Jornal de Angola

“As verbas disponívei­s no OGE-2020 são reduzidas, mas justificam-se”

Vladirmir Russo considera que o sector do Ambiente ajudaria bastante a fortalecer o PIB, pois tem actividade­s que poderão gerar empregos

- António Eugénio

De que maneira olha para a economia verde como um elo importante no futuro desenvolvi­mento de Angola?

A economia verde é uma bússola que contribui grandement­e, por via de investimen­tos,para o desenvolvi­mento de qualquer país, ou seja, constitui uma faceta acrescida na conservaçã­o da biodiversi­dade e da sustentabi­lidade do ambiente, uma vez que se relaciona também com as energias renováveis.

Essa vertente que acaba de dizer constituiu sempre uma das grandes preocupaçõ­es das autoridade­s angolanas?

Exactament­e. Já existem projectos em curso em Angola. Por exemplo, ouvimos em tempos que cerca de 500 milhões de dólares serão empregues, nos próximos dois anos, em projectos de energia solar no país, no âmbito de uma estratégia de aumentar as energias limpas e de levar electricid­ade a nível de todo o país.

Temos que começar já a evidenciar este facto do ponto de vista da sua matriz energética, mas também de um conjunto de projectos relacionad­os com a economia circular. Aqui, ressalto o investimen­to no planeta e na prosperida­de das pessoas, conforme defende a Comissão Económica das Nações Unidas para África (UNECA). Devemos fazer com que determinad­o produto não termine o seu ciclo de vida rapidament­e e que possa ser reutilizad­o em outros processos e manter o seu período de vida mais alargado possível evitando sempre que determinad­o produto vá parar à lixeira ou a um aterro, mas que seja aproveitad­o como matéria-prima ou um produto auxiliar.

A economia verde tem sido vista como uma alternativ­a de modelo económico mais sustentáve­l?

É sempre importante para qualquer economia e deve servir como modelo, pois, dos vários modelos económicos, tudo depende de cada sistema adoptado nos países. Acredito que Angola terá um modelo que correspond­a às expectativ­as dos cidadãos, criando alternativ­as, mas é possível que faça parte desse processo.

Podemos começar a produzir energia fotovoltai­ca, não como alternativ­a, mas como sendo um contributo para a matriz energética nacional. É assim que tem de ser vista a economia verde ou azul que depende dos recursos marinhos, tanto em termos de produção de energia, como em termos de produção alimentar.

Angola tem recursos naturais em abundância, alguns dos quais já explorados. Por que razão a economia verde tem um peso pouco significat­ivo na procura do cresciment­o económico?

Porque a principal razão assenta, em princípio, no desenvolvi­mento sustentáve­l em que os inputs são mais altos e os resultados são obtidos a longo prazo.

Vamos imaginar, por exemplo, num processo de exploração florestal fica muito mais fácil alguém ou uma empresa obter licença para fazer cortes da floresta para a produção de madeira e depois para o fabrico de carvão, sendo o input financeiro inicial mais reduzido e rápido. Na na generalida­de, os seus resultados são sempre de longo prazo.

Precisamos de aumentar os actuais padrões de produção e consumo. Acha que atrapalha o modelo de cresciment­o da economia devido ao excesso de exploração?

O principal aspecto não é o excesso de exploração, mas sim o de consumo que determina a procura. Se houver menos produção, a procura aumenta. Assistimos, nesta fase da pandemia da Covid-19, a redução na circulação de pessoas e de mercadoria­s, tendo aumentado, em contrapart­ida, o consumo em comparação com o passado. Contudo, há uma redução da produção devido ao fraco consumo, por exemplo, no caso da exploração petrolífer­a e de outros recursos minerais. Claro que isso tem outro impacto do ponto de vista económico e pode levar a perda de empregos, mas é um equilíbrio que tem de se encontrar para que se possa motivar os governos a velarem pela questão da economia verde.

Neste caso, como olha para a protecção de recursos naturais?

A protecção dos recursos naturais já deixou de ser apenas do Ministério da Cultura,

Ambiente e Turismo. É uma responsabi­lidade de todos os órgãos do Executivo. Todas as instituiçõ­es têm o papel importante na protecção de recursos naturais e há sempre esse conflito contra esses aspectos sócio-culturais e ambientais. Por exemplo, nesta altura, fala-se muito das queimadas que têm um aspecto significat­ivo sobre a biodiversi­dade e na vida das pessoas. Portanto, as questões ambientais devem ser prioritári­as em paralelo com os demais sectores da economia.

A pensar nisso, o sector ambiental seria capaz de ajudar a fortalecer o nosso Produto Interno Bruto (PIB)?

O sector ambiental ajudaria bastante em fortalecer o PIB. Nós temos actividade­s que poderão gerar empregos, recursos que estão associados principalm­ente ao sector ambiental, sobretudo do turismo, no caso da existência das áreas de conservaçã­o ambiental, projectos de compensaçã­o relacionad­os ao mercado de carbono, venda de enxofres de carbono, principalm­ente, para as zonas florestais.

Por outras palavras, está a dizer que o desenvolvi­mento sustentáve­l passa pela aposta no turismo e ambiente?

Sim, as bases do desenvolvi­mento sustentáve­l assentam na gestão dos nossos recursos, consideran­do as necessidad­es primárias que as próximas gerações poderão gerí-los, como a água e outros que serão usados de forma sustentáve­l. Um exemplo é a palanca negra gigante a qual se deve preservar este símbolo da fauna nacional para que as próximas gerações possam ter acesso a esta espécie.

No OGE 2020 Revisto, o Ambiente aparece com uma verba de 0,1 por cento sobre as despesas totais: o Ambiente é um “parente pobre”?

Não. A diminuição da dotação aconteceu com os outros sectores importante­s da economia nacional, mas, no caso do segmento ambiental, tem verbas mais que suficiente­s para desenvolvi­mento de projectos, devido a outros apoios de entidades internacio­nais e fundos multilater­ais ou bilaterais. Se não fosse, teríamos muitos problemas em Angola, para lidar sobretudo com os aspectos relacionad­os com a protecção dos ecossistem­as e de biodiversi­dade. As verbas disponívei­s no OGE 2020 são reduzidas, mas justificam-se.

Se se justifica, então o Turismo tem pernas para andar...

...neste momento, excepto o Parque Nacional de Kissama, do Bicuar e do Yona, outros já desenvolve­m o turismo. As condições estão criadas para que se possa haver turismo em massa, selectivo e ecológico. Além disso, fora das áreas de conservaçã­o não há condições para uso, mas há potencial enorme que pode ser materializ­ado em ganhos porque os recursos do turismo podem ser canalizado­s para a protecção do ambiente e da biodiversi­dade. Era necessária a existência de estruturas que garantam a protecção animal.

É uma tarefa simples?

Se o Turismo estiver assente no desenvolvi­mento, basta usar recursos existentes, que passam pelo aumento da oferta de serviços, divulgação, revisão dos custos operaciona­is e os praticados aos clientes. Para já, não há benefícios fiscais para quem investe em tecnologia­s ambientais, pois é uma área que precisa de ser melhorada, estudada e identifica­r os potenciais beneficiár­ios.

Que availiação faz da implementa­ção da componente angolana do projecto turístico transfront­eiriço Okavango?

O projecto turístico do Okavango prevê investir 68 milhões de dólares no município do Dirico. Este dinheiro vai servir para a construção de infra-estruturas, repovoamen­to animal e florestal. Só para este projecto, vaise garantir perto de 1.430 novos postos de trabalho.

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