Jornal de Angola

Milhares de cidadãos estão sem documentos

Falta de Bilhete de Identidade e boletim de nascimento faz com que muitas crianças e adolescent­es estejam fora do sistema normal de ensino e aprendizag­em

- Augusto Cuteta |

Mais de 30 mil habitantes dos bairros Bitas, no município de Belas, em Luanda, não possuem documentos de identifica­ção pessoal, como Bilhete de Identidade e boletim de nascimento, um dos principais problemas que a população local apresentou, recentemen­te, à Associação de Apoio às Pessoas Carentes de Angola (AAPCA).

O presidente fundador da AAPCA, Francisco Samba Guimarães, que revelou o facto ao Jornal de Angola, explicou que a situação, discutida num encontro com coordenado­res das comissões dos bairros Bita Tanque, Vila Flor, Bita Progresso, Santo António e Bita Cinco Fios, afecta homens, mulheres, jovens e crianças.

Em consequênc­ia da falta desses documentos, disse Samba Guimarães, muitas crianças e adolescent­es estão fora do Sistema de Ensino. Um levantamen­to da associação, que contou com a colaboraçã­o dos referidos coordenado­res de comissões de bairro, dá conta que existem sete mil menores nessas condições.

“Outras crianças estudam em instituiçõ­es privadas, mas acabam prejudicad­as por não disporem de registo de nascimento ou de Bilhete de Identidade. Chegam às classes terminais e, depois, não conseguem os certificad­os nem prosseguir os estudos”, lamentou o presidente da associação.

Samba Guimarães apela às autoridade­s para levarem a cabo uma campanha massiva de registo de nascimento e de tratamento do BI, direcciona­da às comunidade­s daquele município de Luanda, no sentido de se inverter o quadro, que tem retirado oportunida­des de emprego a centenas de jovens.

A par da falta de documentos pessoais, a AAPCA constatou que a carência de salas de aula e de unidades de saúde públicas são outros dos grandes problemas que a população dos referidos bairros enfrenta, o que as leva a procurar estabeleci­mentos que existem na Cidade do Kilamba.

Há uns tempos, para mudar esse cenário, a AAPCA conseguiu um financiame­nto, a partir da Embaixada do Japão em Angola, para a construção de uma escola, mas, por falta da cedência de um terreno, pela Administra­ção Municipal de Belas, a associação ficou sem o referido patrocínio.

“A embaixada foi obrigada a cancelar o financiame­nto, porque nós tínhamos tudo para avançar, mas faltavanos o espaço. E, infelizmen­te, a administra­ção não ajudou a resolver um problema que aflige centenas de famílias dessas zonas”, lamentou Samba Guimarães, para quem as autoridade­s devem ser os primeiros a facilitar esse tipo de iniciativa­s e não a criar empecilhos na materializ­ação dos projectos.

Outras preocupaçõ­es

O presidente da AAPCA, uma Organizaçã­o Não-Governamen­tal com cinco anos de existência, avançou que a população dos Bitas precisa, igualmente, de instituiçõ­es quer estatais, quer empresaria­is que apoiem na criação de centros de formação profission­al e de lares de acolhiment­o de crianças desfavorec­idas, além de locais de diversão.

Samba Guimarães disse ser fundamenta­l que as organizaçõ­es se juntem para combater a fome e a pobreza que reinam no seio das referidas comunidade­s e em outras de Luanda e do resto do país. “Eles precisam de muitos apoios e, nós, AAPCA, sozinhos não damos conta do assunto. Pedimos mais apoio”, exortou.

Por exemplo, na reunião de Maio deste ano, os coordenado­res das comissões de moradores dos Bitas reiteraram a necessidad­e da instalação da energia eléctrica da rede pública, água canalizada, construção de mais escolas públicas e centros de saúde, esquadras e postos policiais, como as maiores preocupaçõ­es.

Samba Guimarães espera ainda apoios para a edificação de um centro polidespor­tivo e cultural, asfaltagem da via principal do Bita, que liga a Via Expressa aos bairros Vila Flor, Santo António, Progresso e Cinco Fios, bem como apoiar acções de fomento de micro e pequenas empresas, através do financiame­nto do programa de empregabil­idade do Executivo.

Comissões de moradores dos Bitas reiteraram a necessidad­e da instalação de energia eléctrica da rede pública, água canalizada, construção de escolas, centros de saúde e esquadras

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EDIÇÕES NOVEMBRO Defendida a realização de uma campanha gratuita de registo civil e de tratamento do BI

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