Centro produz 20 toneladas de cacusso por mês
Além do estabelecimento comercial localizado no Distrito Urbano do Nova Vida, os cacussos da Mandikudilo Grupo são, também, comercializados em duas lojas no Benfica, e no Bairro Azul
Um sábado diferente, com pouco Sol e o cinzento de uma imensa neblina a sobrepor-se ao astro-rei. O ambiente é muito comum nesta altura do ano, em que o frio ainda faz o dia a dia dos cidadãos, mas sem alterar o seu “modus vivendi” actual.
No centro de produção de tilápias, localizado no Distrito Urbano do Nova Vida, no município do Kilamba Kiaxi, o movimento de pessoas inicia às primeiras horas da manhã, antes das 8h00, altura em que a loja da empresa King Shlomo Sharabi, do Grupo Mandikudilo, abre as portas a um número considerável de pessoas que acorrem, de segunda a sábado, ao local.
Para conseguir o peixe, a maioria dos compradores chega cedo. Lutam para ocupar os primeiros lugares da fila. A King Shlomo Sharabi, do Grupo Mandikudilo, fez um investimento avaliado em três milhões de dólares norteamericanos. O centro produz mais de vinte toneladas de tilápia por mês.
Pelos números alcançados, já há quem considere a empresa de direito angolano como sendo a maior produtora de cacussos do país, à frente de outros centros de venda de peixe desta espécie, como o do Calumbo, no município de Viana, e da Funda, em Cacuaco.
Segundo informações avançadas ao Jornal de Angola, por um grupo de compradores/revendedores de cacussos, que actuam em vários pontos do país, com o surgimento do centro de produção do Nova Vida muitos deixaram de percorrer longas distâncias, para ter à mesa os apetecíveis cacussos grelhados ou fritos.
“Estecentrosurgiucomouma grande oferenda que caiu do céu, porque deixámos de sair de madrugada para ir a Calumbo comprar tilápias. Num momento em que a qualidade de vida preocupa a todos, nada melhor do que comprar o peixe que sai directamente do viveiro para a grelha”, disse Jurema Segunda.
A jurista Rita Van-Dúnem Boa é outra das clientes habituais do centro de vendas de peixe da empresa King Shlomo Sharabi. Visita o local, pelo menos três vezes por semana, com um único objectivo: comprar cacussos. “Para mim, a tilápia é um alimento indispensável, sobretudo aos finais de semana.
Tenho-o quase sempre à mesa, com feijão de óleo de palma e farinha de mandioca. Os peixes são de boa qualidade e compramo-los vivos”, disse. Construído há três anos, o centro de produção de tilápia do Nova Vida é uma referência obrigatória para os apreciadores de cacusso.
Dispõe de um laboratório, seis tanques internos, dos quais quatro para engorda, um para alevinos e um outro que funciona como reservatório para a reciclagem das águas na fase de crescimento das larvas de peixe.
O sócio-gerente da Mandikudilo Grupo, o israelita King Shlomo Sharabi, disse que além da agricultura e aquicultura, a empresa aposta forte no sector mineiro, mais concretamente na exploração de diamantes e ouro. No Nova Vida, o grupo conta com um total de 22 estufas que facilitam a produção anual de mais de 70 toneladas de legumes, citrinos e frutas orgânicas. Mas, segundo o gestor, a produção de tilápias constitui a maior aposta.
King Sharabi considera difícil a actividade, uma vez que o trabalho exige paciência e um grande esforço da parte de quem investe neste tipo de negócio e, também, do empenho de todas as pessoas que trabalham no projecto. “Se quisermos ter êxitos nesse tipo de negócio, temos que consentir muitos sacrifícios, como ficar dias sem dormir para assegurar que tudo vai correr bem”, afirmou, para de seguida revelar que, nos tanques do centro de produção do Nova Vida há mais de 10 mil peixes.
“Isso significa que fomos obrigados a ter maior sentido de responsabilidade. Ficamos muitas horas sem dormir. Mas isso tudo valeu a pena, porque agora temos um número suficiente de clientes, que garantem os nossos lucros. É quase impossível haver perdas”, afirmou.
Além do centro do Nova Vida, os cacussos da Mandikudilo Grupo são, também, comercializados em duas lojas na zona do Benfica, e no Bairro Azul. De acordo com King Sharabi, os principais compradores de peixe são os supermercados. “Mas temos outros clientes que, quase todos os dias, compram mais de 100 quilos de tilápia”, disse.
Entre outros clientes estão as zungueiras, que muitas vezes comercializam o peixe a escassos metros do centro de produção, a preços altamente especulativos. A cerca de 100 metros do estabelecimento comercial do Distrito Urbano do Nova Vida, o grupo de ambulantes vende o monte de cinco cacussos no valor de cinco mil kwanzas. Na loja, um quilograma de peixe custa apenas três mil.
Défice na produção
Quanto à produção de tilápia, o mercado angolano continua muito abaixo do esperado. Projecções feitas, em 2017, indicavam que a criação de peixe no país, iria atingir cerca de 60 mil toneladas ano, um crescimento na ordem dos 50 por cento em relação ao ano de 2013. Afinal, tudo isso não passou de uma mera conversa para “boi dormir”. Existem muitas empresas e pouca produção.
