Quarentena do jindungo
O jindungo, desde épocas imemoráveis, integra os hábitos dos angolanos, pelo que, não há muitos anos, qualquer casa, por mais modesta que fosse, o tinha, pois mesa sem ele era pior do que lamparina sem torcida.
Pela mesma razão, qualquer quintalzinho ou terreno perto de casa tinha jindungueiro, cujos filhos eram tempero obrigatório à nossa alimentação, alegria dos nossos sabores, razões pelas quais, os próprios restaurantes, na altura maioritariamente de portugueses que chegavam cá sem o conhecer, se habituaram a usá-lo e a tê-lo à mesa dos clientes, por ser barato e os ajudar no negócio.
O jindungo, saído directamente do jindungueiro para o prato ou guardado, num frasco, em azeite-doce ou vinagres - nunca por muito tempo para não lhe adulterar o sabor - faz parte dos nossos hábitos alimentares, pelo que se estranha haver espaços de “comes e bebes” em Luanda, nos quais seja substituído por um produto industrial, colocado em embalagens de plástico com o nome dele envolto em várias marcas. Umas, vindas do estrangeiro, outras feitas já cá, que copiar o que não devemos é especialidade na moda. Numa altura em que se apregoa a importância de diversificar a economia e cuidar do ambiente não deixa de ser preocupante o surgimento destes “novos hábitos”.
A desculpa de que a cerca sanitária impede a entrada, em Luanda, na de produtos alimentares é, no caso, de “mau pagador”. jindungueiros sempre os tivemos nos quintais, pequenos ou grandes. E, à falta deles, qualquer pedaço de terra junto a casa. Em alternativa, havia um vizinho a quem recorrer.
A Covid-19 é culpada de muitos dos maus bocados por que passamos, mas culpá-la da falta de jindungo em Luanda ultrapassa os limites do absurdo. Apenas nos falta ouvir que aquele pequenino fruto, parte integrante da nossa alimentação, está, também ele, em quarentena obrigatória!