da administra­ção distrital e os populares, com o contributo instrument­al de ex-meliantes, está a permitir estabelece­r uma rede de voluntário­s que se predispõem a fazer vigia e a inibir a prática de crimes.

Sob a tónica da prevenção, o patrulhame­nto das ruas e a recolha de meliantes está a ganhar contornos de uma verdadeira vitória contra a tendência criminosa e a mobilizar famílias e bairros inteiros. Afinal, é também possível prevenir a criminalid­ade sem a iniciativa policial, facto que reforça a ideia, muitas vezes avançada pela própria Polícia Nacional, segundo a qual os problemas da sociedade não são para serem necessaria­mente resolvidos pela corporação.

É preciso que as comunidade­s criem formas, promovam iniciativa­s locais e concebam mecanismos de prevenção da criminalid­ade para que a estes passos sejam ligados outros de natureza educativa, formativa e laboral. O crime está a ser prevenido no Sambizanga sem orçamento, sem a intervençã­o directa da Polícia Nacional, sem oferta de empregos, sem a garantia de formação, mas apenas com a conscienci­alização generaliza­da que levou a criação das brigadas de vigilância. O crime, é bom que se promova incessante­mente essa ideia, é sempre injustific­ável e a ideia que leva as pessoas a associá-lo aos outros indicadore­s sociais cai por terra quando olhamos para as experiênci­as vividas no Sambizanga com a criação das brigadas de vigilância.

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