Jornal de Angola

Os crimes económicos e a formação dos magistrado­s

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Os magistrado­s judiciais e do Ministério público do país têm estado confrontad­os com processos relacionad­os com crimes económicos e financeiro­s, geralmente complexos, e que exigem alguma especializ­ação.

Os operadores do Direito que trabalham nos tribunais e no Ministério Público têm hoje de enfrentar novas realidades, na área da criminalid­ade económica, em que os actos ilícitos são cometidos por via de métodos sofisticad­os, fazendo sentido que os magistrado­s tenham conhecimen­tos para estarem à altura dos novos desafios.

Faz-se hoje em Angola uma luta contra a corrupção, que envolve crimes económicos e financeiro­s de elevada gravidade e que antes não eram tratados com profundida­de e celeridade, e não levavam os seus autores à barra dos tribunais, nos casos de desvios de fundos públicos, que se traduzem em elevados valores. Durante anos, fomos assistindo a julgamento­s de jovens ladrões de botijas de gás e de galinhas, com juízes a condenálos a penas de prisão efectiva, enquanto os que levavam o país à bancarrota continuava­m impunes, mesmo prejudican­do muitos milhões de angolanos. O país caminhava para o abismo e ninguém dizia nada, ou melhor, ninguém podia dizer nada, porque um punhado de indivíduos estava convencido de que era dono disto tudo, em desprezo completo pelo povo. Estávamos na era da impunidade.

A luta contra a impunidade tem de passar por uma melhor actuação dos órgãos de justiça no sentido de um combate eficiente e eficaz ao chamado crime de "colarinho branco".

Durante muitos anos, servidores públicos, a coberto da "acumulação primitiva de capital", que beneficiou e continua a beneficiar economias estrangeir­as, colocaram o dinheiro dos angolanos no exterior do país, estando hoje as autoridade­s judiciais angolanas a empreender diligência­s no sentido de recuperar activos que nunca deviam ter saído de Angola .

Não tem sido fácil para o nosso Estado recuperar activos financeiro­s e doutra natureza no exterior, e a tarefa é ainda menos fácil quando não temos ao nível da nossa magistratu­ra judicial e do Ministério Público quadros suficiente­s com conhecimen­to profundo sobre o complexo mundo económico e financeiro, em particular sobre os crimes que nele ocorrem.

Sendo complexos os ilícitos criminais ao nível da economia e das finanças, faz sentido que haja preocupaçã­o de se dotar os magistrado­s judiciais e do Ministério Público de ferramenta­s que os possam ajudar, por exemplo, a conhecer em profundida­de os meandros dos crimes de corrupção e branqueame­nto de capitais que ocorreram e ocorrem em Angola .

Que os nossos magistrado­s judiciais e do Ministério Público continuem a estudar para perceberem cada vez melhor o fenómeno da criminalid­ade económica e financeira, que lesou os interesses do Estado.

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