Comissão Eleitoral é “pretexto”
Quando o mestre Apoló lhe foi dado a guia de aposentação, soou o alarme de concórdia. Aplausos e abraços pintaram festins por Angola inteira. Revestidos de alegria, esfregaram as mãos de contente. Eram muitos e poucos. Homens de todas as idades.
Os jovens destemidos sempre moveram as convulsões na Federação Angolana de Judo. Eles deram os rostos para a transformação desejada. Assumiram o “pódio”. A meio do mandato, depararam-se com o lodo expurgado. A salvação conjunta deixou de existir. Reina a intriga e ambição. O velho hábito.
Pedro Junqueira, vogal da Comissão de Gestão e treinador do Interclube, esclarece as causas das desavenças: “Os associados suspeitam que Casimiro Bento estava interessado no manuseio do dinheiro que está na conta da Federação na ordem de 21 milhões de kwanzas”.
Desde a ascensão ao cargo, o presidente da Comissão de Gestão diz que “nunca” teve acesso à conta bancária. Durante o inventário dos activos, os associados reprovaram a sua proposta de elaborar o carimbo e novo logótipo da instituição. Então, solicitou a fabricação de um novo com o mesmo teor. O anterior foi subtraído pelo presidente cessante, segundo Casimiro Bento.
Com o carimbo à mão, diligências foram feitas junto de entidades bancárias. “Há uma semana, efectuámos a troca de assinatura da conta e hoje (3 de Setembro) informaram-nos que podemos pedir o extracto da conta”, disse.
Sem revelar os procedimentos junto à banca a nenhuma pessoa “extra” Comissão de Gestão, o presidente diz que ficou “espantado,
quando dois funcionários seniores do Ministério da Juventude e Desportos, mormente, o director nacional dos Desportos, Nicolau Daniel, e o técnico da DND, Sapalo Xamuzembe”, pediram-no para movimentar a conta.
“Foi muito estranho o Ministério da Juventude e Desportos ligar para mim e pedirem que eu assinasse a Ordem de Saque”, revelou.
Os telefonemas alertaram-no. Afinal, a gestão das contas da Federação é um direito exclusivo da instituição. O jovem judoca suspeita que Pedro Junqueira e associados são pontas soltas visíveis de um iceberg. Sob ataques, o presidente da Comissão de Gestão sai da caixa de pandora. A crença pela verdade leva-o a aperceber-se como funciona o universo do desporto. As calúnias e difamações fazem parte do jogo.
Casimiro é acusado pelos associados de ser um “homem que actua com arrogância nas sessões de trabalho da Comissão ou das Assembleias Gerais extraordinárias”. O apetite pelo “bolo” revela forças ocultas que deram “visto de trabalho a agentes ilegais”. Os gritos contrários ao modelo de gestão do presidente vêm da Huíla, Moxico, Cuando Cubango e do treinador do Interclube (ver peça à parte).
Para Casimiro Bento, os representantes dessas associações estão desprovidos de legalidade para se manifestar em nome de outras instituições provinciais.
“Algumas colectividades estão constituídas ilegalmente com patrocínios das delegações provinciais da Juventude e Desportos. A Huíla realizou a Assembleia de renovação de mandatos com 21 escolas; Cabinda, com 13 e Lunda-Sul nunca teve clubes, mas está legalizada”, justificou.
Casimiro desconhece que Sporting Clube do Lubango, Sport Lubango e Benfica, Jamba Sport e Inter Futebol Clube do Lubango legitimaram a Associação huilana. O presidente Estêvão Mucongo defende-se: “Se somos ilegais, então, ele está ilegal na Comissão de Gestão. Já não queremos jogar sujo, mas limpo. Vamos trabalhar para o bem do judo. Somos nós que te elegemos e seremos nós a tirar-te da liderança dentro da legalidade”.
O silêncio do Ministério e dos Gabinetes Provinciais da Juventude e Desportos a que recorreu “para conferir a legalidade de algumas associações constituídas por escolas” inquietam Casimiro. “Até hoje (3 de Setembro) não obtivemos respostas”, disse.
Frontal e decisivo nos combates, Bento envia o recado: “Vou candidatarme à presidência da Federação Angolana de Judo nas eleições de 30 de Setembro”.
Custos administrativos
Desde o início do funcionamento da Comissão de Gestão, Casimiro Bento diz assumir as despesas administrativas. Ao todo, mais de 170 mil kwanzas foram gastos com material de escritório, segurança da sede social e secretário administrativo permanente.
“É por amor à modalidade que tiro dinheiro do meu bolso para custear as despesas. A título de exemplo, pago dois mil kwanzas por dia ao secretário que trabalha três vezes por semana, custeei a fabricação do novo carimbo (25 mil), as fechaduras das portas (21 mil), mão-de-obra do serralheiro (20 mil), transmissão da Assembleia pela plataforma Zoom (35 mil) e outras despesas”, descreveu.
entre Casimiro Bento e associados teve início nas primeiras reuniões da Comissão de Gestão. Pedro Junqueira, membro eleito, assegura que o presidente “monopolizava” os encontros e não dava ouvidos a outros integrantes. A situação arrastou-se até que “os vogais Yuri Vilarigues e António Cambuaia se demitiram por incompatibilidade no relacionamento pessoal”.
A desavença ganha contornos gerais nas duas Assembleias Gerais extraordinárias. O presidente da Associação da Huíla, Estêvão Mucongo, esclarece: “O descontentamento vem da reunião de 8 de Agosto. O presidente da Comissão de Gestão comportou-se mal, quando viu reprovada a sua proposta da Comissão Eleitoral integrada por Domingos Pascoal, José Bruno e Alberto Caxinda. Desligou o link a todos que se opuseram”.
Quem corrobora da posição é Osvaldo Paiva, presidente da Associação do Moxico. O dirigente assegura que está “insatisfeito pelo comportamento de Casimiro” e aconselha-o “a trabalhar com uma equipa em prol do judo”.
Pedro Junqueira esclarece que “o temor dos associados está relacionado com os processos que envolvem Domingos Pascoal e decorrem no Tribunal Provincial de Luanda e no Serviço de Investigação Criminal sobre as eleições na Associação de Andebol de Luanda”. Por isso, “optaram em eleger o grupo do Dr. Enes Bangor, Caetano Domingos e Dr. Eduardo José para se evitar possíveis fraudes”.
Para Junqueira, “a intransigência de Casimiro em manter na Comissão Eleitoral um grupo não eleito dá azo a desconfianças nas eleições, caso venha a participar”.