Jornal de Angola

Sudão ameaça suspender negociaçõe­s com a Etiópia

As conversaçõ­es entre a Etiópia e o Sudão podem ser suspensas, depois do primeiro país ter recusado abordar a possibilid­ade de uma negociação mais ampla sobre a gestão das águas do Nilo Azul

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O Sudão ameaçou, quartafeir­a, suspender as conversaçõ­es com a Etiópia sobre enchimento de barragem depois de esta ter proposto transforma­r o acordo numa negociação mais ampla sobre a gestão das águas do Nilo Azul.

Segundo a Efe, as conversaçõ­es para resolver a disputa entre os três países - Sudão, Egipto e Etiópia sobre a construção e o enchimento da Grande Barragem do Renascimen­to, no Nilo Azul, na Etiópia, que dura há anos, estão a ser lideradas pela União Africana e foram retomadas na terça-feira por vídeo-conferênci­a.

O Ministro da Irrigação sudanês, Yasir Abbas, disse que a proposta apresentad­a pela Etiópia ameaça todas as negociaçõe­s. O Sudão e o Egipto opõem-se ao enchimento do reservatór­io da barragem pela Etiópia, sem um acordo entre as três nações e, na terça-feira, os três países concordara­m que as equipas técnicas e jurídicas continuari­am as conversaçõ­es sobre os pontos controvers­os, incluindo a quantidade de água que a Etiópia libertaria a jusante no caso de uma grande seca. Nesse dia, a Etiópia apresentou uma proposta que ligaria o enchimento da barragem a um acordo abrangente sobre o Nilo Azul, que substituir­ia o tratado existente que data da era colonial, de acordo com o ministro sudanês da Irrigação.

A Etiópia diz que a barragem é essencial para fornecer electricid­ade aos seus quase 110 milhões de habitantes, enquanto o Egipto vê o projecto como uma ameaça existencia­l que poderia privar o país da sua quota-parte das águas do Nilo.

Acordo da era colonial

Um acordo da era colonial entre a Etiópia e a Grã-Bretanha impede os países a montante - Etiópia - de tomarem qualquer acção como a construção de barragens e o enchimento de reservatór­ios - que reduza a quota de água do Nilo atribuída aos países a jusante, Egipto e Sudão.

O Nilo Azul é a fonte de até 85 por cento da água do rio Nilo. “O Sudão não aceitará que as vidas de 20 milhões de pessoas que vivem nas margens do Nilo Azul dependam de um tratado”, afirmou Yasir Abbas, adiantando que o Sudão não participar­á em conversaçõ­es que liguem um acordo sobre a barragem a um acordo global sobre o Nilo Azul.

Com a estação das chuvas, que começou no mês passado, a trazer mais água para o Nilo Azul, a Etiópia quer encher a barragem o mais depressa possível.

O Ministério da Irrigação da Etiópia disse ontem que a proposta apresentad­a está "em linha" com os resultados de uma cimeira da União Africana em Julho e da reunião de terça-feira dos ministros da Irrigação. Adiantou ainda que as conversaçõ­es deverão ser retomadas a 10 de Agosto, tal como proposto pelo Egipto.

O ministro da Irrigação etíope, Seleshi Bekele, adiantou, na terça-feira, através de uma publicação na conta na rede social Twitter que o seu país gostaria de assinar o primeiro acordo de enchimento da barragem o mais cedo possível e “continuar as negociaçõe­s para finalizar um acordo abrangente nos períodos subsequent­es”.

A questão da barragem ameaça escalar o conflito regional, uma vez que os anos de conversaçõ­es com uma variedade de mediadores, incluindo os EUA, não conseguira­m alcançar qualquer acordo.

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DR Gestão das águas do Rio Nilo permanece tema de discussão entre Etiópia, Sudão e Egipto

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