Obras de Mukenga e Zau exibidas em Portugal
A trilogia musical “Canto Terceiro da Sereia, o Encanto”, de Filipe Mukenga, e o livro “Marítimos”, de Filipe Zau, são apresentados amanhã, às 15h30, no auditório da União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa (UCCLA), em Lisboa, Portugal.
Devido as restrições da pandemia, o acto de lançamento não conta com a presença dos autores, que vão acompanhar a actividade à distância, a partir de Luanda.
O cantor e compositor Filipe Mukenga disse, ontem, ao Jornal de Angola, que tanto a trilogia como o livro são projectos de anos, guardados devido a falta de patrocinadores e, por isso, tiveram de ser desenvolvidos em várias etapas, a última das quais de 2014 a 2020. “A falta de apoios aos projectos culturais tem sido um dos problemas que os criadores nacionais enfrentam”, lamentou.
A trilogia é um “retrato musicalizado” dos primeiros registos musicais da América Latina transportados para o país, por alguns sócios do então Clube Marítimo Africano, que traziam as novidades da época, como de Luís Kalaffe e Célia Cruz.
“A primeira parte deste projecto levou 14 anos, a segunda 16, enquanto a última foi feita de 2014 a 2019. Adiamos por todos estes anos, porque ainda falta sensibilidade aos empresários para apoiar projectos culturais”, revelou.
“Canto da Sereia, o Encanto”
O projecto, que é parte de uma trilogia musical, iniciada nos anos 1990, inspirada na “Kianda”, figura mitológica dos pescadores da Ilha de Luanda, “é uma ópera de jazz”, de Filipe Zau e Filipe Mukenga, “com quatro actos/ciclos que têm como pano de fundo as memórias de um tripulante em navios da antiga marinha mercante e um irmão, condutor de uma máquina a vapor na antiga linha férrea do Amboim”.
A razão do reencontro entre os dois irmãos, após um afastamento forçado, deveu-se ao facto de o café produzido no interior da província do CuanzaSul ser, na década de 1950, transportado pelo corredor Gabela-Porto Amboim e depois posto nos grandes armazéns do litoral, para ser exportado ao em navios cargueiros.
“Marítimos”
O livro “Marítimos” é a narração de uma peça artística sobre a história dos africanos em Portugal, em especial marinheiros e a participação deles “na ruptura com o Império no século XX”. O lançamento, feito especialmente para saudar o 45º aniversário da República de Angola e o 66º aniversário do Clube Marítimo Africano, começa com uma extensa selecção das fichas dos sócios, que fazem parte do Clube Marítimo Africano, do Arquivo Lúcio Lara, na qual estão incluídas duas grandes referências históricas do nacionalismo africano: Agostinho Neto e Amílcar Cabral.
Os autores
Natural de Luanda, Filipe Mukenga, pseudónimo de Francisco Filipe da Conceição Gumbe, fortemente influenciado pelos Beatles, iniciou a carreira musical no decorrer da década de 1960. Com 57 anos de actividade musical, tem gravados cinco discos: “Novo Som” (1991), “Kianda ki Anda” (1994), “Mimbu Iami” (2003), “Nós Somos Nós” (2010) e “O Meu Lado Gumbe” (2013).
Filipe Mukenga é co-autor, com Filipe Zau, das operetas “Canto da Sereia - O Encanto” (1996), “Canto Segundo da Sereia - O Encanto” (2O12) e “Canto Terceiro da Sereia”, a ser lançado amanhã.
O músico já gravou com artistas consagrados, como Djavan, Maurício Mattar, Rui Veloso, Té Macedo e Estevão Djipson. Autor de canções que, inspiradas nos ritmos angolanos, fogem ao tradicional espírito da música africana, e criador de uma Nova Música de Angola (NMA), com forte teor internacional, aberta ao mundo, em vários estilos e tendências, na qual sobressaem as influências da música popular urbana, rock e jazz.
Investigador em ciências da educação, professor, autor e compositor, Filipe Zau actuou com vários grupos, entre eles o Duo Ouro Negro e na banda “Alerta Está”, que dava concertos em quartéis.
Em 1990 foi adido cultural da Embaixada de Angola, em Lisboa. Seis anos depois, gravou a opereta “O Canto da Sereia: o Encanto”, em homenagem ao pai, com Filipe Mukenga. No mesmo ano lançou o disco “Luanda Lua e Mulher”.