Herói do “Hotel Rwanda” nega crimes de terrorismo
Paul Rusesabagina, o “herói” do filme 'Hotel Rwanda' que salvou mais de 1.200 pessoas no genocídio de 1994, admitiu, ontem, perante um tribunal, em Kigali, ter formado um grupo armado, mas negou ter participado nos crimes, segundo a imprensa do país.
“Formámos a FLN (Frente Nacional de Libertação) como uma ala armada, não como um grupo terrorista, como a acusação continua a afirmar. Não nego que a FLN tenha cometido crimes, mas o meu papel foi a diplomacia”, disse Rusesabagina ao tribunal, citado pelo jornal “The Daily Telegraph”.
O antigo agente tinha sido detido no mês passado, no Dubai, sob acusações de terrorismo, antes de ser extraditado para o Ruanda.
A juíza Dorothy Yankurije, do Tribunal de Kicukiro, em Kigali, ordenou, recentemente, que Paul Rusesabagina fosse detido provisoriamente durante vários dias para “assegurar que não sabotava as investigações em curso”.
Dada a gravidade do caso, Dorothy Yankurije salientou que “existem motivos razoáveis para o manter sob custódia”, em prisão preventiva.
O acusado tinha pedido fiança por estar doente e prometeu não fugir, embora o juiz tenha assegurado que a prisão não o impedia de receber tratamento médico. Paul Rusesabagina, 66 anos, é um forte crítico do Presidente ruandês, Paul Kagamé.
O Ministério Público acusa-o, entre outros, de ter dado dinheiro às milícias das Forças de Libertação Nacional (FLN), a ala armada do Movimento Ruandês para a Mudança Democrática (MRCD), o partido que lidera.
A FLN tem sido responsável por ataques no Ruanda desde 2018.
No filme “Hotel Ruanda”, Paul Rusesabagina é apresentado como um hutu casado com uma mulher tutsi que salvou mais de 1.200 pessoas em 1994 no Hotel des Mille Collines, em Kigali, do qual foi director, usando a influência junto das milícias hutu.
Cerca de 8 mil tutsis e hutus moderados foram mortos diariamente entre Abril e Junho de 1994 no Ruanda por membros da etnia hutu.