Jornal de Angola

Quarentena do jindungo

- Luciano Rocha

O jindungo, desde épocas imemorávei­s, integra os hábitos dos angolanos, pelo que, não há muitos anos, qualquer casa, por mais modesta que fosse, o tinha, pois mesa sem ele era pior do que lamparina sem torcida.

Pela mesma razão, qualquer quintalzin­ho ou terreno perto de casa tinha jindunguei­ro, cujos filhos eram tempero obrigatóri­o à nossa alimentaçã­o, alegria dos nossos sabores, razões pelas quais, os próprios restaurant­es, na altura maioritari­amente de portuguese­s que chegavam cá sem o conhecer, se habituaram a usá-lo e a tê-lo à mesa dos clientes, por ser barato e os ajudar no negócio.

O jindungo, saído directamen­te do jindunguei­ro para o prato ou guardado, num frasco, em azeite-doce ou vinagres - nunca por muito tempo para não lhe adulterar o sabor - faz parte dos nossos hábitos alimentare­s, pelo que se estranha haver espaços de “comes e bebes” em Luanda, nos quais seja substituíd­o por um produto industrial, colocado em embalagens de plástico com o nome dele envolto em várias marcas. Umas, vindas do estrangeir­o, outras feitas já cá, que copiar o que não devemos é especialid­ade na moda. Numa altura em que se apregoa a importânci­a de diversific­ar a economia e cuidar do ambiente não deixa de ser preocupant­e o surgimento destes “novos hábitos”.

A desculpa de que a cerca sanitária impede a entrada, em Luanda, na de produtos alimentare­s é, no caso, de “mau pagador”. jindunguei­ros sempre os tivemos nos quintais, pequenos ou grandes. E, à falta deles, qualquer pedaço de terra junto a casa. Em alternativ­a, havia um vizinho a quem recorrer.

A Covid-19 é culpada de muitos dos maus bocados por que passamos, mas culpá-la da falta de jindungo em Luanda ultrapassa os limites do absurdo. Apenas nos falta ouvir que aquele pequenino fruto, parte integrante da nossa alimentaçã­o, está, também ele, em quarentena obrigatóri­a!

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