Jornal de Angola

A força de um jovem para vencer na vida

Trazido pela mãe ao colo do Huambo para Luanda, com apenas 2 anos, Armando Santos sobreviveu em condições muito vulnerávei­s sempre como estudante exemplar

- Rui Ramos

Armando Pena Santos, de 23 anos, é natural do Huambo, filho de Martins Santos e de Cristina Songa ambos nascidos também no Huambo. A separação dos país aconteceu quando ele ainda tinha um ano de idade. Após a separação, a mãe junta-se com o actual padrasto e juntos decidiram tentar a vida na cidade capital do país. Armando Pena Santos só conheceu o pai biológico aos 18 anos.

Aos 2 anos, a família é obrigada a sair do Huambo por culpa da guerra, para viver em Luanda em condições vulnerávei­s, onde enfrentou e escapou do clima dominado pela criminalid­ade e prostituiç­ão.

A família de Armando Pena Santos, chegada a Luanda, atirou-se à sobrevivên­cia, indo viver para uma minúscula casa de quarto e sala em Viana. Quando já tinha 5 anos, a família, graças ao seu intenso trabalho, conseguiu construir uma casa maior.

O primeiro contacto de Armando Pena Santos com o ensino foi aos 4 anos, numa explicação (pré-classe) por proposta do professor Emílio, falecido no ano seguinte e que acreditava que Armando Pena Santos tinha bastantes potenciali­dades e, por isso, gostava de o ter na explicação embora ainda sem idade para tal.

O ensino primário de Armando Pena Santos foi feito em duas escolas em simultâneo. No período matinal na “famosa” escola FAS (Fundo de Acção Social) em Viana-Bairro Km 14-rua Santa Teresa, onde fez da 1ª à 4ª classe, chegando a ser eleito melhor aluno do ano por uma delegação das Nações Unidas que realizava anualmente um concurso nestas escolas. Como prémio, Armando Pena Santos recebeu um carro grande de brinquedo e uma bola de futebol.

Em 2007 e 2008, Armando Pena Santos fez a 5ª e a 6ª classes na Escola 5113, a “Escolinha”, sendo considerad­o o melhor aluno de Llngua Portuguesa e História e escolhido para monitor de História, com apenas 12 anos.

No ano seguinte e até 2011 fez o primeiro ciclo do Ensino Secundário (7ª-9ª classe) na Escola Católica “Sagrado Coração de Jesus” no Bairro Muro de Areia, em Viana. Foi distinguid­o como o aluno com o comportame­nto mais exemplar pela instituiçã­o.

Tinha 15 anos. De 2012 a 2014 fez o ensino médio no Instituto Médio João Beirão 50104, no Bairro Luanda Sul, em Ciências Físicas e Biológicas, começando a ser chamado de “Psicólogo” pelos colegas e pelo professor de Psicologia por passar todo o tempo do intervalo a ler fascículos sobre Psicologia.

No último ano, fruto de um concurso realizado pela ONG Actos e do seu invulgar interesse pelos estudos, beneficiou de 6 cursos profission­ais no centro profission­al CENFOC.

Em 2015 concorre a uma vaga entre 6.386 candidatos para o Instituto Superior de cCiências da Educação ISCED de Luanda para o curso de Ensino da Psicologia e fica entre os 6 primeiros selecciona­dos.

No ano seguinte tranca o ano para concorrer à Academia da Força Aérea no Lubango, pois tinha o sonho de ser piloto, mas foi reprovado no terceiro teste e quando lhe foram pedidos 90 mil para ver o nome na lista, desistiu do seu sonho maior e volta para Luanda e retoma os estudos, que termina em 2019.

Actualment­e, é professor no Centro Educaciona­l Cristão (CEDUC) no Zango 3, escola que lecciona com o modelo por "Princípio" um novo modelo de transmissã­o e aquisição de conhecimen­tos em que as crianças são instruídas com bases bíblicas de forma integral, sendo a única com este modelo aqui em África.

Na memória permanecem as dificuldad­es sentidas durante grande parte da sua vida que ao mesmo tempo, enfatiza, são incentivos para dar outro rumo à vida dos seus semelhante­s. “A dificuldad­e vivida em nada belisca a educação assente em valores transmitid­os pela minha mãe e avô, acrescida pela religião, perante um meio abundante em criminalid­ade, drogas, prostituiç­ão, onde esperança da juventude está adormecida”.

Mas o jovem não desarma. “Actualment­e, a maior dificuldad­e é o trajecto da Faculdade (Kilamba) para casa (Viana), faço uma hora de viagem, os táxis são raros. Para ultrapassa­r, eu uso a filosofia da comparação: entre o importante e o urgente, só assim entendo as minhas prioridade­s.”

Presenteme­nte está empenhado em causas sociais. Esteve em acções de solidaried­ade nas províncias do Huambo, Benguela e zonas periférica­s de Luanda. Faz parte dos projectos Juntos Podemos Mover Angola (coordenado­radjunto), Grémio Juvenil de Angola (secretário provincial de Luanda), Amigos Solidários e Associação Juventude do Bem (membro).

 ??  ??
 ?? DR ?? Armando Pena Santos conheceu o pai biológico aos 18 anos
DR Armando Pena Santos conheceu o pai biológico aos 18 anos

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola