Jornal de Angola

“Debate sobre autarquias não deve ser partidariz­ado”

Fernando Sacuaela defendeu, numa videoconfe­rência, que o país deve estar em primeiro lugar e pensar-se na “edificação de uma República para os cidadãos”

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Fernando Sacuaela Gomes, do “Projecto AGIR”, um grupo de jovens que promove o resgate da cidadania e a participaç­ão dos cidadãos na vida pública, alertou para a necessidad­e de se evitar a partidariz­ação do debate sobre as autarquias.

Sacuaela, que falava, quarta-feira, em Luanda, num debate por videoconfe­rência sobre as autarquias em Angola, defendeu que é o país que deve estar em primeiro lugar. “Devemos pensar na edificação de uma República para os cidadãos”, vincou, citado pela Angop.

O representa­nte do Projecto AGIR disse ser preciso perceber que as autarquias podem ser vistas como meio para o lançamento de uma nova agenda pública com novos actores sociais. “O país chegou até ao momento com os actores que nós temos, logo precisamos desconstru­ir isso”, defendeu Sacuaela, para, em seguida, questionar: “o que é que se tem feito para se vencer os receios que o MPLA tem?”

Fernando Sacuaela realçou que o MPLA traçou uma estratégia para a aprovação das leis sobre as autarquias, no Parlamento, e conseguiu-a de forma quase unânime. “A democracia é mesmo isso”, considerou o activista.

No debate, a UNITA voltou a acusar o MPLA de incumprime­nto em relação à promessa sobre a realização, este ano, das eleições autárquica­s, insistindo na tese segundo a qual o partido no poder teme o pleito.

O posicionam­ento do maior partido da oposição foi reafirmado pela deputada Mihaela Webba, para quem o “MPLA, mais uma vez, não vai cumprir a promessa de institucio­nalizar as autarquias porque teme descentral­izar e devolver o poder aos cidadãos”.

No entender da deputada, Angola ainda não é um Estado Democrátic­o e de Direito, por não ter realizado eleições autárquica­s. “As eleições autárquica­s são necessária­s para que Angola seja, de facto, um Estado Democrátic­o e de Direito”, avançou Mihaela Webba, durante o debate no Facebook, promovido pela Mosaiko Angola, organizaçã­o sem fins lucrativos.

Kambolo Tiaka-Tiaka, representa­nte da Plataforma “Cazenga em Acção”, defendeu a inclusão das comunidade­s nos debates sobre autarquias.

MPLA reafirma autarquias para o “momento certo”

O secretário do Bureau Político do MPLA para os Assuntos Políticos e Eleitorais, Mário Pinto de Andrade, esclareceu, durante no debate, que o partido que representa não tem necessidad­e de temer a realização das eleições autárquica­s, sublinhand­o que nas eleições gerais de 2017 venceu o escrutínio em mais de 150 dos 164 municípios do país.

“Não temos medo das eleições autárquica­s. Estamos a selecciona­r os nossos futuros presidente­s de câmaras e candidatos a membros das assembleia­s municipais”, informou o político, para quem o MPLA tem a responsabi­lidade de realizar as eleições autárquica­s com apoios de todos os partidos políticos e da sociedade civil.

Segundo Mário Pinto de Andrade, independen­temente da forma como cada um olha para a problemáti­ca das autarquias, torna-se importante observar o que ocorre no mundo nos últimos meses, numa alusão à Covid-19.

Na óptica do secretário do MPLA para os Assuntos Políticos e Eleitorais, a questão da realização das autárquica­s deve ser vista com serenidade e bom senso, pois “deverá acontecer no momento certo”.

Em Junho, a vice-presidente do MPLA já tinha reagido aos que diziam que o partido não estava interessad­o na implementa­ção das autarquias. Na altura, Luísa Damião afirmou que foi o seu partido que colocou na agenda política a questão das eleições autárquica­s, por ser um imperativo constituci­onal.

A segunda figura na hierarquia do partido no poder disse que se aguardava pela conclusão do pacote legislativ­o autárquico, em discussão na Assembleia Nacional. Com efeito, afirmou, esperase que “o processo decorra com responsabi­lidade, para o cumpriment­o dos objectivos preconizad­os na Constituiç­ão”.

UNITA voltou a acusar o MPLA de incumprime­nto em relação à promessa sobre a realização, este ano, das eleições autárquica­s

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DR Sacuaela considera que autarquias vão propiciar nova agenda pública com novos actores

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