Em 2018, o Estado gastou 50 milhões de dólares norteamericanos para a importação da tilápia, uma operação que alguns aquicultores consideram “absolutamente desnecessária”. Sobre o assunto, King Sharabi afirmou que, com este valor, Angola estaria em condições de criar, em todo o país, pequenas fazendas de tilápia, com capacidade para produzir, mensalmente, de 10 a 20 toneladas de peixe.
“Com esse dinheiro, o país teria as condições necessárias para produzir peixe suficiente para o consumo interno, e exportar, por exemplo, para a República Democrática do Congo e outros países da região da África Austral”, referiu.
Segundo uma fonte do Ministério da Agricultura e Pescas, a província do Uíge lidera a produção de tilápia no país, com cerca de duas mil toneladas por ano. Fontes do Jornal de Angola consideram a aquicultura um sector produtivo que pode contribuir para a melhoria da dieta alimentar da população, ajudar a combater a fome e a pobreza, e desempenhar um papel preponderante na redução do desemprego.
Sem falar em dados concretos, o biólogo e engenheiro agrónomo José Popovi Coxi, chefe do departamento de aquicultura do Ministério da Agricultura e Pescas, considera ser possível um melhor aproveitamento da produção da tilápia, para equilibrar a dieta alimentar.
O especialista desenvolve um projecto privado que visa a produção comunitária de cacussos no quintal da sua residência, localizada no município de Cacuaco. “Esse é o primeiro tanque de peixe que vai dar corpo ao projecto”, explicou, acrescentando de seguida que “se tudo correr bem, estarei em condições de, num horizonte muito curto, estender, a custo zero, o projecto, em vários quintais de Luanda e do país, desde que qualquer cidadão manifeste o interesse de produzir tilápias em sua casa”, observou.
José Coxi afirma que está disponível a prestar assistência técnica gratuita a todos os interessados em construir um tanque, para a produção de tilápias. Com a iniciativa, o técnico pretende ajudar os mais desfavorecidos a colmatar algumas das principais dificuldades que enfrentam, para conseguirem se alimentar.
Alevinos vs ração
Além da ração para os peixes, os alevinos representam um grande quebra-cabeças para os aquicultores que, segundo o empresário israelita King Sharabi, tem sido muito difícil de encontrar, sobretudo no tempo seco.
“No Cacimbo, levámos mais de um mês para encontrar os alevinos que dão as tilápias”, disse.
Sobre os preços da ração, Júlio Moutinho, proprietário da Super Marcas, a única fábrica de ração em Luanda, disse que os preços praticados devem-se aos custos elevados da matéria-prima.
Explicou que o milho e a soja, que compõem o alimento para animais, ficam muito mais caros, quando comprados em Angola, do que no exterior do país.
Por se tratar de um suplemento alimentar para animais, cujo produto final chega a determinar a prevalência, no mercado, de alguns produtos essenciais à dieta alimentar
dos cidadãos, como a galinha, o porco, e outros, Júlio Moutinho é de opinião que o Estado deve pensar na redução das taxas que acabam por encarecer o preço da soja.
Localizada no município de Icolo e Bengo, a Super Marcas produz, mensalmente, 90 toneladas de ração para peixes, galinhas, coelhos, cães e outros animais. Júlio Moutinho caracterizou de “muito tímido” o mercado da ração para os peixes.
“Com uma capacidade de produção de 300 toneladas de ração por mês, a empresa é forçada a produzir apenas 90 toneladas”, lamentou.
Benefícios da tilápia
Como benefícios à saúde humana, a tilápia é um peixe rico em proteínas. Contém pouca gordura e é diferente de outras fontes mais comuns de macronutrientes, como a carne bovina e o frango. Comparado com outros tipos de peixe, é um dos mais ricos em nutrientes e apresenta um valor calórico menor, o que permite, dentro de um consumo alimentar equilibrado, acelerar o nosso gasto energético e contribuir para a redução do peso de quem o consome. Além disso, o peixe é facilmente digerido. Além do alto valor proteico, a tilápia tem uma quantidade significativa de ômega-3 e de gordura, que diminui o risco de doenças cardíacas e cardiovasculares, reduz os processos inflamatórios, ajuda no desenvolvimento cerebral e regeneração das células, o que faz do alimento um excelente aliado no tratamento da ansiedade, distúrbios do sono e depressão.
Os peixes são excelentes fontes de ácidos graxos insaturados, emergindo a tilápia como fonte de ómega-3, selénio, fósforo, potássio, niacina, vitamina B6 e vitamina B12. Minerais, como o cálcio, iodo e cobalto, e as vitaminas A e D são, também, encontrados neste peixe, que fazem dele um alimento completo, nutricionalmente falando.
Contribuem, também, para a boa visão. Além de auxiliarem no desenvolvimento do feto, desempenha um importante papel na formação da pele, manutenção do tecido ósseo e melhora o funcionamento do sistema imunológico.
“Isso significa que fomos obrigados a ter maior sentido de responsabilidade. Ficámos muitas horas sem dormir. Mas isso tudo valeu a pena, porque agora temos um número suficiente de clientes, que garantem os nossos lucros. É quase impossível haver perdas”, afirmou