Jornal de Angola

Identidade descoberta

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De volta a San Antonio, Ellis já se havia consolidad­o como uma figura de reputação, mas esse status não iria muito longe. Num incidente que Jacoby descreve no livro, um restaurant­e negou-se a servi-lo, por causa da cor da sua pele.

“Logo depois, o novo directório da cidade de San Antonio foi publicado. Pela primeira vez, o nome de Ellis apareceu com uma letra 'c' ao lado, o que significav­a homem de cor”, diz o livro.

“A sua história é revelada e, embora ele possa ficar ali como um homem afro-americano, decide sair”, diz Jacoby. Um ano depois, em 1898, documentos mostram que Ellis já tinha residência no Imperial Hotel, em Nova Iorque .

A partir de então, ressalta o historiado­r, o seu activismo em torno da sua comunidade “torna-se muito mais moderado, porque não quer que a sua identidade seja revelada novamente”.

Ellis, no entanto, não corta relacionam­ento com a sua família, como foi o caso de muitos que decidiram “migrar” para o mundo dos brancos.

Nobre mexicano

A sua chegada a Nova Iorque coincidiu com um cresciment­o “surpreende­nte” nas relações comerciais entre o México e os Estados Unidos, diz o autor.

“Ele tornou-se uma pessoa muito útil, porque em Wall Street estavam obcecados em investir no México e Ellis tinha muitas conexões com figuras-chave do Porfiriato”, explica Jacoby.

Na capital da industrial­ização, Ellis “vendeu o discurso do México como uma terra de riquezas tropicais, e de si mesmo, Guillermo Eliseo, como a pessoa a ser procurada para chegar a isso”.

Ellis apareceu em documentos revisados por Jacoby como presidente de pelo menos sete empresas, algumas avaliadas em milhões de dólares. Durante esses anos, também comprou a maior fábrica de móveis do México e se tornou o representa­nte naquele país da Hotchkiss Arms Company, uma fabricante francesa de armas.

Nesse período, coordenou duas viagens marcantes à Etiópia, uma delas a missão diplomátic­a para finalizar acordos comerciais com o então imperador Menelik II.

Também se tornou o primeiro afro-americano a visitar aquele país, diz Jacoby, e, ao retornar aos EUA, realizou reuniões com o então Presidente Theodore Roosevelt, em 1904.

Durante esses anos, casouse com uma mulher branca de origem pobre, chamada Maude Sherwood, e tiveram seis filhos, dois deles morreram logo após o nascimento.

Por alguma razão, Ellis mentiu sobre as origens da sua esposa, afirmando num comunicado à imprensa sobre o seu casamento que pertencia à nobreza da Inglaterra.

“Uma das coisas difíceis no momento em que escrevi este livro foi que ele tentou esconder a sua história de vida e sempre tentou reinventar-se”, explica Jacoby.

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