Vontade férrea faz jovem tirar dois cursos superiores
No Sambizanga nasceu e cresceu ultrapassando dificuldades financeiras que algumas vezes o fizeram vacilar mas seguiu em frente é professor e licenciou-se em dois cursos superiores
Cláudio Fernandes Nascimento Gonçalves nasceu em Luanda, no antigo município do Sambizanga, Rua 12 de Julho, numa casa de pau a pique, filho de Manuel Fernandes Gonçalves, natural do Uíge, e de Madalena do Nascimento, natural de Luanda.
Cláudio Fernandes Nascimento Gonçalves começou os seus estudos no Sambizanga, na Explicação do Professor Nelito. Em 1996 a família muda-se para Cacuaco, comuna do Kikolo, bairro Compão.
Foi no Compão que Cláudio Fernandes Nascimento Gonçalves iniciou a sua vida. Prosseguiu com o ensino primário na escola São João “Etumbuluco”. Depois daí, foi estudar no antigo colégio Benfica, que naquela altura era uma referência. Estudou aí até à 6ª classe.
“Foi muito difícil enfrentar as dificuldades. Foi difícil, porque o meu pai era o único que trabalhava e tinha de pagar as propinas de 4 filhos. “O director do colégio Benfica, Isaac Casoma, de feliz memória, chamou a minha mãe e disse: “Mãe, como os filhos todos estudam aqui, então paga simplesmente propina dos mais velhos”. Desta forma minimizou os gastos da família.
A mãe de Cláudio Fernandes Nascimento Gonçalves vendia na rua para ajudar o pai a cobrir as despesas. A irmã mais velha vendia na “pracinha” e, “como já conhecia os truques para chamar clientes, eu ficava a vender na ausência dela”.
Quando terminou a sexta classe, no meio de enormes dificuldades financeiras, Cláudio Fernandes Nascimento Gonçalves foi estudar no colégio Santa Teresa de Calcutá. Este colégio ficava no mesmo bairro. “Vontade de estudar noutros colégios não faltou, porém não tinha como, o dinheiro não chegava.” Daí a razão de não estudar longe de casa, ou seja, falar em dinheiro para candongueiro era quase “asneira”. A mãe aumentou o esforço na venda para ajudar o pai e Cláudio Fernandes Nascimento Gonçalves ajudava a mãe a vender. Quando terminou o ensino de base, Cláudio Fernandes Nascimento Gonçalves foi fazer inscrição em quase todos os institutos médios de Luanda, mas infelizmente em nenhum deles o nome saiu.
Cláudio Fernandes Nascimento Gonçalves foi ao IMNE Maristas, mas infelizmente já tinham encerrado as inscrições. “Os pais ficaram muito tristes. Mas apareceu um amigo a informar que havia um instituto ainda a receber candidatos. Fiz a inscrição, o nome saiu e comecei à estudar. Na altura, pagava-se a mensalidade de 25 dólares. A minha mãe tinha de ir ao mercado informal comprar dólares para pagar a mensalidade.”
Juntar os 25 dólares era um exercício muito duro, recorda Cláudio Fernandes Nascimento Gonçalves. O pai trabalhava sem folgas, a irmã mais velha sempre a vender na “pracinha”. O Reverendo José Troco Nunca, professor de História, incentiva-o a estudar, fazendo eco dos apelos da avó Vitória Janota.
Cláudio Fernandes Nascimento Gonçalves estuda o ensino médio e é convidado a leccionar, auferindo por mês 4 mil kwanzas. E assim já conseguia ajudar os pais. “Dava explicações em casa para ter uns trocos e comprar roupas para os meus irmãos.” Quando terminou o ensino médio, Cláudio Fernandes Nascimento Gonçalves fez a inscrição na Faculdade de Direito, Letras e Ciências Sociais e Instituto Superior de Ciências da Educação (ISCED). Por conselho do professor Nunda fez História na Faculdade de Ciências Sociais. “O nosso pólo era no
Futungo e por isso tinha de sair de casa todos os dias às 4h30. A minha mãe todos os dias acompanhava-me até à paragem e só ia embora quando o autocarro arrancava, quase sempre eu ia sem comer e com sono, mas a vontade de estudar era muita...”
O regresso a casa era outra dificuldade, Cláudio Fernandes Nascimento Gonçalves dormia no transporte depois de comer pão duro demolhado em água.
Nesta história, conta Cláudio Fernandes Nascimento Gonçalves, há outro herói, o colega e amigo Paulo Sérgio, que também lutou e ultrapassou dificuldades extremas. Cláudio Fernandes Nascimento Gonçalves começa então a dar aulas na escola católica São João Paulo II. “Nesta instituição fiz-me um verdadeiro profissional, terminei a Faculdade de Ciências Sociais e defendi a licenciatura.”
Em 2012 apaixona-se pela jovem Vânia, que o incentiva a estudar Direito na Universidade Católica de Angola. Estudava de noite, a mãe esperava sempre na paragem e o pai fazia companhia enquanto jantava. Terminou a Faculdade de Direito no período programado, cinco anos, colega da sua própria esposa. Hoje é professor e jurista. Licenciado em História pela Faculdade de Ciências Sociais e em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade Católica de Angola.