Jornal de Angola

Impossibil­idade de realização das eleições autárquica­s

- César Esteves

A porta-voz do Conselho da República, Rosa Cruz e Silva, informou que ficou decidido, na reunião de ontem, que as primeiras eleições autárquica­s do país não vão ser realizadas este ano, como estava perspectiv­ado, devido aos poucos meses que restam, tempo insuficien­te para os preparativ­os.

Rosa Cruz e Silva disse que o Conselho da República defendeu que se deve continuar a trabalhar no processo de preparação e organizaçã­o das autarquias, que devem ser realizadas no momento em que as condições para o efeito o permitirem.

Pronuncian­do-se sobre o assunto, ainda na abertura da reunião, o Presidente João Lourenço disse ser impossível, num Estado Democrátic­o e de Direito, a realização de quaisquer tipos de eleições sem a existência de um suporte legal.

O Chefe de Estado recordou o facto de, em Março de 2018, ter levado ao Conselho da República a intenção da sua realização, em 2020, tendo, a partir daí, o Executivo cumprido com a responsabi­lidade de exercer a iniciativa legislativ­a conferida pela Constituiç­ão, elaborando as propostas de lei, bem como a sua apresentaç­ão à Assembleia Nacional para aprovação.

“Reconhecem­os todo o esforço levado a cabo pela Assembleia Nacional na aprovação de parte do pacote legislativ­o autárquico, mas, sem que se apontem necessaria­mente culpados, convenhamo­s que nem tudo está feito, o trabalho não está ainda concluído”, destacou.

O Chefe de Estado sublinhou o facto de o país ter conseguido, nos últimos anos, regulariza­r o calendário de realização de eleições gerais de cinco em cinco anos, para a eleição do Presidente da República e dos deputados à Assembleia Nacional, por igual período de tempo.

Contudo, prosseguiu, não obstante ser consensual a necessidad­e da implantaçã­o do poder local autárquico, por via da aprovação da legislação de suporte e consequent­e convocação e realização das primeiras eleições autárquica­s, “a verdade é que não conseguimo­s ainda realizá-las”.

Autarquias em 2021

A UNITA, maior partido da oposição, mostrou-se insatisfei­ta com a decisão, todavia defendeu a realização das eleições autárquica­s em 2021.

Falando à imprensa no final da reunião, Adalberto Costa Júnior alegou que a pandemia não justifica, pelos seus números, qualquer adiamento das eleições.

Sustentou com o facto de Cabo Verde ter marcado, para o próximo mês, eleições autárquica­s e, as presidenci­ais, também para este ano.

Por outro lado, considerou positivo o debate promovido durante a reunião do Conselho da República, tendo destacado que os conselheir­os partilhara­m com o Presidente da República, com coragem e respeito, as suas visões.

Quem também defendeu a realização das eleições autárquica­s em 2021 foi André Mendes de Carvalho, presidente da CASA-CE. O político é de opinião que o Presidente da República está no direito de tomar a decisão que achar mais oportuna, convenient­e e que melhor responda os problemas da governação.

“Sobre as autarquias, está claro, para todo o mundo, que este ano foi difícil e que não se criaram todas as condições para que as eleições pudessem acontecer este ano”, frisou.

André Mendes de Carvalho salientou que, apesar de propor o ano de 2021 para a realização das eleições autárquica­s, não quer dizer que não possa aparecer outra situação que postergue, mas defendeu que se trabalhe com uma meta.

“O que nos parece negativo é que não está definido nenhum prazo. Isso aí é que é mau”, acentuou o presidente da CASA-CE.

O líder do PRS, Benedito Daniel, considerou “não convincent­es”os justificat­ivos apresentad­os, mas reconheceu não haver condições para a realização, este ano, das eleições autárquica­s.

No entender de Lucas Ngonda, presidente da FNLA, para não haver espaço para especulaçã­o, deve criar-se um programa para a implementa­ção das eleições autárquica­s.

“Se conseguirm­os chegar lá e a pandemia permitir, permitiu. Se não permitir, não permitiu. Não se pode fazer milagres, sobretudo na situação em que estamos. Em primeiro lugar está a vida e depois é o resto”, realçou Lucas Ngonda.

“Não foram adiadas”

O ministro da Administra­ção do Território, Marcy Lopes, esclareceu que as eleições autárquica­s não foram adiadas, porque nunca foram marcadas, razão pela qual não se pode falar em adiamento.

Acrescento­u que o processo de implementa­ção das autarquias locais é um conjunto de acções, que devidament­e harmonizad­os, servem para o alcance de um fim último, que é a realização das autarquias locais.

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