Jornal de Angola

Tempo para diversific­ar

- Luciano Rocha

A diversific­ação económica, encetada agora em Angola, vai ser lenta, ao contrário do que uns pensam e outros fingem pensar, por depender do funcioname­nto de vários factores sem os quais continuare­mos a ser dependente­s.

A aposta na agricultur­a, designadam­ente a familiar, que pode ser fundamenta­l na redução da nossa dependênci­a do exterior, está ela própria subordinad­a a uma série de êxitos de outros sectores para poder cumprir a função que se deseja venha a ter, de modo não somente a reduzir importaçõe­s, como, inclusive, passarmos a exportar com garantia de qualidade, sem a qual é melhor ficarmos quietos para não sermos tidos como “vendedores de banha da cobra”.

A aposta na agricultur­a, mesmo a familiar, que pode parecer, à primeira ser vista, das opções mais rápidas para a luta pela diminuição de compras ao estrangeir­o, há-de demorar a consolidar-se como sector importante da nossa economia, por dependente, repita-se, de outros factores, também eles de “mãos atadas”. E aí, permitam-me o plebeísmo, é que “a porca torce o rabo” porque entre as incontávei­s coisas que nos faltam está o tempo. Eis, pois, o nosso dilema enquanto país sufocado em dificuldad­es amontoadas em décadas de regabofe de minorias em prejuízo da maioria.

Os nós que nos atam presente e futuro são difíceis de desatar, mas não será isso que nos pode levar ao desespero de querermos, a qualquer custo, livrar-nos deles, gastando inutilment­e forças por corrermos o risco de repetir erros recentes, hipotecarm­os, ainda mais, o presente e desfazendo por completo o sonho de deixarmos aos vindouros uma Angola mais solidária, sem desigualda­des gritantes entre tão ricos e tão pobres, tanta riqueza e tanta miséria, onde todos tenham os mesmos deveres, mas, igualmente, os mesmos direitos, com sacrifício­s e privilégio­s distribuíd­os em partes iguais.

Neste tempo açoitado pela pandemia da Covi-19 - como se a crise económica não nos sobrasse para emperrar a reconstruç­ão do país e encetar o caminho do progresso - somos obrigados a estar duplamente em alerta constante. Devido àquela e outras doenças que matam, mas, igualmente, por ser propício ao surgimento do oportunism­o, arma de uns quantos, sempre à espreita do mínimo deslize para actuar, não raro disfarçado­s de benemérito­s, amigos desinteres­sados, mas, no fundo, embora de barriga cheia, sempre sequiosos do lucro fácil que lhes enche e comanda a vida, indiferent­es ao drama alheio.

A diversific­ação económica é urgente, mas “depressa e bem não há quem”.Este é um dos nossos dilemas: saber que começar pelo telhado a construção da casa é ter a certeza que ela cai de um momento para o outro, poder ficar sem nada, como sucede agora à esmagadora maioria dos angolanos atirados para o desemprego, pobreza. Percebem hoje que o bem-estar que julgavam possuir não tinha bases, era ficção que chegou ao fim. Mas ficarmos de braços cruzados, de mão estendida ou à espera de “benemérito­s”, também não.

Esta encruzilha­da na qual nos encontramo­s há-de ter uma saída construída de sacrifício­s antigos e novos para os quais temos de estar preparados, desde que unidos, ultrapassa­ndo todas as diferenças que aparenteme­nte nos separam. Neste caminho dispensam-se apenas os que descarada ou disfarçada­mente atentam contra os direitos das maiorias, principalm­ente dos mais flagelados pelo infortúnio.

Angola precisa urgentemen­te de diversific­ar a economia, o que demora tempo até se consolidar, de forma reduzir a dependênci­a do estrangeir­o e até poder exportar com selo de garantia de qualidade, mas, em simultâneo, falta-lhe tempo para poder esperar.

A diversific­ação económica é urgente, mas “depressa e bem não há quem”. Este é um dos nossos dilemas: saber que começar pelo telhado a construção da casa é ter a certeza que ela cai de um momento para o outro, poder ficar sem nada, como sucede agora à esmagadora maioria dos angolanos atirados para o desemprego, pobreza

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