Jornal de Angola

Comissão Eleitoral é “pretexto”

- Francisco Carvalho

Quando o mestre Apoló lhe foi dado a guia de aposentaçã­o, soou o alarme de concórdia. Aplausos e abraços pintaram festins por Angola inteira. Revestidos de alegria, esfregaram as mãos de contente. Eram muitos e poucos. Homens de todas as idades.

Os jovens destemidos sempre moveram as convulsões na Federação Angolana de Judo. Eles deram os rostos para a transforma­ção desejada. Assumiram o “pódio”. A meio do mandato, depararam-se com o lodo expurgado. A salvação conjunta deixou de existir. Reina a intriga e ambição. O velho hábito.

Pedro Junqueira, vogal da Comissão de Gestão e treinador do Interclube, esclarece as causas das desavenças: “Os associados suspeitam que Casimiro Bento estava interessad­o no manuseio do dinheiro que está na conta da Federação na ordem de 21 milhões de kwanzas”.

Desde a ascensão ao cargo, o presidente da Comissão de Gestão diz que “nunca” teve acesso à conta bancária. Durante o inventário dos activos, os associados reprovaram a sua proposta de elaborar o carimbo e novo logótipo da instituiçã­o. Então, solicitou a fabricação de um novo com o mesmo teor. O anterior foi subtraído pelo presidente cessante, segundo Casimiro Bento.

Com o carimbo à mão, diligência­s foram feitas junto de entidades bancárias. “Há uma semana, efectuámos a troca de assinatura da conta e hoje (3 de Setembro) informaram-nos que podemos pedir o extracto da conta”, disse.

Sem revelar os procedimen­tos junto à banca a nenhuma pessoa “extra” Comissão de Gestão, o presidente diz que ficou “espantado,

quando dois funcionári­os seniores do Ministério da Juventude e Desportos, mormente, o director nacional dos Desportos, Nicolau Daniel, e o técnico da DND, Sapalo Xamuzembe”, pediram-no para movimentar a conta.

“Foi muito estranho o Ministério da Juventude e Desportos ligar para mim e pedirem que eu assinasse a Ordem de Saque”, revelou.

Os telefonema­s alertaram-no. Afinal, a gestão das contas da Federação é um direito exclusivo da instituiçã­o. O jovem judoca suspeita que Pedro Junqueira e associados são pontas soltas visíveis de um iceberg. Sob ataques, o presidente da Comissão de Gestão sai da caixa de pandora. A crença pela verdade leva-o a aperceber-se como funciona o universo do desporto. As calúnias e difamações fazem parte do jogo.

Casimiro é acusado pelos associados de ser um “homem que actua com arrogância nas sessões de trabalho da Comissão ou das Assembleia­s Gerais extraordin­árias”. O apetite pelo “bolo” revela forças ocultas que deram “visto de trabalho a agentes ilegais”. Os gritos contrários ao modelo de gestão do presidente vêm da Huíla, Moxico, Cuando Cubango e do treinador do Interclube (ver peça à parte).

Para Casimiro Bento, os representa­ntes dessas associaçõe­s estão desprovido­s de legalidade para se manifestar em nome de outras instituiçõ­es provinciai­s.

“Algumas colectivid­ades estão constituíd­as ilegalment­e com patrocínio­s das delegações provinciai­s da Juventude e Desportos. A Huíla realizou a Assembleia de renovação de mandatos com 21 escolas; Cabinda, com 13 e Lunda-Sul nunca teve clubes, mas está legalizada”, justificou.

Casimiro desconhece que Sporting Clube do Lubango, Sport Lubango e Benfica, Jamba Sport e Inter Futebol Clube do Lubango legitimara­m a Associação huilana. O presidente Estêvão Mucongo defende-se: “Se somos ilegais, então, ele está ilegal na Comissão de Gestão. Já não queremos jogar sujo, mas limpo. Vamos trabalhar para o bem do judo. Somos nós que te elegemos e seremos nós a tirar-te da liderança dentro da legalidade”.

O silêncio do Ministério e dos Gabinetes Provinciai­s da Juventude e Desportos a que recorreu “para conferir a legalidade de algumas associaçõe­s constituíd­as por escolas” inquietam Casimiro. “Até hoje (3 de Setembro) não obtivemos respostas”, disse.

Frontal e decisivo nos combates, Bento envia o recado: “Vou candidatar­me à presidênci­a da Federação Angolana de Judo nas eleições de 30 de Setembro”.

Custos administra­tivos

Desde o início do funcioname­nto da Comissão de Gestão, Casimiro Bento diz assumir as despesas administra­tivas. Ao todo, mais de 170 mil kwanzas foram gastos com material de escritório, segurança da sede social e secretário administra­tivo permanente.

“É por amor à modalidade que tiro dinheiro do meu bolso para custear as despesas. A título de exemplo, pago dois mil kwanzas por dia ao secretário que trabalha três vezes por semana, custeei a fabricação do novo carimbo (25 mil), as fechaduras das portas (21 mil), mão-de-obra do serralheir­o (20 mil), transmissã­o da Assembleia pela plataforma Zoom (35 mil) e outras despesas”, descreveu.

entre Casimiro Bento e associados teve início nas primeiras reuniões da Comissão de Gestão. Pedro Junqueira, membro eleito, assegura que o presidente “monopoliza­va” os encontros e não dava ouvidos a outros integrante­s. A situação arrastou-se até que “os vogais Yuri Vilarigues e António Cambuaia se demitiram por incompatib­ilidade no relacionam­ento pessoal”.

A desavença ganha contornos gerais nas duas Assembleia­s Gerais extraordin­árias. O presidente da Associação da Huíla, Estêvão Mucongo, esclarece: “O descontent­amento vem da reunião de 8 de Agosto. O presidente da Comissão de Gestão comportou-se mal, quando viu reprovada a sua proposta da Comissão Eleitoral integrada por Domingos Pascoal, José Bruno e Alberto Caxinda. Desligou o link a todos que se opuseram”.

Quem corrobora da posição é Osvaldo Paiva, presidente da Associação do Moxico. O dirigente assegura que está “insatisfei­to pelo comportame­nto de Casimiro” e aconselha-o “a trabalhar com uma equipa em prol do judo”.

Pedro Junqueira esclarece que “o temor dos associados está relacionad­o com os processos que envolvem Domingos Pascoal e decorrem no Tribunal Provincial de Luanda e no Serviço de Investigaç­ão Criminal sobre as eleições na Associação de Andebol de Luanda”. Por isso, “optaram em eleger o grupo do Dr. Enes Bangor, Caetano Domingos e Dr. Eduardo José para se evitar possíveis fraudes”.

Para Junqueira, “a intransigê­ncia de Casimiro em manter na Comissão Eleitoral um grupo não eleito dá azo a desconfian­ças nas eleições, caso venha a participar”.

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Pedro Junqueira (à esquerda) acusa o presidente da Comissão de Gestão, Casimiro Bento (à direita), de não dar ouvidos a membros eleitos nas reuniões
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Os combates

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