Jornal de Angola

O desabafo de Joana Lina

- Luciano Rocha

em Luanda desabafou, recentemen­te, em público, ao referir-se aos problemas da província que “está a ser muito difícil” resolvê-los, mas, como lhe compete, prometeu empenho para irem deixando de ser.

Joana Lina, que falava numa iniciativa promovida pelo MPLA, do qual é militante, dirigia-se maioritari­amente, como é óbvio, a correligio­nários, mas o desabafo é, de certeza, reflexo do que ouve como governador­a provincial da parte de alguns dos que mais sofrem as consequênc­ias da postura dos que lhes antecedera­m nos cargos que agora exerce.

O desabafo - sem lamúrias - de Joana Lina não tinha razão de ser se Luanda tivesse tido a atenção que merecia e não teve ao longo dos últimos tempos. Na melhor das hipóteses, ignoraram-na, deixaram-na “ao deus dará”, permitindo que pequenas feridas passassem a enormes chagas que mais sobressaem nesta fase, na qual o combate à Covd-19 requer armas que ela já teve e não tem.

As árvores que lhe tem sido tiradas , as que sobram e não são tratadas, as lagoas da chuva que se repetem anos após ano, as lixeiras a céu aberto, os contentore­s de lixo sem tampas, num convite a cães e gatos vadios, ratos e baratas, aos que neles procuram latas e plásticos como ganha-pão, pior, àqueles que os vasculham para encontrar algo para matarem a fome. Estes são apenas alguns dos cenários de Luanda nos quais nascem doenças, como a Covi-19 e o paludismo. E as chuvas, cumprindo um ciclo normal, não tardam.

O luandense comum entende o desabafo de Joana Lina, mas espera que, apesar de ser “muito difícil” solucionar problemas amontoados ao longo de décadas, consiga, para já, atenuá-los para que o legado a deixar a quem lhe suceder não seja tão mau como aquele que recebeu.

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