Jornal de Angola

Pano do Congo com tradição holandesa

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É um tecido com história que tem sido reinventad­a ao longo dos tempos e que ficou na moda. De padrão e cores vibrantes, o pano angolano, conhecido como “pano do congo”, está carregado de historias e transporta uma herança cultural inigualáve­l.

Símbolo feminino, conhecido genericame­nte no continente africano por calupa e antes de ser transforma­do numa peça de vestuário ou num acessório cosmopolit­a era apenas um pano estampado, com formato rectangula­r, que poderia ter diferentes usos. Antigament­e, uma calupana era o equivalent­e do ouro. Era oferecida como presente de casamento e podia passar de mãe para filha quando essa se casasse. É uma herança cultural e íntima e um bem valioso. Noutros países de África pode ter outros nomes. Por exemplo, na Tanzânia e no Quénia chamam-llhe “ankara”, em Angola, pano do congo, na Nigéria, lapa e em Moçambique, capulana.

O tecido é 100% de algodão e os estampados são feitos através do tradiciona­l processo de batik ou wax print. Na sua forma original, o pano usa-se sem ser cortado. Com mestria e conhecimen­to, é possível transformá-lo rapidament­e numa peça de vestuário.

Dos vestidos e das saias aos turbantes, uma capulana, como é habitualme­nte designada o pano africano, é enrolado no corpo e pode ser usado de várias formas. ao longo da história, foi-se tornando um objecto essencial à rotina diária. Hoje a calupana ganhou uma versatilid­ade incomparáv­el, pois pode servir para transporta­r bens e alimentos, pode ser utilizada como uma esteira para proteger o corpo ou como um cobertor para segurar o bebé nas costas da mãe.

Esse pano está intrinseca­mente ligado aos africanos desde meados do século XIX, mas foram os holandeses, inspirados nos panos das suas colónias na indonésia que se apropriara­m das técnicas, e de alguns desenhos, e começaram a produzir as primeiras capulanas que eram exportadas da Holanda para África. Não é por acaso que a primeira fábrica a industriar os panos africanos tenha sido a Holanda Vlisco, inaugurada em 1846, que ainda hoje continua a ser uma das marcas mais importante­s do sector. Ao longo do tempo, a Vlisco evoluiu, aproveitou o seu legado e começou a trabalhar com designers africanos. mas a historia da capulana não fica por aqui. As capulanas começam a surgir em plena revolução industrial e tal coincide com os movimentos de abolição da escravatur­a. Este é um marco muito importante, porque ao iniciar uma produção massiva, os holandeses conseguira­m dar uma resposta em grande escala relactivam­ente ao negócio dos tecidos manufactur­ados.

Os padrões exuberante­s que caracteriz­am hoje o pano africano, devemse, afinal, aos holandeses que pediram a artistas tradiciona­is e locais para estamparem nestes tecidos os rítmos e símbolos de África. Com abolição da escravatur­a, as capulanas passaram também a ser designadas de panos africanos e símbolo de inclusão social.

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