Jornal de Angola

Alívio da dívida pode desencadea­r onda de ‘defaults’

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O pedido de alívio da dívida aos credores comerciais pode desencadea­r uma onda de 'defaults' entre os países africanos mais afectados pela pandemia, segundo os analistas ouvidos pela agência Bloomberg. "A Zâmbia pode abrir a porta para outros pedidos de países com dificuldad­es em pagar a dívida", disse o director da consultora Tellimer, Stuart Culverhous­e, acrescenta­ndo que "quanto mais tempo a pandemia persistir e quanto mais tempo demorarem a recuperar, maior a probabilid­ade de os países que já estavam fragilizad­os à entrada da crise terem de reestrutur­ar a dívida". "Estamos agora a ver a queda dos mais vulnerávei­s, o que é o prelúdio de uma avalanche de 'defaults' se nenhuma acção urgente relativame­nte à dívida privada for tomada", alertou o director do departamen­to de Política Pública Internacio­nal da consultora Oxfam, Jaime Atienza, também em declaraçõe­s à agência de informação financeira Bloomberg. A Zâmbia tornou-se esta semana o primeiro país africano a pedir aos credores comerciais uma reestrutur­ação da dívida, o que, a confirmars­e, fará com que seja o primeiro país do continente a entrar automatica­mente em 'default' ou incumprime­nto financeiro à luz dos critérios de avaliação das agências de 'rating'. Além da Zâmbia, há outros países que enfrentam dificuldad­es e que os investidor­es olham como potenciais seguidores. O Chade pediu ao maior intermediá­rio de matérias-primas, a Glencore, e a outros credores privados, para adiar os pagamentos, e o Quénia também confirmou que está em risco devido ao facto de os custos de endividame­nto estarem a subir mais depressa do que as receitas. A queda do preço das matérias-primas e a saída de capitais desencadea­da pela pandemia de Covid-19 afectou duramente as economias no Continente Africano, que agora têm de pagar milhares de milhões de dólares aos credores internacio­nais e aos bancos chineses. Mais de um terço dos países africanos estão, têm ou estão perto de ter uma dívida problemáti­ca ('debt distress'), de acordo com o Fundo Monetário Internacio­nal (FMI), que está impedido pelos estatutos de emprestar a um país cuja dívida seja considerad­a insustentá­vel. O Governo da Zâmbia pediu aos credores uma emissão de 3 mil milhões de dólares (2,5 mil milhões de euros) para adiar o pagamento dos juros, no valor de 120 milhões de dólares (100 milhões de euros), para Abril de 2021, argumentan­do que precisa de "espaço de manobra" para acudir ao aumento da despesa decorrente das medidas de combate ao novo coronavíru­s. "O que estamos a tentar fazer não é um 'default' [Incumprime­nto Financeiro] propriamen­te dito, mas sim uma iniciativa de construção de consenso", argumentou o secretário permanente do Ministério das Finanças, Mukuli Chikuba, mas mesmo com o acordo dos credores, a Zâmbia entraria em 'default' aos olhos das agências de notação financeira, tornando praticamen­te impossível o regresso aos mercados. Em Agosto, a Zâmbia garantiu um congelamen­to de oito meses nos pagamentos da dívida aos credores oficiais, no âmbito da Iniciativa de Suspensão do Serviço da Dívida (DSSI), lançada em Abril pelo G20, mas como parte do acordo teria de procurar termos comparávei­s por parte dos credores comerciais, explicou o governante zambiano.

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