Tempo para diversificar
A diversificação económica, encetada agora em Angola, vai ser lenta, ao contrário do que uns pensam e outros fingem pensar, por depender do funcionamento de vários factores sem os quais continuaremos a ser dependentes.
A aposta na agricultura, designadamente a familiar, que pode ser fundamental na redução da nossa dependência do exterior, está ela própria subordinada a uma série de êxitos de outros sectores para poder cumprir a função que se deseja venha a ter, de modo não somente a reduzir importações, como, inclusive, passarmos a exportar com garantia de qualidade, sem a qual é melhor ficarmos quietos para não sermos tidos como “vendedores de banha da cobra”.
A aposta na agricultura, mesmo a familiar, que pode parecer, à primeira ser vista, das opções mais rápidas para a luta pela diminuição de compras ao estrangeiro, há-de demorar a consolidar-se como sector importante da nossa economia, por dependente, repita-se, de outros factores, também eles de “mãos atadas”. E aí, permitam-me o plebeísmo, é que “a porca torce o rabo” porque entre as incontáveis coisas que nos faltam está o tempo. Eis, pois, o nosso dilema enquanto país sufocado em dificuldades amontoadas em décadas de regabofe de minorias em prejuízo da maioria.
Os nós que nos atam presente e futuro são difíceis de desatar, mas não será isso que nos pode levar ao desespero de querermos, a qualquer custo, livrar-nos deles, gastando inutilmente forças por corrermos o risco de repetir erros recentes, hipotecarmos, ainda mais, o presente e desfazendo por completo o sonho de deixarmos aos vindouros uma Angola mais solidária, sem desigualdades gritantes entre tão ricos e tão pobres, tanta riqueza e tanta miséria, onde todos tenham os mesmos deveres, mas, igualmente, os mesmos direitos, com sacrifícios e privilégios distribuídos em partes iguais.
Neste tempo açoitado pela pandemia da Covi-19 - como se a crise económica não nos sobrasse para emperrar a reconstrução do país e encetar o caminho do progresso - somos obrigados a estar duplamente em alerta constante. Devido àquela e outras doenças que matam, mas, igualmente, por ser propício ao surgimento do oportunismo, arma de uns quantos, sempre à espreita do mínimo deslize para actuar, não raro disfarçados de beneméritos, amigos desinteressados, mas, no fundo, embora de barriga cheia, sempre sequiosos do lucro fácil que lhes enche e comanda a vida, indiferentes ao drama alheio.
A diversificação económica é urgente, mas “depressa e bem não há quem”.Este é um dos nossos dilemas: saber que começar pelo telhado a construção da casa é ter a certeza que ela cai de um momento para o outro, poder ficar sem nada, como sucede agora à esmagadora maioria dos angolanos atirados para o desemprego, pobreza. Percebem hoje que o bem-estar que julgavam possuir não tinha bases, era ficção que chegou ao fim. Mas ficarmos de braços cruzados, de mão estendida ou à espera de “beneméritos”, também não.
Esta encruzilhada na qual nos encontramos há-de ter uma saída construída de sacrifícios antigos e novos para os quais temos de estar preparados, desde que unidos, ultrapassando todas as diferenças que aparentemente nos separam. Neste caminho dispensam-se apenas os que descarada ou disfarçadamente atentam contra os direitos das maiorias, principalmente dos mais flagelados pelo infortúnio.
Angola precisa urgentemente de diversificar a economia, o que demora tempo até se consolidar, de forma reduzir a dependência do estrangeiro e até poder exportar com selo de garantia de qualidade, mas, em simultâneo, falta-lhe tempo para poder esperar.
A diversificação económica é urgente, mas “depressa e bem não há quem”. Este é um dos nossos dilemas: saber que começar pelo telhado a construção da casa é ter a certeza que ela cai de um momento para o outro, poder ficar sem nada, como sucede agora à esmagadora maioria dos angolanos atirados para o desemprego, pobreza