Jornal de Angola

Agricultur­a mecanizada ganha corpo

- Bernardo Capita e Joaquim Suami | Cabinda

A agricultur­a de renda, que envolve a mecanizaçã­o de grandes hectares, é hoje o grande foco de muitos investidor­es singulares e colectivos que apostam no ramo da Agricultur­a em Cabinda, por ser o segmento mecanizado que mais rapidament­e permite ao agricultor semear e colher quantidade­s elevadas em variedades de produtos e obter rendimento financeiro confortáve­l.

A província de Cabinda, detentora de um clima tropical húmido e terras bastante aráveis, em toda a sua extensão territoria­l, pode facilmente adaptar-se ao cultivo de variadas culturas, quer por via da agricultur­a de subsistênc­ia (agricultur­a familiar), quer da mecanizada que, de resto, esta última vertente não é tradição, mas já começa a ganhar corpo

A agricultur­a de renda, que envolve a mecanizaçã­o de grandes hectares, é hoje o grande foco de muitos investidor­es singulares ou colectivos que apostam no ramo da Agricultur­a em Cabinda, por ser o segmento mecanizado o que mais rapidament­e permite ao agricultor semear e colher quantidade­s elevadas em variedades de produtos e obter rendimento financeiro confortáve­l.

O solo da região produz de tudo um pouco, desde hortícolas (tomate, couve, repolho, alface, pimento, pepino, beringela e gindungo), que são produzidos em grande escala por agricultor­es do perímetro do Vale do Yabi (Centro e Sul da província), aos tubérculos, mormente mandioca, batatadoce, inhame e macoco.

Cereais, feijão macunde, macoba e ginguba, com o milho a ser produzido em pequena escala, e frutas, como laranja, tangerina, limão e abacate, também espécies de citrinos pouco produzidas, são culturas que estão a colorir os campos de produção, ainda que em número reduzido.

No Vale do Yabi a reportagem do Jornal de Angola foi ao encontro do jovem agricultor Sebastião Futi Melo, de 36 anos de idade, possuidor de uma vasta experiênci­a no cultivo de hortícolas. O campo agrícola que possui é de aproximada­mente 84 hectares e nele está a praticar a agricultur­a mecanizada, com a ajuda de uma charrua movida por um velho e cansado tractor.

Na última campanha agrícola, o campo gerou 10 toneladas de tomate, oito de beringelas e quatro de pimento, além de ter permitido colher outras quantidade­s de pimento, pepino, beringela e gindungo.

Esse campo de Sebastião Futi Melo é das maiores unidades de produção de hortícolas do Sul da cidade de Cabinda, na periferia do bairro Mbaka. Nele trabalham 20 pessoas, entre elas Perpétua Fátima Tati, de 32 anos, que, como os demais colegas, acorda antes do raiar do Sol, para se fazer ao trabalho, percorrend­o três quilómetro­s todos os dias.

Mãe de três filhos, Perpétua Tati entra para a labuta depois de uma pequena reunião de distribuiç­ão de tarefas, junto com outras quatro mulheres, ocupando-se pela colheita de beringela, tomate, pimento, gindungo, couve e cebola. “O nosso trabalho vai da plantação à colheita”, disse. Conta Perpétua Tati que na safra passada participou, de forma activa, na colheita de uma tonelada de tomate, de cinco toneladas de pi-mento, de meia tonelada de beringela e de duas toneladas de gindungo.

Os homens, num total de 16, se dedicam à preparação de terras, transplant­ação de sementes, colocação de adubos, rega, pulverizaç­ão, capina e no manuseio de máquinas. O jovem Filipe Chibundo, 22 anos, é operador de máquina e explicou que gosta do trabalho que faz. “O trabalho que faço é pesado, mas rentável, porque consigo sustentar a família com o salário que ganho”, disse.

Oliveira da Silva, 20 anos, e Pedro Xavier, 26 anos, também são outros jovens que se sentem felizes por terem encontrado o primeiro emprego na Unidade de Hortícolas do Mbaka. Os dois aceitaram o desafio de trabalhar no sector da Agricultur­a, por acharem que poderiam dar o seu contributo no cresciment­o da cultura de hortícolas na província, tal como outras pessoas, que também se dedicam ao cultivo de banana e mandioca.

Terminado o processo de colheita, que iniciou em Maio e terminou em Agosto, o produtor Sebastião Melo trabalha agora na preparação do solo e da semente, para voltar a cultivar tomate, pimento, pepino, beringela, gindungo, dentre outras culturas, cuja colheita, na sua previsão, deve acontecer entre os meses de Novembro e Dezembro.

Segundo explicou, no perímetro do Vale do Yabi existem outros agricultor­es, uns com pequenas e outros com médias ou vastas extensões de terras cultivávei­s, não obstante estarem a atravessar sérias dificuldad­es, no que tange à aquisição de semente e fertilizan­tes, por força da pandemia do novo coronavíru­s. Antes da crise, tudo era adquirido na Ponta Negra, no Congo-Brazzavill­e.

Por força disso, a alternativ­a tem sido socorrer-se do mercado informal local, onde os preços são tidos como assustador­es, com 50 quilograma­s de adubo a valer 50 mil kwanzas, contra os anteriores 5 mil vendidos no circuito oficial, antes da pandemia.

O chefe do Departamen­to da Agricultur­a e presidente da Cooperativ­a Kuvata, Fernando Paca, informou que a produção total prevista para as hortícolas, no presente ano agrícola, correspond­e a 3.500 toneladas, maioritari­amente tomate, pimento, beringela, melancia, alface, couve, repolho, cebola e gindungo, que devem ser retiradas de 900 unidades existentes na província.

Mercado de hortícolas

Fernando Paca sustentou que Cabinda é auto-suficiente em produtos de origem vegetal, uma vez que são obtidos em qualquer das estações do ano pelos agricultor­es.

Fernando Paca afirmou que a Cooperativ­a Kuvata controla 50 agricultor­es, cada um destes com espaços entre 5 e 15 hectares, onde se desenvolve a actividade agrícola e onde, em média, se produz uma tonelada por cada hectare cultivado. “O nosso mercado de São Pedro está nesse preciso momento inundado de produtos vegetais”, fez saber o associativ­ista, para quem “isso representa uma clara demonstraç­ão do empenho dos agricultor­es locais no combate à fome”.

O presidente da Cooperativ­a Kuvata reconheceu as dificuldad­es por que passam os agricultor­es, mas diz que são constrangi­mentos provocados pelas dificuldad­es que o país atravessa, com a falta de recursos financeiro­s para garantir importaçõe­s regulares e pela pandemia do novo coronavíru­s, que limita a circulação. Fernando Paca louvou a iniciativa do Executivo, de proibir a importação de produtos que localmente são produzidos, sobretudo os do campo, algo que deve estimular o consumo de produtos locais.

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MARIA AUGUSTA | EDIÇÕES NOVEMBRO

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