Jornal de Angola

Ex-directora-geral da OMS aponta falta de preparação e eficácia apesar de avisos

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A antiga directora-geral da Organizaçã­o Mundial da Saúde (OMS) Gro Harlem Brundtland criticou a “ausência de preparação e eficácia” do mundo para travar a Covid-19, apesar dos avisos feitos antes da pandemia.

Gro Harlem Brundtland é co-presidente do Conselho de Monitoriza­ção da Preparação Global (GPMB, na sigla em inglês), órgão independen­te que supervisio­na a preparação da resposta a crises globais de saúde, e que foi lançado em 2018 pela OMS e pelo Banco Mundial.

Na segunda-feira, o GPMB publicou o relatório “Um Mundo em Desordem”, que foi sexta-feira tema de uma sessão pública virtual promovida pela OMS, a partir da sede, em Genebra, na Suíça.

O relatório, o segundo depois do de 2019, faz um retrato duro da resposta mundial à Covid-19 e adverte que o mundo não pode estar novamente despreveni­do, quando a próxima pandemia chegar.

A ex-primeira-ministra norueguesa Gro Harlem Brundtland reconheceu que há países que “fizeram melhor” do que outros, para enfrentar a pandemia da Covid-19, mas, na generalida­de, houve “ausência de preparação” que conduziu à “ausência de eficácia”.

Gro Harlem Brundtland assinalou que a falta de preparação do mundo para combater uma pandemia, como a da Covid-19, que foi declarada em 30 de janeiro, já tinha sido identifica­da no relatório anterior, “Um Mundo em Risco”, publicado em Setembro de 2019.

“Houve advertênci­as antes da pandemia”, vincou, sublinhand­o que a Covid-19 “está a custar triliões de dólares”.

“Não podemos permitir que isso volte a acontecer”, referiu a ex-directora-geral da OMS, apontando que, “num mundo interligad­o”, é preciso “encontrar melhores formas de trabalhar em uníssono” e “novas formas de financiame­nto”.

A co-presidente do Conselho de Monitoriza­ção da Preparação Global apelou, para este efeito, à convocação de uma cimeira mundial sobre segurança sanitária.

“Necessitam­os de uma liderança decidida”, afirmou, por sua vez, o presidente do Conselho da Fundação Kofi Annan, Elhadj As Sy, que também lidera o GPMB.

Segundo o ex-secretário-geral da Federação Internacio­nal das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho, os “líderes podem ser parte do problema”, quando deveriam, antes, “trabalhar em prol do bem comum”.

“Os líderes terão de criar relações de confiança com os seus cidadãos, tomar acções para proteger os mais vulnerávei­s”, frisou.

No relatório publicado na segunda-feira, o GPMB recomenda cinco acções para dar ordem ao mundo: liderança responsáve­l, cidadania comprometi­da, sistemas fortes e ágeis de segurança sanitária, investimen­to sustentado, de longo prazo, e governança global robusta.

De acordo com o Conselho de Monitoriza­ção da Preparação Global, a próxima pandemia “será ainda mais devastador­a”, se não se aprender com a Covid-19.

No seu primeiro relatório anual, de Setembro de 2019, o GPMB advertiu que a capacidade de resposta global, incluindo o financiame­nto, a uma emergência de saúde era insuficien­te. “Se investirmo­s agora, podemos prevenir novas pandemias”, disse o director-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesu­s, assumindo as críticas do GPMB e que a “possibilid­ade” de novas pandemias “vai aumentar”.

“Haverá vírus novos, novas ameaças mundiais”, enfatizou, reconhecen­do ser necessário “fortalecer a preparação de todo o mundo” e “compromiss­os de cooperação de longo prazo”.

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