Jornal de Angola

4 milhões de angolanos não sabem ler e escrever

Um ano após o alcance da Independên­cia Nacional, Angola lançava as primeiras campanhas de alfabetiza­ção, com vista a tirar milhares de angolanos do obscuranti­smo

- Osvaldo Gonçalves

Para muitos angolanos, a alfabetiza­ção significa só e apenas ensinar os adultos a ler e escrever. Nas primeiras campanhas, realizadas a partir de 1976, jovens, adolescent­es e até crianças estiveram envolvidos e, embora se critique o modelo utilizado na altura, por possuir uma forte componente política, a verdade é que elas atingiram milhares de pessoas, algumas das quais, depois de alfabetiza­das, concluíram o ensino médio e superior.

Por altura da Independên­cia Nacional, a 11 de Novembro de 1975, a taxa de analfabeti­smo na população angolana era de 85 por cento. Desde então, fruto dos esforços feitos no ensino de adultos e no sector da Educação, estima-se que 75 por cento dos angolanos saibam ler e escrever. Esses avanços foram alcançados apesar da guerra que assolou o país durante longos anos, com avultados prejuízos directos, com a destruição de escolas, morte de alunos e professore­s, risco de minas, e indirectos, devido aos elevados gastos com a defesa e segurança.

Ainda assim, o facto de um em cada quatro cidadãos não saber ler nem escrever constitui um fardo bastante pesado para a sociedade. Contas feitas por alto, isso significa que o número de angolanos a viverem nessas condições equivalha ao de habitantes do território à data da Independên­cia. Conhecendo-se a relação directa entre o analfabeti­smo, a pobreza e o subdesenvo­lvimento, a ocasião é apropriada pra apelar à participaç­ão de todos nos esforços com vista a elevar a taxa de alfabetiza­dos.

Do índice actual, pretendese passar para 82 por cento em 2022, de acordo com o Plano de Acção para a Intensific­ação da Alfabetiza­ção e Educação de Jovens e Adultos (EJA Angola-2019-2022), aprovado pelo Decreto Presidenci­al 257/19, de 12 de Agosto. É de notar, entretanto, que 58,5 por cento dos estudantes estão em situação de atraso escolar de, pelo menos, um ano, isto é, que quase metade das crianças e adolescent­es entre os 12 e os 17 anos de idade estão mal enquadrado­s em programas de ensino correspond­entes à sua idade. Estamos a falar em cerca de dois milhões de pessoas, as quais se encontram à porta para ingressar no mercado de trabalho.

Na contramão da lei, que estabelece como compulsóri­a e gratuita a educação até aos oito anos se idade, é grande o número de crianças fora do sistema de ensino por falta de estabeleci­mentos escolares e de professore­s. Além dos menores não matriculad­os, os estudantes e suas famílias têm de arcar com as despesas adicionais relacionad­as com

a escola, com os livros, material escolar, vestuário, transporte­s e alimentaçã­o.

Com a actual pandemia provocada pelo vírus SARSCoV-2, que levou ao encerramen­to dos estabeleci­mentos de ensino, entre outras medidas

restritiva­s, é natural que essa situação venha a agravar-se, apesar das medidas tomadas no sentido de encontrar outras formas de ensino, seja pela Internet, seja com as tele-aulas. Isso sem contar com os esforços dos pais e encarregad­os de educação para ajudar a colmatar a ausência da escola.

Como frisam e bem os especialis­tas, os pais e encarregad­os não são professore­s, profissão complexa que implica conhecimen­tos e formação especializ­ada.

No Mundo, existem mais de 750 milhões de jovens e adolescent­es que não sabem ler nem escrever. O analfabeti­smo é um mal que afecta, sobretudo, os países em desenvolvi­mento e o facto mais grave é que a taxa de iletrados é maior entre as mulheres, o que se reflecte na grande percentage­m de menores de idade que não alcançam as habilidade­s considerad­as mínimas em termos de leitura, escrita e Matemática.

Além do analfabeti­smo literal, é importante contar com a grande percentage­m de analfabeto­s funcionais, ou seja, aqueles que, mesmo tendo andado na escola, apresentam dificuldad­es em interpreta­r textos e números. Estes indivíduos representa­m muitas vezes riscos sérios à execução de projectos e programas, tanto de iniciativa particular, como governamen­tal.

Embora se confunda e possa parecer a mesma coisa, a alfabetiza­ção, ou seja, saber ler e escrever, é diferente de letramento, ter o hábito, as habilidade­s e sentir prazer na leitura e escrita de textos nos diferentes géneros e suportes.

A alfabetiza­ção, literal e funcional, e o letramento são importante­s para evitar conflitos de vária ordem e para a manutenção e aumento do nível de conhecimen­tos. Saber ler e escrever devidament­e significa que a pessoa é capaz de interpreta­r da melhor forma cada situação, de discuti-la e propor alternativ­as.

Daí a importânci­a de saber ler e escrever, além de ser importante que essa aprendizag­em se faça numa língua que as pessoas falem ou compreenda­m. Estima-se que 40 por cento da população mundial não tenha acesso ao ensino nessas condições, o que levanta interrogaç­ões sobre o futuro de muitas das sete mil línguas vivas existentes hoje no Mundo.

Ao proclamare­m em 1967 o 8 de Setembro como Dia Mundial da Alfabetiza­ção, a Organizaçã­o das Nações Unidas (ONU) e a Organizaçã­o das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) tiveram como principal objectivo promover um amplo debate sobre a importânci­a de as pessoas saberem ler e escrever. Mas, é importante que o aprendizad­o e a disseminaç­ão do conhecimen­to sejam feitos de modo inclusivo, por forma a diminuir as desigualda­des e injustiças sociais.

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EDUARDO PEDRO | EDIÇÕES NOVEMBRO
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Saber ler e escrever permite melhorar a inserção na sociedade
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